SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Supostos planos para matar o presidente eleito da Guatemala, o progressista Bernardo Arévalo, vieram a público nesta quinta-feira (24), quatro dias após o político vencer nas urnas a sua adversária, Sandra Torres, com uma vantagem de 21 pontos percentuais.

As ameaças foram divulgadas após a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) pedir às autoridades do país medidas de proteção para o político e a futura vice-presidente, Karin Herrera, por considerar que ambos estão em "situação grave e urgente de risco". Em comunicado, o governo afirmou que as instituições responsáveis se reuniram e concordaram em aumentar os dispositivos de segurança dos eleitos de acordo com as necessidades detectadas e as recomendações da comissão.

Embora tenham sido revelados nesta quinta, os planos remontam pelo menos a 15 de agosto, de acordo com a resolução da CIDH --cinco dias antes do segundo turno. Nessa data, três fontes do Estado informaram a equipe de segurança de Arévalo sobre um plano para matá-lo, "com participação de agentes estatais e indivíduos particulares", chamado Colosio -uma referência ao candidato à Presidência mexicano de mesmo nome que foi assassinado durante as eleições de 1994.

No último domingo (20), um novo aviso foi feito aos futuros líderes por quatro membros do Ministério Público. Durante uma entrevista coletiva que Arévalo dava em um hotel na Cidade da Guatemala após a vitória, os procuradores pediram uma reunião com o político e o avisaram de uma suposta ameaça de grupos criminosos. A CIDH pediu para ser informada sobre que medidas estão sendo tomadas para investigar tais alegações.

As ameaças parecem ter impedido Arévalo de fazer grandes comemorações públicas. Após a vitória, centenas de simpatizantes se reuniram na Praça do Obelisco, na capital, mas o presidente eleito não apareceu no local e disse que marcaria uma celebração posteriormente. Um evento agendado para a última terça-feira (22), porém, também foi cancelado horas antes do seu início. "Logo voltaremos a nos encontrar para celebrar essa vitória para Guatemala", afirmou ele ao anunciar a suspensão.

Os políticos alegam à comissão que precisaram recorrer à segurança privada e pediram um reforço no esquema de segurança por parte do Estado. Em entrevista à rádio local La Red nesta sexta-feira (25), Arévalo afirmou que o esquema de segurança melhorou desde o segundo turno.

Em nota, o governo afirmou que se pronunciou à CIDH ao longo desse período e colocou à disposição "todas as medidas de proteção necessárias". O comunicado pediu, porém, "prudência" à organização. "É necessário que a comissão se pronuncie sempre de maneira objetiva e mantenha a imparcialidade por causa das consequências que declarações infundadas podem gerar", declarou o governo.

O episódio é mais um obstáculo de Arévalo em sua corrida à Presidência. Após contrariar as projeções que o colocavam em quinto lugar nas pesquisas de intenção de voto, o político conseguiu uma vaga no segundo turno e venceu Torres, em uma derrota para a elite política e empresarial do país, que apostava na ex-primeira-dama. Sua vitória é considerada um entrave à derrocada democrática a que o país assiste nos últimos anos.

Filho do primeiro presidente eleito em eleições transparentes na Guatemala, na década de 1940, Arévalo promete uma nova "Primavera Democrática" para o país, como ficou conhecido o período de dez anos que seu pai inaugurou. Os últimos acontecimentos, porém, são uma amostra das dificuldades que enfrentará para governar caso tome posse -quase uma semana após os resultados, ainda pairam dúvidas sobre uma eventual ruptura democrática.

Nesta sexta (25), a UNE (Unidade Nacional da Esperança), partido de Torres, denunciou ao Tribunal Supremo Eleitoral guatemalteco uma suposta fraude eleitoral por duplicidade de atas --o advogado da sigla não afirmou à imprensa se apresentou provas à corte.

De acordo com a porta-voz das Nações Unidas, o secretário-geral da organização está preocupado com "relatos de tentativas de minar os resultados eleitorais por meio de ações legais contra membros do Tribunal Eleitoral, juntas eleitorais e partidos políticos".


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