BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) - As pesquisas boca de urna indicavam uma vitória apertada do liberal Eslováquia Progressista (PS), mas foi o Smer, do ex-premiê Robert Fico, crítico do apoio do país à Ucrânia, quem venceu a eleição neste sábado (30), sinalizando o que pode ser uma grande derrota para o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
Fico fez sua campanha contrário ao apoio de Bratislava a Kiev e prometeu interromper a ajuda ao vizinho no esforço contra a invasão russa, a começar pelo envio de novas armas --a Eslováquia repassou cerca de 1,3% de seu Produto Interno Bruto em auxílio militar e econômico à Ucrânia.
Com 99% dos votos totais apurados, o nacionalista Smer marca 23,34% e precisará formar um governo de coalizão, já que não terá a maioria das 150 cadeiras do parlamento do país, unicameral.
A disputa pelo segundo mais votado na eleição revela que Fico possivelmente cumprirá suas promessas com relação a Kiev, se para isso depender apenas da política local.
Se o PS figurava entre o possível vencedor nas pesquisas boca de urna, no cômputo final o partido de ideologia liberal e favorável ao apoio à Ucrânia registrou cerca de 17% e esteve em terceiro lugar até o momento em que cerca de 88% das cédulas tinham sido contadas. Até essa reta final da disputa, ficou na vice-liderança o Hlas, partido dissidente do Smer que terminou em terceiro lugar e pode integrar a coalizão de Fico.
Poderiam eventualmente participar do governo outras legendas nacionalistas, como o Partido Nacional Eslovaco (SNS) e o Republika, ambos de ultradireita, contrários à União Europeia e a Otan e favoráveis a políticas pró-Rússia, mas apenas o SNS chegou até os 99% de apuração dos votos com percentual levemente acima do limite mínimo de 5% para ingressar no parlamento. O líder do SNS, Andrej Danko, afirmou após os resultados que já "se sente parte" da nova coligação.
De todo modo, uma coalizão nacionalista com tintas da ultradireita reforça as promessas de Fico, o que faria de Bratislava a primeira integrante da Otan (a aliança militar ocidental) e da União Europeia a retirar o apoio a Kiev e encerrar o cumprimento de sanções à Rússia impostas por integrantes dos blocos.
Essa possível mudança nos rumos da política externa eslovaca pode se transformar no início de um ponto de inflexão no quintal do presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, cujo apoio é ameaçado também pela Hungria de Viktor Orbán, aliado do russo Vladimir Putin e crítico das sanções a Moscou.
A maior sombra sobre Kiev, contudo, vem de outro vizinho e, até pouco tempo atrás, vocal apoiador do esforço militar ucraniano contra a Rússia. Neste mês, a Polônia voltou atrás em sua decisão de enviar ajuda militar à Ucrânia, com o objetivo de aumentar seu próprio armamento, segundo afirmou o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki. Varsóvia é a sexta maior fornecedora de apoio bélico ao vizinho invadido, segundo o Instituto para Economia Mundial de Kiel (Alemanha).
A decisão reforça a fadiga entre aliados ocidentais em relação ao conflito, mas reflete em larga medida a aproximação das eleições em meados de outubro no país, cujo partido PiS (Lei e Justiça, na sigla polonesa), tem enfrentado pressões ainda mais à direita, inclusive de siglas extremistas, em meio a sentimentos nacionalistas que encontram eco nas críticas à guerra.
Pesa na balança o plano anunciado pelo presidente Andrzej Duda e por Morawiecki de dotar a nação com o Exército terrestre mais poderosos da Europa continental até 2026, além de quase 1 milhão de refugiados ucranianos na Polônia e o embargo do país aos grâos do vizinho, vistos internamente como ameaça aos produtores locais.
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