BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) - O presidente da Bolívia, Luis Arce, foi expulso de seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo), legenda com o qual venceu as eleições de 2020. A expulsão acontece em meio a disputa com seu antigo aliado e hoje adversário, o ex-presidente Evo Morales, que anunciou no último dia 24 sua intenção de concorrer à Presidência do país novamente.

O afastamento, no entanto, foi decidido por aliados de Morales em um congresso boicotado por Arce e seus apoiadores --que farão encontro semelhante daqui a duas semanas. Caberá, enfim, ao Tribunal Supremo Eleitoral definir qual dos dois encontros e eventuais candidaturas definidas serão oficiais da legenda.

A expulsão do atual presidente se dá porque ele se recusou a participar do congresso, realizado nesta semana no departamento de Cochabamba. Segundo a resolução aprovada por aliados de Morales, Arce se "auto-expulsou" ao faltar ao encontro --que deve proclamar o ex-presidente como candidato do partido às eleições do país em 2025 até esta quinta-feira (5).

Outros 28 militantes leais a Arce também foram expulsos, entre eles integrantes da Assembleia Plurinacional (o Legislativo do país) e funcionários do governo.

Durante o congresso, o MAS também modificou seus estatutos para que apenas militantes com 10 anos de partido possam se candidatar --Arce não cumpre tal exigência. As mudanças ainda precisam ser validadas pela Justiça eleitoral.

Morales governou a Bolívia entre 2006 e 2019 e disputa com Arce a liderança do partido. A rivalidade que quebrou a unidade do MAS se acentuou no último ano, após críticas e acusações do ex-presidente ao governo por supostas traição, corrupção e tolerância com o narcotráfico.

Depois de uma tentativa frustrada de se reeleger em 2019 após 14 anos de mandato, Morales impulsionou a chegada ao poder de Arce, que ainda não anunciou se tentará a reeleição.

O atual presidente se afastou do congresso do partido alegando que as organizações sociais não estavam representadas ali. "Não podemos ir a uma casa onde não estarão seus verdadeiros donos, as organizações sociais", apontou o chefe do Executivo boliviano, que também foi ministro da Economia de Morales.

Sem a origem indígena ou o carisma de seu mentor, Arce conseguiu fortalecer sua liderança entre as bases sociais e sindicais por meio da concessão de incentivos. Atualmente, sua reprovação chega a 50%, segundo pesquisa da empresa privada Diagnosis.

Nos círculos do partido, é tido como certo que Arce tentará a reeleição, dada a oposição enfraquecida e a rejeição que Morales desperta em setores econômicos.

O anúncio da candidatura de Morales e os movimentos de seus aliados no MAS antecipam e atropelam a disputa pela indicação do partido à disputa pela Presidência --foi o próprio ex-presidente, durante seu último mandado, que instituiu o instrumento de eleições primárias.

Há discussões também sobre a viabilidade da candidatura de Morales. A Constituição diz que o mandato presidencial é de cinco anos e que pode haver reeleição uma só vez de forma contínua. O ministro da Justiça, Iván Lima, assinalou na ocasião do anúncio de Morales que o Tribunal Constitucional deve decidir se apenas pode haver uma única reeleição ou, como interpreta o ex-presidente, se é permitido a um ex-chefe de Estado uma nova candidatura após o transcurso de apenas um mandato presidencial.

Em 2019, Morales buscou um novo mandato e chegou a ficar em primeiro lugar nas eleições presidenciais, mas o resultado não foi reconhecido pela oposição e ele se exilou no México. Quem assumiu o poder interinamente à época foi Jeanine Añez, que dois anos mais tarde foi presa e condenada a dez anos de prisão sob a acusação de organizar um golpe de Estado contra Morales.


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