SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Israel anunciou nesta segunda-feira (9) um cerco total à Faixa de Gaza e disse ter retomado o controle de comunidades no sul do país que haviam sido invadidas pelo movimento palestino do Hamas no último sábado (7), durante o maior ataque da região em décadas.
"Agora estamos realizando buscas em todas as comunidades e limpando a área", disse o contra-almirante Daniel Hagari em um comunicado na televisão. Confrontos isolados, porém, continuam, e ainda pode haver homens armados nos locais, disse o porta-voz militar.
Anteriormente, outro porta-voz, o tenente-coronel Richard Hecht, reconheceu que Israel estava levando mais tempo do que o esperado para voltar a uma postura defensiva e que ainda havia "sete ou oito" lugares onde aconteciam combates.
Israel realizou mais de 500 ataques aéreos e de artilharia durante a noite, em uma mostra do violento conflito que deve se estender pelos próximos dias. Desde sábado, mais de 1.100 pessoas morreram ?700 em solo israelita e mais de 436 na Faixa de Gaza. Há ainda cerca de 100 pessoas capturadas por combatentes do Hamas e da Jihad Islâmica, entre militares e civis.
O pano de fundo das hostilidades é a degradação da relação entre Israel e Palestina nos últimos meses. A Cisjordânia voltou a entrar numa espiral de violência no início do ano, com incursões israelenses promovidas por parte da coalizão de ultradireita que sustenta o governo de Binyamin Netanyahu e agressões por parte de militantes palestinos. Antes de a guerra estourar, pelo menos 243 palestinos e 32 israelenses morreram desde o início do ano em eventos relacionados ao conflito, de acordo com uma contagem da agência de notícias AFP.
O ataque foi condenado por diversos países ocidentais, e a União Europeia convocou uma reunião de emergência de ministros dos Negócios Estrangeiros para terça-feira (10). Os Estados Unidos, aliados históricos de Israel, começaram a enviar ajuda militar no domingo (8) e a direcionar porta-aviões para o Mediterrâneo.
Já a China condenou qualquer ação que prejudique civis e pediu um cessar-fogo, posicionamento parecido com o da Rússia e o da Liga Árabe, que rejeita a violência "de ambos os lados". O Irã, que mantém relações estreitas com o Hamas e foi um dos primeiros países a aplaudir a ofensiva do grupo islâmico, rejeitou acusações de que teve papel na operação.
Vários cidadãos de outros países, alguns também com nacionalidade israelita, morreram na ofensiva. Entre eles, 12 tailandeses, dez nepaleses e quatro americanos. Há também pelo menos três brasileiros desaparecidos e um hospitalizado, segundo o governo de Israel.
A situação parece estar longe de ser apaziguada. Também nesta segunda, o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, ordenou um "cerco total" à Faixa de Gaza. "Nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás. Tudo bloqueado", disse Gallant em um vídeo, referindo-se a esse território palestino habitado por 2,3 milhões de pessoas. "Estamos lutando contra animais humanos e agindo de acordo", continuou o ministro do premiê Binyamin Netanyahu, cujo governo é o mais à direita da história do país.
Até agora, mais de 123 mil pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas no território, informou nesta segunda-feira (9) a agência de coordenação de ajuda humanitária da ONU (Ocha, na sigla em inglês). Israel, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, anexou Jerusalém Oriental e impôs um bloqueio a Gaza desde que o grupo extremista palestino Hamas tomou o poder do enclave, em 2007.
No sábado, cerca de mil combatentes do Hamas lançaram aproximadamente 5.000 foguetes e entraram por terra, mar e ar em Israel. Netanyahu declarou guerra horas depois e disse que a facção pagará "um preço sem precedentes"
Após o ataque, Israel convocou um número recorde de 300 mil reservistas, disse um porta-voz militar nesta segunda. O número sugere preparativos para uma possível invasão, embora tais planos não tenham sido oficialmente confirmados. "Nunca recrutamos tantos reservistas em tal escala", disse Hagari. "Vamos para a ofensiva."
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