SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A jovem curda Mahsa Amini, que morreu aos 22 anos sob custódia da polícia do Irã, venceu o Sakharov de 2023, prêmio em defesa dos direitos humanos dado pelo Parlamento Europeu. "Apoiamos com orgulho os corajosos e desafiadores que continuam a lutar por igualdade, dignidade e liberdade no Irã", disse Roberta Metsola, presidente do órgão legislativo, em nota divulgada nesta quinta-feira (19).
A morte de Amini, em setembro do ano passado, foi o estopim para uma das maiores ondas de protestos no Irã nas últimas décadas. Os atos desafiaram o regime presidido por Ebrahim Raisi e liderado pelo aiatolá Ali Khamenei, que respondeu com repressão.
Ela morreu três dias depois de ser presa em Teerã por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da forma correta. Enquanto agentes da polícia moral, responsável por aplicar os códigos de conduta religiosos do regime, dizem que ela sofreu um ataque cardíaco após a detenção, sua família alega que ela foi agredida.
Alimentaram a tensão no país a pressão internacional para que sua morte fosse investigada e o desalento da população com a crise econômica. Na época, imagens de iranianas tirando seus véus e cortando seus cabelos como forma de protesto ganharam o mundo.
Segundo ativistas, os atos fizeram as autoridades suspenderem a detenção de mulheres que não se vestiam de acordo com as normas ?controle que foi retomado alguns meses depois.
Mais de 500 pessoas, incluindo 71 menores de idade, foram mortas nas manifestações, segundo grupos de defesa dos direitos humanos. O Irã, cujo código penal prevê pena de morte, realizou sete execuções ligadas aos atos e prendeu milhares de pessoas.
O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é oferecido pelo Parlamento Europeu desde 1988 a indivíduos ou organizações defensoras de direitos humanos e de liberdades fundamentais. Nesta edição, foram finalistas, além de Amini, a advogada Vilma Núñez e o bispo Rolando Álvarez, que se opõem à ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua, e mulheres que lutam pelo direito ao aborto na Polônia, em El Salvador e nos Estados Unidos.
Os vencedores recebem ? 50 mil (R$ 266 mil). O nome da honraria celebra o físico nuclear Andrei Sakharov, condenado ao exílio interno na década de 1980 após criticar a invasão soviética do Afeganistão. Edições anteriores homenagearam o sul-africano Nelson Mandela, a oposição ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela e a ativista paquistanesa Malala Yousafzai.
Este é o segundo grande prêmio que vai para uma iraniana em menos de um mês. No começo de outubro, o Prêmio Nobel da Paz de 2023 foi para a ativista iraniana dos direitos humanos Narges Mohammadi, 51, presa em Teerã sob a acusação de "espalhar propaganda contra o Estado".
Mohammadi é perseguida há 30 anos pelo regime iraniano por seu ativismo, iniciado quando ela ingressou na universidade, e por artigos escritos em favor dos direitos das mulheres no país. A ativista foi presa 13 vezes pelas forças estatais e condenada cinco vezes a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas, de acordo com Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê da premiação.
A prisão mais recente ocorreu em 2021, enquanto ela participava de cerimônia pela memória de uma pessoa morta durante protestos contra o regime islâmico ocorridos em 2019. Ela cumpre pena de dez anos e nove meses de reclusão.
No ano passado, o Sakharov foi para a população ucraniana. A escolha na época foi pouco surpreendente por reforçar a aliança entre a União Europeia e Kiev selada no início da invasão russa. Dias antes, o Nobel da Paz havia premiado ONGs da Rússia e da Ucrânia que se opõem ao presidente Vladimir Putin e o ativista Ales Bialiatski, preso pela ditadura da Belarus, aliada de Moscou.
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