SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Palestinos que haviam se deslocado do norte para o sul da Faixa de Gaza após um ultimato de Israel para esvaziar a área começam a retornar para suas casas, mesmo sob risco de ataques. A informação é de um relatório da ONU sobre a situação dos deslocados pelo conflito iniciado no dia 7, após os ataques terroristas do Hamas em solo israelense.

Segundo o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, os bombardeios que as forças israelenses têm feito no sul ?nesta quinta (19), em Khan Yunis, ao menos quatro pessoas morreram? e as condições precárias de acomodação para os que saíram de suas casas estão entre os motivos para os palestinos decidirem se arriscar e voltar ao norte.

Entre os que continuam nas cidades setentrionais, na área sob ordem de esvaziamento de Tel Aviv, há ainda o temor de que nunca sejam autorizados a retornar, em caso de uma possível invasão terrestre de Israel.

Desde o início da guerra, de acordo com a ONU, o número de deslocados em Gaza é de aproximadamente 1 milhão. Desse total, mais da metade (527 mil) está nas 147 estruturas emergenciais de abrigo montadas pelas Nações Unidas, a maioria delas na região central ou no sul de Gaza. Superlotadas, essas instalações de acolhimento sofrem com a escassez de água, comida e medicamentos.

Segundo a ONU, na maioria dos abrigos há racionamento de água potável, com fornecimento de no máximo um litro diário por pessoa ?o padrão internacional mínimo é de 15 litros diários por pessoa. Ao menos três estações de abastecimento, um reservatório e uma usina de dessalinização de água foram atingidos total ou parcialmente pelos ataques, afetando a distribuição para mais de 1,1 milhão de pessoas (metade da população total de Gaza).

Em condições precárias, os palestinos no sul e no norte continuam sem acesso à ajuda humanitária. A passagem de Rafah, na fronteira com o Egito, continuava fechada até a manhã desta sexta (horário de Brasília). Cerca de 200 caminhões, com aproximadamente 3.000 toneladas de mantimentos, aguardavam do lado egípcio a formalização de um acordo para entrar na Faixa de Gaza.

Os caminhões só devem ser liberados neste sábado (21) ou depois, segundo a ONU. A informação foi transmitida pelo subsecretário-geral das Nações Unidas para assuntos humanitários, Martin Griffiths. Antes, o canal de TV AlQahera News, próximo dos serviços de inteligência egípcios, havia divulgado que a passagem seria aberta nesta sexta.

"Nós estamos em negociações profundas e avançadas com todas as partes relevantes para garantir que uma operação de ajuda em Gaza comece o mais rápido possível. [...] A primeira entrega deve começar amanhã ou depois", disse Griffiths, em Genebra.

Nos últimos dias, diversos caminhões com suprimentos se dirigiram ao cruzamento de Rafah ?único ponto de acesso ao território palestino fora do controle direto de Israel. Somente nesta quarta (18), porém, Israel afirmou que não impediria a entrada de ajuda humanitária.

Israel não tem presença militar ou aduaneira no local desde que desocupou a Faixa de Gaza, em 2005, mas controla, na prática, quem entra e quem sai pela passagem. Um acordo, costurado pelos Estados Unidos e pela União Europeia, entre Tel Aviv, o Cairo e a Autoridade Palestina em novembro daquele ano lançou as bases para o funcionamento da fronteira.

A passagem não havia sido oficialmente fechada, mas tornou-se inoperante devido aos ataques aéreos israelenses no lado de Gaza. De acordo com o chanceler egípcio, Sameh Shoukry, o posto de controle precisa de reparos para entrar em funcionamento pleno devido a danos causados pela ofensiva.

Nesta quinta-feira (19), duas fontes de segurança disseram à agência de notícias Reuters que o Egito estava enviando maquinários para o sul da Faixa de Gaza para restaurar estradas.

Antonio Guterres, o secretário-geral da ONU, chegou nesta sexta à passagem de Rafah. Na véspera, ele pediu com ênfase um cessar-fogo humanitário imediato. "Gaza precisa de ajuda em grande escala e numa base sustentada", disse.


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