SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A crise econômica não é o único desafio que aguarda o próximo chefe da Casa Rosada. Seja ele Sergio Massa ou Javier Milei, outro dilema já colocado na mesa são os arranjos a serem feitos para conseguir aprovar a agenda governista no Congresso Nacional, que se fragmentou ainda mais após as eleições deste domingo (22).

Na ocasião, foram eleitos 130 dos 257 deputados e 24 dos 72 senadores. E quem obteve o melhor saldo foi A Liberdade Avança, coalizão de do ultraliberal Milei, segundo colocado na disputa presidencial.

O grupo conta atualmente com apenas três deputados na Câmara ?sendo Milei e sua candidata a vice, Victoria Villarruel, dois deles?, o que não lhe dá poder de barganha. Neste pleito, porém, a coalizão ganhou ao menos 34 cadeiras, chegando a 37 assentos e fortalecendo-se, ainda que siga longe de se tornar a principal força política.

Os resultados ainda podem mudar para mais ou para menos. Até a noite de segunda-feira (23), 98% dos votos já haviam sido contados. O resultado, porém, ainda deve ser validado pela Justiça local.

No Senado argentino, o grupo encabeçado pelo candidato conhecido como uma espécie de "outsider" também obteve um bom resultado: de nenhum senador, deve passar a oito. Desta maneira, também configura a terceira maior força nessa Casa legislativa.

O resultado chamou a atenção em especial porque o grupo de Milei vinha amargando fracassos nas disputas pelos governos de províncias argentinas, conduzidas de forma independente em diferentes meses.

Roberto Nolazco, analista-chefe para Argentina na consultoria Prospectiva, avalia que isso tem relação com a falta de capilaridade da Liberdade Avança, uma força ainda jovem, criada em 2021.

"Por ter apenas dois anos, a coalizão não conseguiu construir territorialidade e estrutura provincial", diz ele. "E, em muitas eleições provinciais, o que estava em jogo era a disputa entre o peronismo e o 'não peronismo'. Em grande parte unificada, a coalizão Juntos pela Mudança alcançou maior força ?diferente do que ocorreu a nível nacional, onde a oposição foi compartilhada com o grupo de Milei."

Na contramão do que ocorreu com a Liberdade Avança, o Juntos pela Mudança, grupo de oposição que em 2015 elegeu o direitista Mauricio Macri para a Casa Rosada e desta vez ficou distante do segundo turno, colheu derrotas na disputa pelo Congresso Nacional. De 118 cadeiras que tinha na Câmara, passou a 93. No Senado, foi de 33 para 24.

Mesmo assim, segue como segunda principal força das duas Casas. Segundo Nolazco, da Prospectiva, isso obrigará quem quer que vença as eleições para a Presidência em 19 de novembro a batalhar por seu apoio.

Enquanto isso, a governista União pela Pátria, do ministro Sergio Massa, manteve-se como a maior a força em ambas as Casas legislativas. O grupo está, no entanto, longe das cifras mínimas para conseguir aprovar suas agendas. Na Câmara, onde foi de 118 para 108 assentos, o chamado "quórum mínimo" é de 129 cadeiras. No Senado, onde foi de 32 para 34, esse número é de 37.

Quem quer que seja o presidente, será preciso dialogar. "A partir de agora não bastará mais negociar com blocos pequenos para chegar ao consenso, e a peça-chave está no Juntos pela Mudança que, devido à crise de identidade interna que passa, talvez possa ter alas disputáveis pela União pela Pátria ou pela Liberdade Avança".

O analista argentino pondera que a capacidade de alcançar consensos está atrelada à postura que o novo governo vier a adotar. "No marco republicano, da tolerância mútua, isso é possível. Mas hoje há muitas expressões messiânicas do bem e do mal."

A marca que Milei e seus correligionários imprimirão no Congresso depende, claro, de se o economista ultraliberal chefiará ou não a Casa Rosada. "Aqueles que se tornam oposição normalmente têm menos responsabilidade, apresentam projetos apenas para demarcar sua agenda, e muitos do grupo de Milei, como ele, são outsiders, sem experiência política prévia, diferente dos peronistas."

Os exemplos foram dados ainda na corrida eleitoral. A estilista de Milei, a influencer digital e então candidata à Câmara Lilia Lemoine, por exemplo, propôs colocar em pauta um projeto de lei para que homens possam renunciar às responsabilidades da paternidade.

"Já que mulheres têm o privilégio de poder matar seus filhos [referência ao direito Constitucional ao aborto no país], por que os homens são obrigados a sustentá-los?", disse em uma recente entrevista. Ela foi eleita deputada neste domingo.


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