SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Brasil segue fora da lista de países que podem retirar cidadãos da Faixa de Gaza para o Egito conforme acordo entre os governos israelense e egípcio, moderado pelo Qatar com coordenação dos EUA, nesta quinta-feira (2).
A relação foi passada ao embaixador do Brasil na Cisjordânia, Alessandro Candeas, nesta manhã (madrugada no Brasil). Foi autorizada a saída de pessoas do Azerbaijão, Barhein, Bélgica, Coreia do Sul, Croácia, Estados Unidos, Grécia, Holanda, Hungria, Itália, Macedônia, México, Suíça, Sri Lanka e Chade.
Os americanos são, após pressão pessoal do presidente Joe Biden, o principal grupo, com 400 dos 576 nomes autorizados. O mandatário havia postado na véspera, quando o acordo passou a valer com a saída de ao menos 320 pessoas de Gaza, que a decisão havia acontecido após sua gestão sobre as autoridades.
O Hamas, grupo terrorista palestino cujo ataque de 7 de outubro levou à retaliação israelense sobre Gaza, que comanda desde 2007, não fez parte da discussão direta sobre esses refugiados. Eles fogem das bombas de Tel Aviv, que seguiram caindo sobre todo o território com 2,3 milhões de habitantes, objeto de uma ofensiva terrestre.
"Eu acho que nós precisamos de uma pausa. Uma pausa nos dá tempo para tirar os prisioneiros", afirmou Biden na noite de quarta (1º) ao responder a um apoiador que se disse rabino num comício de pré-campanha à reeleição. Ele se referia aos 240 reféns que o Hamas tomou, segundo Israel, há quase um mês. O grupo diz que 57 deles morreram em bombardeios de Tel Aviv.
Há 34 pessoas inscritas para repatriação pelo Itamaraty que estão em Gaza, 18 delas já na cidade fronteiriça de Rafah, que liga a faixa ao Egito, e 16, a 10 km de distância, em Khan Yunis. Dessas, 24 são brasileiras e o restante, palestinos que querem imigrar.
"Todo dia é uma perspectiva. Nós somos teimosos", disse à Folha Candeas. Ele diz que a indefinição é terrível para o grupo brasileiro, que sofre com grande angústia desde que o processo de retirada começou, há quase quatro semanas.
Na quinta, os dois mais ativos membros do grupo em redes sociais se queixaram do atraso em vídeos gravados. Hasan Rabee, que está em Khan Yunis, foi mais crítico do governo brasileiro, enquanto Shahed al-Banna, em Rafah, expressou mais sua frustração e tristeza.
Segundo a reportagem ouviu no Itamaraty em Brasília, essa é uma realidade exacerbada pelo mundo integrado das redes, mas o fato é que não há certeza de quando o país conseguirá retirar seus protegidos.
Na pasta, a teoria segundo a qual Israel está deixando o Brasil em segundo plano como retaliação por sua atuação à frente do Conselho de Segurança da ONU em outubro, quando buscou resoluções que atendessem os palestinos de Gaza também, é vista mais como hipótese do que como realidade aferível.
O peso americano na região, explicitado na lista quase "100% EUA" desta quinta, é um fator mais evidente no caso, o que não deixa de causar frustração e revolta entre os diplomatas brasileiros. O chanceler Mauro Vieira falou várias vezes com seus pares no Egito, Israel e EUA sobre a questão de Gaza, e mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez o mesmo com os líderes locais.
O insucesso acaba ofuscando trunfos políticos, como a evacuação de 1.410 brasileiros de Israel e mesmo de 32 cidadãos que deixaram a Cisjordânia, sem alarde prévio, na quinta por meio de um voo da Presidência na Jordânia.
Ainda assim, a diplomacia crê que talvez haja uma boa notícia até a sexta (3), embora isso seja apenas especulativo. O Egito estima em 500 o número de pessoas que passarão diariamente pela fronteira, de um total de talvez 7.500 estrangeiros em Gaza.
Quase todos os 81 palestinos em estado mais grave devido a ferimentos nos bombardeios já foram evacuados, mas voltarão a Gaza porque o país árabe não quer um êxodo para a península do Sinai para não validar uma expulsão por Israel do território e criar mais uma crise humanitária.
Quando o grupo brasileiro passar, será recebido por uma equipe do Itamaraty do outro lado da fronteira, que o levará de ônibus para o Cairo, de onde voará para o Brasil num VC-2, versão do Embraer-190 a serviço da Presidência que já se encontra na capital egípcia.
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