SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma cidadã do Irã foi condenada a 13 anos de prisão pela Justiça do país, acusada de de crimes que incluem blasfêmia, incitação, insulto ao líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, e disseminação de propaganda contra o regime teocrático.
Mahsa Yazdani foi presa em sua casa após criticar publicamente as autoridades do país pela morte do seu filho, Mohammad Javad Zahedi, 20. Ele foi baleado à queima-roupa por forças de segurança durante durante os protestos que ocorreram após a morte de Mahsa Amini. Ela foi detida pela polícia moral do Irã por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, corretamente, e morreu enquanto estava sob custódia das autoridades.
Segundo familiares e amigos de Yazdani, ela cumprirá os primeiros cinco anos de sua pena sem possibilidade de liberdade condicional. No Instagram, sua filha, Mitra Zahedi, questionou: "O que acontecerá com meu irmão de três anos? Quem é o responsável por tanta crueldade?".
As sucessivas violações de direitos humanos por parte do regime iraniano vêm suscitando indignação no próprio país e na comunidade internacional. O Centro para os Direitos Humanos chamou a condenação de "vergonhosa". "Centenas de mães no Irã foram impedidas de procurar justiça para os seus entes queridos assassinados, enquanto elas próprias eram perseguidas por simplesmente levantarem a voz", disse a entidade.
Na semana passada, morreu Armita Geravand, adolescente iraniana que foi hospitalizada e entrou em coma após ter sido abordada pela chamada polícia moral do Irã no último dia 1º. A agência estatal reforçou a versão do regime de que o coma em que Armita se encontrava foi causado pelo impacto sofrido na cabeça quando a adolescente teria desmaiado. Familiares e testemunhas descartam essa versão e dizem que ela foi agredida durante uma abordagem da polícia moral, também por não usar o hijab.
Nesta quinta-feira (2), as autoridades penitenciárias do Irã também impediram a transferência de Narges Mohammadi, ganhadora do Nobel da Paz deste ano, ao hospital para receber atendimento médico urgente, segundo sua família. Ela sofre de problemas cardíacos e pulmonares e está detida na prisão de Evin, em Teerã, por também ter se recusado a usar o hijab, obrigatório para as mulheres em espaços públicos desde a Revolução Islâmica de 1979.
Em outubro, a ativista de 51 anos recebeu o Nobel "por sua luta contra a opressão das mulheres no Irã". Após a morte de Mahsa Amini, Mohammadi anunciou que não usaria o hijab sob nenhuma circunstância.
"Durante dois dias e duas noites, um grupo de mulheres em Evin protestou no pátio da prisão para mandar Narges Mohammadi ao hospital", diz uma publicação no perfil da ativista no Instagram.
"O diretor da prisão anunciou que, segundo ordens de autoridades superiores, era proibido levá-la ao hospital sem o véu, e sua transferência foi cancelada", acrescentou a família. Na segunda-feira, uma equipe médica examinou Mohammadi e a submeteu a um ecocardiograma depois que "a prisão se negou, inclusive, a transferir Narges para a enfermaria" sem o véu, informou o comunicado.
Um exame de imagem mostrou duas veias com grandes obstruções e pressão pulmonar elevada, razão pela qual ela precisaria passar por procedimentos de urgência. "Ela está disposta a arriscar sua vida por não usar o 'hijab forçado', inclusive para se tratar", disse a família.
Em mensagem de agradecimento ao prêmio, lida por sua filha e difundida no site oficial do Nobel, Mohammadi descreve o hijab obrigatório como "a principal fonte de dominação e repressão na sociedade, com o fim de manter e perpetuar um governo religioso autoritário".
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