SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - No mesmo dia em que recebeu o líder Xi Jinping para aliviar tensões na Guerra Fria 2.0, o presidente americano, Joe Biden, voltou a chamar o dirigente chinês de ditador. A declaração motivou novas críticas de Pequim ao democrata, apesar de ambos os líderes terem prometido mais cedo a retomada de diálogos.
"Bem, olha, ele é. Quer dizer, ele é um ditador no sentido de que aqui está um cara que dirige um país que é comunista baseado em uma forma de governo totalmente diferente da nossa", disse Biden nesta quarta-feira (15) ao ser questionado por jornalistas horas após se reunir com Xi na Califórnia.
Os líderes das duas principais potências do mundo se encontraram pela primeira vez em um ano, com direito a uma "crise dos balões" no período. Eles passaram mais de quatro horas juntos em uma propriedade de luxo em Woodside, a cerca de 40 quilômetros de San Francisco. Ao final do encontro, Biden disse que teve uma das discussões "mais produtivas e construtivas" com o dirigente chinês.
Foi a primeira reunião bilateral dos dois em solo americano desde que o democrata chegou à Presidência. O principal avanço foi a retomada do contato entre o braço militar de cada país e a reabertura para que os dois líderes voltem a falar diretamente entre si. O fechamento unilateral pela China desses canais, em meio a um aumento de interceptações de navios e aviões americanos em zonas internacionais próximas de Pequim, era uma das maiores preocupações de Washington.
Em nota sobre a reunião, a Casa Branca afirmou que Biden "reiterou que o mundo espera que EUA e China gerenciem sua competição responsavelmente para evitar que ela leve a um conflito, confronto, ou uma nova Guerra Fria".
Mas a fala de Biden, referindo-se ao chinês como ditador, voltou a ressaltar diferenças entre os países. Pequim reagiu à declaração, chamando-a de irresponsável. "Trata-se de uma manipulação política extremamente errada", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning. Ele não mencionou o presidente americano, mas disse que o país "se opõe fortemente" a comentários do tipo.
"Deve-se salientar que sempre haverá algumas pessoas com segundas intenções que tentam incitar e prejudicar as relações EUA-China; elas estão fadadas ao fracasso", acrescentou Ning.
Não é a primeira vez que Biden descreve Xi Jinping como um líder autoritário. Em junho, o democrata também se referiu ao chinês como um ditador após encontro do secretário de Estado americano, Antony Blinken, com o líder da China no Grande Salão do Povo, em Pequim.
O encontro na ocasião teve o objetivo de reaproximar os países após a crise provocada por um suposto balão espião que a Força Aérea americana abateu em seu espaço aéreo ?Pequim alegou que o equipamento era usado para pesquisas meteorológicas. O episódio jogou um balde de água fria nas relações entre as duas potências que travam a chamada Guerra Fria 2.0, cada vez mais intensificada.
Xi assegurou em março um terceiro mandato inédito, ratificando assim sua condição de líder mais poderoso do gigante asiático em décadas. A reeleição, que contabilizou 2.952 votos a favor do dirigente, nenhum contra e nenhuma abstenção, fez dele o líder chinês mais duradouro desde Mao Tse -tung.
A Folha usa o termo ditador para designar o dirigente principal de um regime sem liberdades democráticas e com poderes concentrados nas mãos de um só líder. O termo não se aplica aos membros de uma junta militar ou da cúpula de regimes autoritários com algum mecanismo de divisão do poder. Para os casos de regimes ditatoriais não pessoais, como China e Vietnã, usa-se o termo dirigente ou líder.
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