SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma improbabilidade estatística na história da aviação, dois acidentes similares ocorreram no com o mesmo modelo de aeronave em um intervalo de seis horas. Tudo no mesmo aeroporto.
O episódio ocorreu em Kikoboga, uma pista de pouso não pavimentada que serve ao Parque Nacional de Mikumi, na Tanzânia, e envolveu dois aviões de fabricação brasileira Embraer EMB-120 Brasília.
O primeiro acidente ocorreu às 3h40 da quarta (28, 21h40 do 27, em Brasília). Um dos dois Brasília operados pela Unity Air Zanzibar chegou à pista rudimentar de Kikoboga e seu trem de pouso direito quebrou, fazendo a aeronave parar num campo ao lado do aeródromo.
Apesar do susto, os 30 passageiros, 2 pilotos e 1 comissário de bordo nada sofreram. O voo de retorno para Zanzibar estava marcado para dali a seis horas, e a Unity Air enviou para Kikoboga seu segundo Brasília.
Na hora da decolagem, o trem de pouso frontal da aeronave colapsou, fazendo ela bater na pista e acertar um prédio. Foi algo mais grave, com a aeronave pegando fogo, mas novamente nenhum dos 30 passageiros, 2 pilotos e agora 2 comissários ficou ferido.
Os passageiros em ambos os voos eram turistas que iam visitar o parque, uma atração famosa no interior da Tanzânia, a 280 km da igualmente procurada ilha de Zanzibar.
"A Embraer está ciente das duas ocorrências que envolveram turboélices EMB-120 Brasília na Tanzânia, nesta terça-feira, dia 28. A companhia está à disposição para apoiar as autoridades responsáveis pela investigação das possíveis causas dos incidentes", afirmou a fabricante paulista em nota.
Até aqui, o governo africano não procurou a Embraer. Segundo agências de notícias, o Ministério dos Transportes do país já iniciou a investigação.
A coincidência torna a sequência de incidentes inusual. O Brasília, que parou de ser produzido em 2001, foi um dos principais aviões da história da Embraer, responsável por abrir o mercado da aviação regional para a empresa.
Ele voou pela primeira vez em 1983, sendo comprado por seu primeiro cliente, norte-americano, dois anos depois. Foram fabricadas 357 unidades, e segundo a base da Aviation Safety Network, houve 26 acidentes e 45 incidentes com o modelo.
Muitos ainda voam na África, região notória pelo alto índice de acidentes e pela baixa qualidade da manutenção de empresas pressionadas a tirar o máximo de rotas. Um Brasília já havia sofrido um acidente semelhante ao desta quarta em julho na Somália, quando o trem de pouso quebrou ao chegar ao aeroporto de Mogadíscio --houve dois feridos leves.
Com efeito, apesar de responder por 2% do mercado de aviação comercial segundo a Organização da Aviação Civil Internacional, em 2022 ela concentrou 20 dos 115 acidentes registrados pela Aviation Safety. Só a América do Norte, com 44 ocorrências, teve mais acidentes, mas a região tem quase 30% do mercado mundial.
No ano passado, a chance de um passageiro de avião estar envolvido em acidente seguiu baixíssima: 1 em 4,2 milhões, usando a estatística da Aviation Safety, que considera aviões certificados para mais de 14 passageiros, em linhas comerciais ou de carga.
Isso não conta os chamados incidentes, que são episódios de menor gravidade sem risco estrutural para a aeronave ou de vida para quem está a bordo. Neste ano, houve até aqui cinco acidentes com mortes, 105 --ante uma média de cinco anos de 300 fatalidades anuais. O Brasil figura mal na lista deste ano, com 26 mortos em dois acidentes na Amazônia, um em Manaus e outro em Rio Branco.
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