SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A possível negociação para libertar um brasileiro que está entre os reféns do Hamas, mencionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta quinta-feira (30), deu alguma esperança à irmã de Michel Nisenbaum, 59, desaparecido desde os ataques do grupo terrorista no sul de Israel em 7 de outubro.

"Eu estou um pouco mais positiva, com mais esperança", diz Mary Shohat à Folha de S.Paulo sobre a declaração do petista. Ela conta ter compartilhado a novidade com a sua mãe, que, aos 86 anos, aguarda há mais de 50 dias pelo retorno do filho. "Ela espera que ele [Lula] possa fazer alguma coisa para trazer o Michel de volta."

A declaração do presidente foi uma rara novidade no caso, já que as informações que Mary tem sobre seu irmão são praticamente as mesmas há semanas, segundo ela.

Um mês depois do ataque, conta, o carro de Michel foi encontrado, totalmente queimado, e depois o telefone, que está sendo analisado. O notebook, recuperado na Faixa de Gaza, é a pista que indica a possível condição de refém dele.

"Não tivemos mais nenhuma notícia", diz ela, que se encontrou durante a manhã com o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer. Em uma publicação no Facebook, o posto diplomático afirmou que Meyer "garantiu à irmã da vítima que o Brasil está fazendo tudo ao seu alcance para ajudar na libertação do brasileiro e dos demais reféns".

Mary disse ter conversado com o embaixador "como dois bons amigos". "Ele queria saber do Michel, perguntou sobre nós, sobre a minha mãe", conta ela.

A condução do caso pelo governo foi alvo de críticas de Marcos Knobel, presidente da Fisesp (Federação Israelita do Estado de São Paulo). "Esperamos que a diplomacia brasileira atue firmemente para que possamos, em breve, ter notícias sobre a libertação de Michel e de todos os reféns que seguem em poder do Hamas", afirmou.

O comentário de Lula aconteceu durante entrevista a jornalistas em Doha, no Qatar, onde o presidente estava em uma visita oficial. "Ainda tem mais brasileiros lá [na Faixa de Gaza], [estamos trabalhando] na libertação de um refém que ainda pode ser liberado por esses dias", afirmou o presidente.

Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, e morando em Israel há 45 anos, Michel desapareceu na manhã do dia 7 de outubro, quando o Hamas invadiu comunidades no sul do país e matou 1.200 pessoas e fez cerca de 240 reféns, segundo Tel Aviv --o pior ataque da história de Israel.

Naquele dia, o brasileiro-israelense havia saído para buscar a neta em uma base militar e levá-la a Ashkelon, cidade próxima a Gaza onde ela mora com os pais. O último contato com a família foi às 6h57 com uma das filhas, que, em ligações posteriores ao celular do pai, foi atendida por uma pessoa falando árabe e gritando "Hamas".

"Toda a família está muito mal", conta Mary, que levou a mãe para morar com ela nas semanas seguintes ao episódio.

"Ela diz que a cabeça dela já não trabalha mais. Desde que isso aconteceu, ela se esquece de tudo, não sabe que dia é, tem que me perguntar. É como uma criança muito apegada a mim que me pergunta tudo. Antes, ela fazia as coisas sozinha, saía para ir ao supermercado, mas hoje em dia ela não tem essas condições. Começa a tremer e chorar", conta ela.

As filhas de Michel estão cuidando dos filhos em casa, segundo Mary, já que as atividades escolares foram afetadas pelo conflito e seus maridos foram para o Exército. "As filhas dele não têm vida desde que ele desapareceu", conta ela. Com cinco netos, Michel estava perto de se tornar avô novamente quando desapareceu -o sexto está previsto para nascer no início de dezembro.

Entre as crianças da família, a mais velha tem sete anos e é a única que entende melhor o que aconteceu, de acordo com Mary, e por isso pergunta a todo momento onde está o avô e quando ele volta. "O Michel sempre visitava, pelo menos uma vez por semana, as filhas e os netos", diz ela.

Mary, por fim, diz que tenta ser forte para ajudar a mãe. "Há quase duas semanas, minha mãe quis voltar para a casa dela e eu voltei para o trabalho presencial. Mas tem horas que eu estou sozinha, principalmente à noite, que não durmo pensando no que aconteceu e no que pode acontecer", conta. "O único irmão que eu tenho é o Michel. E a gente sempre fazia tudo junto. Agora ele não está aqui."


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