SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um vídeo mostrando mais de 20 palestinos sentados no asfalto seminus, com o tronco curvado, enquanto integrantes das Forças de Defesa de Israel circulam ao seu redor gerou preocupação entre organizações de ajuda humanitária ao vir à tona na quinta-feira (7).

A filmagem, exibida inicialmente pela TV israelense, teve sua autenticidade verificada pela agência de notícias Reuters. Porta-voz do governo de Tel Aviv, Eylon Levy afirmou a jornalistas que os indivíduos que aparecem nela são moradores de áreas no norte da Faixa de Gaza, segundo ele lar dos principais redutos e centros de comando do Hamas.

"Estamos falando de homens com idade para servir descobertos em áreas que os civis deveriam ter deixado semanas atrás", disse ele. O cenário do vídeo é a cidade de Beit Lahia, área no nordeste da faixa cercada por tanques israelenses há semanas.

Levy afirmou ainda que os indivíduos detidos seriam a partir dali interrogados, e ressaltou que as forças israelenses têm se envolvido em batalhas corpo a corpo com combatentes do Hamas que "se disfarçam deliberadamente de civis". Uma das principais linhas de argumentação de Israel para justificar sua incursão a Gaza é que o grupo terrorista usa a população palestina como escudo humano, armazenando equipamentos militares debaixo de prédios onde vivem civis e em bairros residenciais.

Mas palestinos disseram à Reuters ter reconhecido nas imagens pessoas que, segundo eles, não têm laços com o Hamas ou outras facções extremistas islâmicas.

Hani Almadhoun, um palestino-americano que vive no estado de Virgínia, nos Estados Unidos, contou ter identificado diversos familiares no vídeo, incluindo seu sobrinho de 12 anos. Mais tarde, ele afirmou à emissora americana NBC que conseguiu entrar em contato com os parentes, que narraram ter sido soltos depois de serem interrogados e fotografados.

Enquanto isso, o portal árabe Al Araby Al Jadeed, sediado em Londres, afirmou que um dos homens detidos é Diaa Kahlout, correspondente do veículo, e urgiu a comunidade internacional a denunciar a captura de profissionais de imprensa. O Comitê de Proteção de Jornalistas pediu a libertação de Kahlout.

O Hamas alegou que os presos foram capturados em uma escola que vinha sendo usada como abrigo.

Izzat el-Reshiq, membro sênior da facção hoje autoexilado no Qatar, acusou Tel Aviv de promover um "crime hediondo contra civis inocentes" e urgiu organizações humanitárias a intervir imediatamente e pressionar pela soltura dos palestinos.

A Cruz Vermelha foi uma das organizações que se declararam apreensivas após assistir às imagens. "Enfatizamos a importância de tratar todos os presos com humanidade e dignidade, de acordo com o direito humanitário internacional", afirmou Jessica Moussan, conselheira de relações públicas da ONG para o Oriente Médio, em comunicado.

Husam Zomlot, chefe da missão palestina em Londres, escreveu no X que o vídeo remete a "alguns dos momentos mais sombrios da história da humanidade". A ativista Hanan Ashrawi, que atuou como porta-voz da ANP (Autoridade Nacional Palestina) nos anos 1990, disse na mesma plataforma que o incidente era uma tentativa flagrante de "humilhar e degradar" os palestinos, exibindo-os como "troféus de guerra".

Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, descreveu o vídeo como "muito preocupante" após sua divulgação, na quinta. Embora o próprio Guterres não tenha se pronunciado sobre as cenas, na reunião extraordinária do Conselho de Segurança sobre a guerra desta sexta, ele afirmou que "a violência cometida pelo Hamas não pode justificar, em circunstância alguma, a punição coletiva do povo palestino".

"Se o lançamento indiscriminado de foguetes na direção de Israel por parte do Hamas e o uso de civis como escudos humanos são violações das leis da guerra, tal comportamento não absolve Israel de suas próprias violações", disse.


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