SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma tentativa de dissuadir os houthis do Iêmen de seguir sua campanha de ataques a navios no mar Vermelho, os Estados Unidos anunciaram nesta quarta (17) que recolocaram os rebeldes na lista de grupos terroristas da Casa Branca.

Também nesta quarta, a série de ataques na região continuou, com um navio de bandeira das Ilhas Marshall (república sob proteção dos EUA no Pacífico) sendo atingido por um drone a cerca de 100 km da costa iemenita. Houve um princípio de incêndio, controlado, e nenhum ferido segundo a empresa de segurança naval britânica Ambrey.

O grupo, que controla uma fatia do norte e do leste do Iêmen desde que explodiu a guerra civil no país em 2014, era considerado um "terrorista global especialmente designado" até 2021, quando o governo de Joe Biden retirou o rótulo citando a crise humanitária contínua no país.

Quando ganha o crachá de terrorista, o adversário da Casa Branca tem recursos de seus integrantes ou de pessoas ligadas a ele congelados em instituições americanas, além de veto a negócios. Na prática, é algo um tanto inócuo, dado que os houthis não possuem contas em bancos nos EUA.

A medida só entrará em vigor em 30 dias, em uma demonstração de boa vontade dos americanos que visa a convencer os houthis a abandonar seus ataques a navios militares e comerciais. Ela pode ter efeito em negócios triangulados com parceiros regionais, mas de forma limitada.

Afinal, é o Irã, já sob sanção americana, o principal fornecedor de ajuda financeira e militar para os rebeldes, que dividem com a teocracia de Teerã a aderência ao xiismo, o ramo minoritário do islamismo. Cerca de 40% dos iemenitas são xiitas.

A decisão veio após o recrudescimento dos ataques a navios mercantes e à força-tarefa naval montada pelos EUA para tentar coibir as ações. Os houthis apoiam o Hamas, grupo terrorista palestino também bancado pelos iranianos, na guerra contra Israel, e afirmam mirar embarcações ligadas ao Estado judeu e também aos americanos.

Desde a sexta (12), os EUA promoveram três ataques contra instalações dos houthis no Iêmen, um deles com participação do Reino Unido. Mas as ações no mar Vermelho continuaram, com o emprego do sofisticado arsenal de mísseis e drones do grupo agora considerado terrorista pelos americanos.

O espraiamento do conflito fez com que empresas de transporte e petroleiras desviassem seus navios das rotas da região, por onde passa 15% do comércio marítimo do mundo. Economistas e empresários se preocupam com a possibilidade de um novo repique inflacionário global devido à disrupção.

Há temores ainda de uma escalada com o Hezbollah libanês, também preposto do Irã, e de ações contra forças americanas em bases na região, além da convulsão eventual da Cisjordânia devido à guerra na Faixa de Gaza.

Os EUA já atacaram antes os houthis. Em 2016, os rebeldes atingiram um cargueiro dos Emirados Árabes Unidos e tentaram alvejar um destróier americano, levando a uma salva de mísseis de cruzeiro Tomahawk contra suas posições.

Naquele ponto, a guerra civil se ampliava, com ação dos Emirados e principalmente da Arábia Saudita em favor do governo local, expulso da capital, Sanaa. A crise amainou e houve um cessar-fogo, ainda válido, mas que está sob risco com a escalada devido à tensão atual.

Em 2019, os EUA apreenderam mísseis iranianos em um navio que rumava ao Irã. Na semana passada, ocorreu o mesmo, em uma ação em que dois militares americanos desapareceram no mar.

MILITAR DO IRÃ É MORTO

Mesmo Teerã tem deixado observadores atentos após atacar rivais muçulmanos em pontos do Paquistão, Iraque e Síria.

Nesta quarta, um dia depois de drones e mísseis iranianos atingirem bases associadas ao grupo Exército da Justiça na província paquistanesa do Balochistão, um membro da Guarda Revolucionária do Irã foi morto na região iraniana adjacente ao local dos ataques. Ainda não há detalhes acerca da natureza do incidente, relatado pela mídia estatal em Teerã.

Mais cedo, em uma retaliação diplomática empregada em momentos de crise mais séria, o Paquistão havia convocado seu embaixador em Teerã para consultas e anunciou que irá proibir a volta do representante do Irã, que está em seu país natal, a Islamabad.


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