WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - Neste momento, Donald Trump é o candidato com maior chance de ganhar a Presidência americana. Mas seu retorno à Casa Branca não significa uma ameaça à democracia, como alertam Joe Biden e os democratas. O empresário não tem força para isso.
A opinião é do analista político Henry Olsen, autor dos livros "O Republicano de Classe Trabalhadora", sobre a base de Ronald Reagan, e "As Quatro Faces do Partido Republicano", em que analisa a corrida pela nomeação de 2016.
"Trump vai testar todos os limites possíveis. Mas a questão é que, em última análise, a democracia termina quando você usa a força para calar, prender ou matar seus inimigos, e acabar com o debate público. Não há nenhuma chance de Donald Trump conseguir fazer isso", afirma ele.
Vinculado ao Centro de Ética e Políticas Públicas, um think tank conservador, Olsen está longe de ser um apoiador ferrenho do ex-presidente, mas reconhece que, hoje, o partido precisa mais do empresário do que o empresário precisa dele.
"Centro-direita de lugar nenhum do mundo consegue a maioria sem populismo. A velha guarda do Partido Republicano precisa fazer as pazes com isso, porque há uma maioria para o populismo que não inclui acomodar a velha guarda", diz, citando como exemplo a vitória da coalizão liderada por Javier Milei na Argentina.
"Os republicanos vão conseguir um caminho para isso? Eu acho que em algum momento sim, porque não há alternativa. A questão é: quanto tempo isso vai levar?"
Olsen vê em Trump um populista cuja base é movida pelo medo -seus apoiadores são trabalhadores que temem perder seu ganha-pão, religiosos que temem a ascensão do secularismo, americanos assustados com a ascensão da China e do "woke", termo jocoso para bandeiras de diversidade.
Esse perfil, que o pré-candidato compartilha com outros políticos contemporâneos, explicaria sua força sobretudo entre os republicanos de menor renda e menos escolarizados, estratos que tendem a sofrer mais insegurança. Para Olsen, a disparada da inflação nos anos Biden e as guerras culturais -o debate sobre os direitos de crianças e jovens trans, por exemplo, tem fervido-, só fizeram esses grupos se sentirem mais ameaçados.
Os resultados de Iowa, de fato, mostram que o ex-presidente ampliou seu apoio nesses grupos em comparação com 2016, deixando pouca margem para o governador da Flórida, Ron DeSantis, e para a ex-embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, que tentam se vender como alternativas ao empresário.
"O único candidato que realmente tinha uma chance [na corrida republicana] era DeSantis, por ser alguém capaz de navegar essa diferença entre Trump e a velha guarda. O problema é que ele nunca convenceu os populistas de que era melhor do que Trump. Nunca esteve disposto a dizer 'esse é o motivo pelo qual você deveria me preferir', porque isso significaria enfrentar Trump. Mas Trump não teve nenhum problema em enfrentá-lo", avalia Olsen.
Agora, a corrida deve terminar na Super Terça, em 5 de março, projeta o analista. Nesta data, um grande número de estados realiza suas primárias, tornando muito difícil uma reviravolta independentemente das votações posteriores.
Com isso, a disputa presidencial seria antecipada na prática. Democratas têm afirmado que a possibilidade joga a favor de Biden: caso se confirme que o candidato do outro lado é Trump, os americanos acordariam e se reaglutinariam em torno do atual presidente, diz a teoria.
"Isso é retórica", responde Olsen ao ser questionado sobre esse discurso. "As pessoas estão escolhendo Trump nas pesquisas porque não gostam de Biden."
Nas estimativas do analista, os levantamentos em maio e junho devem mostrar ambos tecnicamente empatados, com um placar de 44% a 43% ou algo próximo disso. Outros 10% a 11% vão dizer que votarão em uma terceira via, mas na prática não vão, diz Olsen, e o restante será de indecisos. Nesses dois últimos grupos, a decisão deve ser tomada em cima da hora.
Por isso, até lá, se o ritmo de alta da inflação voltar a subir, ou a economia patinar de alguma forma, o jogo pode virar definitivamente contra Biden, alerta o analista.
Trump, por sua vez, lida com quatro processos criminais -dois têm julgamento marcado para começar em março e um em maio, enquanto o outro pode começar em agosto, caso a proposta atual seja acatada. As datas provavelmente mudarão.
Questionado se uma condenação pode, por sua vez, virar o jogo contra o ex-presidente, Olsen é cético. Todos os julgamentos serão por júri, o que significa, no sistema judicial americano, que uma condenação exige consenso de todos os seus membros.
Há possibilidade de isso acontecer no caso do 6 de Janeiro, que corre em Washington, onde os democratas dominam. Já o processo que envolve os documentos confidenciais, que tramita no sul da Flórida, e o de interferência na Geórgia, que terá um júri de Atlanta, a chance de o grupo não ter um único apoiador de Trump para impedir um consenso é mínima, opina Olsen.
Ele também acredita que uma condenação no caso de Nova York, em que Trump é acusado de esconder pagamentos à atriz pornô Stormy Daniels em seus registros empresariais em 2016, não terá nenhum impacto para o eleitor.
"Se esses julgamentos [da Flórida e Geórgia] acontecerem antes [do de Washington], é completamente possível que Trump seja absolvido", ressalta. "E aí, isso pode ajudá-lo? Trump vai poder dizer 'olha a caça às bruxas. Eles colocaram o caso diante de um júri, e o júri não me condenou'."
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