SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O ministro da Defesa da Indonésia, Prabowo Subianto, declarou-se vencedor da eleição à Presidência, realizada nesta quarta-feira (14), após pesquisas de boca de urna lhe darem quase 60% dos votos.

"Todos os cálculos, todos os pesquisadores, inclusive os do lado de nossos rivais, mostram que vencemos em primeiro turno", disse. "Vamos montar um governo composto pelos melhores filhos e filhas da Indonésia." Até a tarde desta quarta, nenhum dos concorrentes havia admitido derrota.

Institutos de pesquisa independentes indicam que Subianto, alto oficial militar no final da ditadura de Suharto (1967-1998), há 25 anos, deve obter votos suficientes para evitar um segundo turno. Ele é acusado de violações de direitos humanos cometidas quando fez parte do regime.

Com dados preliminares, a empresa Poltracking projetou Subianto com 59,7% dos votos, enquanto a Cyrus Network-CSIS indicou que ele obteve 58,6%. O militar precisa de pelo menos 50% da preferência dos eleitores em nível nacional e um mínimo de 20% dos votos em mais da metade das províncias do país para garantir a Presidência no primeiro turno.

A apuração formal é bem mais lenta. Com apenas 18% dos votos contados, no entanto, os números oficiais também apontam para a vitória de Subianto. Os resultados finais devem ser divulgados apenas em 20 de março.

Na quinta eleição desde o fim da ditadura em 1998, quase 205 milhões de pessoas foram convocadas a votar para escolher um novo presidente, deputados e representantes locais.

Três candidatos aspiravam à Presidência da Indonésia, arquipélago na Ásia e quarto país mais populoso do mundo, com quase 280 milhões de habitantes: além de Subianto, o ex-governador de Jacarta Anies Baswedan e o ex-governador de Java Central Ganjar Pranowo.

Baswedan e Pranowo tiveram 25% e 17% dos votos, respectivamente, de acordo com os pesquisadores independentes que realizaram as contagens por amostragem, numa metodologia que em eleições anteriores se mostrou confiável.

Embora apareçam muito atrás de Subianto nas pesquisas, Baswedan e Pranowo pediram aos eleitores que "não tirassem conclusões" antes da divulgação do resultado oficial. Suas equipes de campanha disseram que estavam investigando denúncias de violações eleitorais, descritas como "fraude estrutural, sistemática e maciça". Eles não forneceram provas, no entanto.

Aos 72 anos, Subianto era considerado favorito após uma campanha de retórica populista na qual se comprometeu a seguir as políticas do ultrapopular presidente atual, Joko Widodo, que não pôde se candidatar à reeleição após dois mandatos de cinco anos.

Widodo desfruta de grande prestígio após duas gestões com crescimento econômico constante, exceto por um breve período durante a pandemia, e relativa estabilidade política no país, considerado uma "jovem democracia".

Sob sua liderança, a Indonésia iniciou um programa de desenvolvimento e construção de infraestrutura e de nacionalização de recursos para se tornar o maior produtor mundial de níquel e um ator-chave na cadeia de suprimentos de veículos elétricos. Subianto se apresenta como o candidato da continuidade, dizendo que as políticas de Widodo foram "muito benéficas para todas as pessoas".

As zonas eleitorais abriram às 7h locais na ilha mais oriental da Papua e fecharam às 13h (3h no horário de Brasília) no outro extremo do país, em Sumatra. Uma forte tempestade inundou partes da capital do arquipélago, Jacarta, e provocou a transferência de alguns locais de votação.

Ainda não se sabe o impacto das chuvas sobre a votação ?as autoridades não haviam divulgado, até esta quarta, o índice de abstenção. Apoiadores de Subianto, contudo, demonstraram confiança nas ruas.

"Ele [Subianto] tem experiência militar, então acredito que será um líder decidido", disse Afhary Firnanda, um eleitor de 28 anos que votou em Jacarta. Contribuiu para a popularidade do titular da Defesa o fato de o filho de Widodo ocupar a posição de vice na chapa.

Várias organizações, porém, manifestam preocupações relacionadas a um possível retrocesso nas liberdades se o militar vencer. Subianto foi genro do ditador Suharto e serviu como general em seu Exército, famoso por violações dos direitos humanos.

Subianto é acusado de ter ordenado o sequestro de ativistas nos últimos anos da ditadura. Ele foi expulso do Exército em 1998 após os raptos nos quais ele sempre negou envolvimento e dos quais nunca foi formalmente acusado. No passado, o militar chegou a dizer que a Indonésia não precisava de democracia.

"Sempre estivemos preocupados com seu compromisso com a democracia", disse Yoes Kenawas, pesquisador da Universidade Católica Atma Jaya de Jacarta. "Se ele vencer as eleições, essas questões persistirão."

Devido ao seu histórico de violações aos direitos humanos, Subianto foi impedido de entrar nos Estados Unidos por 20 anos, segundo o jornal americano The New York Times.

Nos últimos anos, o militar linha-dura, dado a rompantes e explosões de raiva, passou a repaginar sua imagem nas redes sociais. Durante a campanha ele se apresentou como um vovozinho que adora gatos e faz dancinhas desajeitadas no TikTok.

OS CANDIDATOS NA DISPUTA INDONÉSIA

Prabowo Subianto, 72

Ministro da Defesa, promete continuar políticas do presidente Joko Widodo, mas é figura polarizadora, acusado de abusos de direitos humanos durante a ditadura Suharto. Conta com apoio tácito do governo.

Anies Baswedan, 54

Ex-governador de Jacarta e ex-reitor universitário, tem grande apoio na capital por ter implementado sistema de transporte coletivo rápido. Cresceu graças ao seu desempenho em debates e interações informais nas redes.

Ganjar Pranowo, 55

Ex-governador de Java Central, é filiado à mesma legenda de Widodo, mas não é apoiado pelo presidente. De origem humilde, firmou-se como um nome de fora da elite política e militar.


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