MILÃO, ITÁLIA (FOLHAPRESS) - A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, foi nomeada oficialmente pelo Partido Popular Europeu (PPE) como candidata a um segundo mandato de cinco anos, até 2029. A indicação foi confirmada nesta quinta-feira (7), durante congresso do partido em Bucareste, na Romênia.

A alemã de 65 anos, ex-ministra da Defesa, afirmou que, entre as prioridades para os próximos anos estão o crescimento econômico, o combate à imigração irregular, o apoio a empresas e agricultores e o reforço da capacidade de defesa da Europa. "Prosperidade, segurança, democracia. É com isso que as pessoas estão preocupadas nestes tempos difíceis", disse Von der Leyen em seu discurso.

A Comissão Europeia é o braço executivo da União Europeia. Atua de forma independente tanto na elaboração de propostas para novas normativas quanto na implementação de decisões do Parlamento Europeu e do Conselho Europeu, que reúne os líderes dos 27 países-membros.

Primeira mulher nessa função, Von der Leyen ganhou notoriedade, dentro e fora do bloco, com as respostas à pandemia da Covid-19, a recuperação econômica e a invasão da Ucrânia pela Rússia, seguida por uma crise no custo de vida. Outro ponto marcante foi o brexit, concretizado em janeiro de 2020.

Também demonstrou capacidade de diálogo e construção de acordos com os líderes europeus, do francês Emmanuel Macron, de centro, à italiana Giorgia Meloni, da ultradireita. No Parlamento, contou com o apoio das forças políticas de centro-direita (PPE), centro-esquerda (Socialistas) e liberais (Renova) e conseguiu fazer avançar o Pacto Verde, uma de suas principais bandeiras.

Sua recondução à presidência da comissão é dada como certa entre analistas, mas ainda dependerá, nos próximos meses, de três fatores. Antes de tudo, é preciso que sejam realizadas as eleições para o Parlamento, entre os dias 6 e 9 de junho. O PPE é o partido com a maior bancada, posição que deve ser mantida após o voto, segundo projeções. Se confirmado o resultado, a sigla se coloca como favorita para indicar Von der Leyen.

O segundo fator é o menos transparente do processo e, por isso, menos previsível. Definida a composição do Parlamento, o Conselho Europeu precisará aprovar um nome para ocupar a presidência da comissão. Em 2014, foi usado o sistema conhecido como spitzenkandidaten (em alemão, principais candidatos), em que os grupos políticos indicaram, antes das eleições, seus nomes fortes para comandar a comissão. O cargo ficou com Jean-Claude Juncker, do PPE, o partido mais votado. Foi uma forma de dar legitimidade democrática à escolha do presidente da comissão, que não é submetido em nenhum momento ao voto popular.

Cinco anos depois, no entanto, o acordo foi jogado no lixo pelos governantes europeus. Com liderança de Macron entre os líderes, o então candidato do PPE, Manfred Weber, foi rejeitado pelo conselho, que, a portas fechadas, chegou ao nome de Von der Leyen. Antes das eleições, ela jamais havia sido mencionada publicamente como cotada para a função.

Por fim, a terceira etapa. Após indicado pelo conselho dos 27 países, o nome do futuro presidente precisa ser aprovado pelo Parlamento por pelo menos 361 dos 720 eurodeputados. A expectativa é que essa votação ocorra na segunda quinzena de julho, antes do recesso de verão. Em 2019, Von der Leyen foi aprovada com uma margem de apenas nove votos.

"Neste ano, todo o processo de nomeação dos candidatos foi influenciado pela decisão de Von der Leyen de concorrer novamente. Especulou-se que ela iria concorrer bem cedo e ela é uma candidata muito forte", disse à reportagem Luise Quaritsch, analista de políticas democráticas da UE do Centro Jacques Delors, em Berlim. "Penso que desta vez vai ser algo tranquilo e é bastante provável que ela tenha o apoio do Parlamento e dos líderes europeus."

Com Von der Leyen na disputa mesmo antes das etapas formais, outros possíveis candidatos fortes não se apresentaram nem foram convocados por seus partidos, temerosos de queimarem cartuchos. Em teoria, eles até existem. Além do PPE, nomearam candidatos para a comissão os Socialistas, com Nicolas Schmit, e os Verdes, com Bas Eickhout e Terry Reintke.

"Os partidos estão fazendo aquilo que se comprometeram, mas não vejo nenhuma competição genuína. E isso é diferente de cinco ou dez anos atrás", afirma Ben Crum, professor de ciência política da Vrije Universiteit, em Amsterdã. "Estão todos fingindo participar de uma competição que não existe."

Segundo Crum, há sempre espaço para surpresas, mas, se a reeleição de Von der Leyen por alguma razão não vingar ?resistências podem surgir no voto de aprovação no Parlamento, que deve ver o crescimento de grupos conservadores e da ultradireita?, seu lugar provavelmente seria ocupado por outro nome surpresa, como em 2019. "Não acho que o Conselho Europeu vá encontrar um melhor candidato. Já no Parlamento, Von der Leyen fez novos amigos e também novos inimigos."


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