SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Os Estados Unidos vão organizar um voo para retirar seus cidadãos do Haiti em meio à escalada de violência no país caribenho, informou a embaixada de Washington na nação neste sábado (16). O avião partirá da segunda maior cidade do Haiti, Cabo Haitiano, já que o aeroporto da capital, Porto Príncipe, permanece fechado.
O comunicado não especificou a data da retirada nem deixou claro quantos americanos poderão sair, mas pediu para os interessados entrarem em contato com a embaixada. A entidade diplomática alertou, porém, que a viagem de 200 quilômetros de Porto Príncipe para Cabo Haitiano é "perigosa" e aconselhou seus cidadãos a considerarem o voo "apenas se acreditarem que podem chegar com segurança ao aeroporto".
O Haiti é palco de uma explosão de violência por parte de gangues criminosas, que se uniram para pedir a saída do primeiro-ministro, Ariel Henry. Na última terça-feira (12), o impopular chefe de governo, que está no poder desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse em 2021, prometeu renunciar assim que um conselho de transição e um líder temporário fossem escolhidos.
Trata-se da segunda ação dos EUA para poupar cidadãos americanos no país em uma semana. No último domingo (10), as Forças Armadas dos EUA disseram ter feito uma operação para retirar funcionários não essenciais da Embaixada em Porto Príncipe e reforçaram a segurança.
"Este transporte de pessoal para dentro e para fora da embaixada está de acordo com nossa prática padrão de aumento de segurança de embaixadas em todo o mundo, e nenhum haitiano estava a bordo da aeronave militar", disse o Comando Sul dos EUA em um comunicado na ocasião.
Ao anunciar sua renúncia, Henry jogou o país em um cenário de mais incerteza. A decisão fez o Quênia, por exemplo, anunciar que pausaria o envio de uma missão multinacional para ajudar os haitianos a combater as gangues armadas e proteger a infraestrutura urbana. O país africano recuou no dia seguinte, mas o envio de reforço policial ainda é uma dúvida, já que a liberação do financiamento para a operação depende do Congresso americano.
A futura renúncia de Henry está ligada ao agrupamento das gangues, que recentemente passaram a atuar de forma conjunta --tentando não somente ampliar seu controle pela capital como se transformar em uma força política capaz de participar das negociações que estão sendo intermediadas por governos estrangeiros.
Enquanto isso, a população tenta se proteger da insegurança. Grupos de direitos humanos relatam assassinatos, sequestros e violência sexual generalizados, e centenas de milhares de pessoas foram deslocadas pelo cenário de violência e insegurança.
No último sábado (16), o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) afirmou que um de seus 17 contêineres com ajuda humanitária no principal porto do Haiti, abastecido com "itens essenciais para a sobrevivência materna, neonatal e infantil", foi saqueado. Segundo a agência, a violência está causando fome recorde e desnutrição com risco de vida em partes da capital, e três em cada quatro mulheres na área de Porto Príncipe não têm acesso a cuidados básicos de saúde e nutrição.
"O saque de suprimentos essenciais para salvar vidas de crianças deve acabar imediatamente", disse Bruno Maes, representante do Unicef no Haiti, em um comunicado. "Este incidente ocorre em um momento crítico, quando as crianças mais precisam deles." Os suprimentos incluíam ressuscitadores, disse a agência.
Ainda de acordo com a agência, alguns hospitais em Porto Príncipe foram obrigados a fechar por questões de segurança, e apenas duas instalações cirúrgicas estão operacionais. No resto do país, seis em cada dez instalações não estão funcionando devido à escassez de eletricidade, combustível e suprimentos médicos.
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