D?lar baixo, pre?os tamb?m
Entenda porque a moeda americana caiu tanto e quais as implica?es que isso pode ter no seu bolso na hora de ir ?s compras

Ricardo Corr?a
Rep?rter
08/03/06

Veja a varia??o do d?lar ao longo do ano de 2005 e neste ano de 2006. A varia??o negativa da moeda americana foi de quase 20%. O valor que j? chegou a ser de R$ 2,71, caiu para abaixo da casa dos R$ 2,20

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Imagine um bairro com apenas uma padaria. Agora imagine que outras quatro padarias resolvam se instalar no mesmo local. O que, teoricamente, acontecer? com o pre?o do p?o nesta regi?o? Ser? que a padaria que atuava sozinha poder? continuar mantendo o mesmo pre?o de antes?

A resposta mais ?bvia ? n?o, pelo mesmo motivo que o ouro ? mais caro que o ferro. Ou seja, porque um produto perde valor quando aumenta a quantidade de oferta. O ouro ? mais caro porque ? mais raro. E o p?o, neste bairro, ficar? mais barato porque existe maior oferta. Mais gente querendo vender e um mesmo n?mero de compradores. Se ? simples entender isso, pense o mesmo para o d?lar. ? exatamente assim que acontece.

Mesmo com a eleva??o dos ?ltimos dias, tendo fechado a R$ 2,19 na ?ltima quarta-feira, dia 8 de mar?o, a moeda americana ainda acumula uma queda de quase 7% em 2006 e quase 20% nos ?ltimos dose meses. E isso acontece exatamente porque tem mais d?lar na pra?a, neste caso, o Brasil. E o pre?o do d?lar tem implica?es diretas na vida de cada um. Antes de entend?-las, por?m, ? importante saber porque est? sobrando d?lar no pa?s.

Na Faculdade de Economia e Administra??o da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) existe um setor coordenado pelo professor Geraldo Lopes de Souza Jr., destinado a avaliar a situa??o econ?mica e suas implica?es.

Ele explica que no N?cleo de Conjuntura Econ?mica da UFJF (Nupe) trabalham sete bolsistas, respons?veis por medir e avaliar as mudan?as econ?micas em nosso pa?s e no mundo. Entre estes bolsistas est? a acad?mica Simone Moura Dias (foto ao lado), a respons?vel pela an?lise do Setor Externo e da Pol?tica Cambial. E ? ela quem explica os motivos da grande circula??o de moeda americana no mercado brasileiro.

"Esse d?lar mais baixo j? era esperado e tem contribu?do para isso a alta da taxa de juros brasileira e a pequena taxa de juros americana. Isso atrai investimentos para o Brasil. Al?m disso, temos tido saldos comerciais hist?ricos. Em 2005, foi de 44 bilh?es. Isso quer dizer mais exporta?es e, conseq?entemente, mais d?lar entrando no pa?s. A? o pre?o cai", avalia Simone Moura.

Os investidores querem lucros e quanto maior as taxas de juros vigentes em um pa?s, maior ser? o lucro de um investimento. Como no Brasil os juros s?o mais altos, os investidores est?o optando por colocar dinheiro investido no pa?s. Mas ? exatamente essa parte da explica??o que prova que as coisas podem mudar nos pr?ximos meses. Com as taxas de juros caindo no pa?s e a expectativa de aumento da taxa de juros americana, muitos investidores podem come?ar a migrar para pa?ses mais seguros, sem risco de crises ou calotes.

No caso das exporta?es, a quest?o ? paradoxal. Na medida em que elas impulsionam uma queda do d?lar, a queda do d?lar dificulta o crescimento do setor. Isso porque os produtos brasileiros ficam mais caros no exterior, j? que a rela??o d?lar/real fica alterada. Mas isso n?o acontece em todos os casos, segundo Simone.

"O Banco Central compra d?lar exatamente para diminuir a quantidade no mercado, aumentar o valor da moeda e n?o prejudicar as exporta?es, que sofreram um pouco mas nem tanto com essa alta. Quem sofreu mais foram as empresas pequenas. Muitas delas sa?ram do mercado de exporta??o. As grandes n?o sofreram tanto, porque muitas vezes usam mat?ria-prima importada tamb?m, e com isso seus custos tamb?m foram reduzidos com a queda do d?lar", explica Simone.

Em rela??o ?s importa?es, os pre?os dos produtos cotados em d?lar diminuiu. O montante das importa?es foi maior durante os ?ltimos meses e, em fevereiro, houve um recorde na entrada de produtos estrangeiros no pa?s.

"Pela primeira vez depois de um longo per?odo, no ?ltimo m?s o crescimento das importa?es superou o das exporta?es mas ainda assim as exporta?es garantem um saldo na balan?a comercial", explica Simone, ressaltando assim que o pa?s continua vendendo mais do que comprando. E esse aumento das importa?es seria ben?fico. Isso porque, por enquanto, o grande volume de importa?es ? dos chamados bens de capital e das mat?rias-primas. Ou seja, equipamentos e produtos necess?rios para aumentar a produ??o de nossas ind?strias.

"Com o tempo pode ser prejudicial se come?ar a crescer a importa??o de bens de consumo", explica. Nesse caso os produtos brasileiros venderiam menos pois sofreriam uma concorr?ncia desleal mais forte dos estrangeiros.

E o consumidor nessa hist?ria?
Mas todas essas an?lises v?o chegar at? o bolso do consumidor? Na verdade sim. Em praticamente tudo. Neste caso das importa?es, por exemplo, com a competitividade dos produtos estrangeiros, a tend?ncia ? que os pre?os dos similares nacionais caia. ? a concorr?ncia, como a das padarias do bairro. "Com d?lar mais barato ? mais barato importar. Com importados mais baratos os produtores brasileiros tamb?m abaixam seus pre?os para n?o perder espa?o e o consumidor paga menos", explica Simone.

Como, segundo a acad?mica, o pa?s importa muita mat?ria-prima, a tend?ncia ? de que produtos de muitos setores sofram redu??o de pre?o com a queda do valor da moeda americana.

Outra grande implica??o para o consumidor se d? para quem vai fazer viagens. A op??o por uma viagem em territ?rio nacional, paga em reais, ou uma viagem para o exterior, paga em d?lar depende disso tamb?m. Com o d?lar mais baixo, ficou muito mais barato ir para fora do pa?s. Com isso, segundo Simone Moura, em 2005 os gastos efetuados por brasileiros fora do pa?s foi maior do que o gasto de estrangeiros no pa?s. "Os brasileiros est?o gastando mais dinheiro l? fora e muitas vezes destinos para fora do pa?s ficam mais baratos do que os internos", explica.

E para quem tem d?lar para vender ou est? pensando em comprar, ? sempre bom ter cuidado. N?o ? simples fazer previs?es sobre alta ou queda do valor da moeda, porque s?o muitas vari?veis para se considerar. Se uma delas sofrer um desvio, derruba toda a previs?o. De acordo com Simone, a tend?ncia ? para um d?lar um pouco mais alto do que est? atualmente, o que tamb?m seria o ideal para n?o prejudicar as exporta?es.

"A tend?ncia ? de um aumento para esse ano, por causa da tend?ncia de alta dos juros americanos e a tend?ncia de queda dos juros brasileiros. Tem tamb?m o pagamento da d?vida externa, que diminui as reservas internacionais (menos d?lares no pa?s)", explica ela, que tamb?m considera as tens?es pol?ticas e a decis?o sobre a perman?ncia ou n?o da equipe econ?mica como influentes nessa quest?o. Ou seja; ? certo que o d?lar varia, existem tend?ncias mas n?o h? uma f?rmula m?gica para determinar exatamente para onde ele vai.

Cota?es do d?lar em 2005 e 2006
Valores registrados em reais, sempre no dia 8 de cada m?s: