Fernando Agra Fernando Agra 9/10/2009

Agricultura e industrialização

Atualmente, a relação entre o setor agrícola e o industrial tem se tornado cada vez mais importante, onde o resultado dessa integração pode-se chamar de agroindústria. Se hoje, o Brasil possui o maior parque industrial da América Latina, sua constituição deve-se sobretudo a políticas que transferiram volumosos montantes de renda da agricultura para propiciar o desenvolvimento industrial.

O processo de substituição de importações teve suas ideias já na década de 30, onde o Brasil passou a tentar produzir internamente o que até então importava (sobretudo bens manufaturados). Isso ocorreu para diminuir a dependência externa, pois com a eclosão da "Grande Depressão", em 1929, a produção mundial sofreu uma forte retração. Nessa etapa inicial destacou-se a produção de bens leves, mas é a partir dos anos 50 que o processo de industrialização é acentuado, com a adoção da produção de bens duráveis. As ideias da CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina), que perduravam à época, pregavam que a indústria era a alavanca para o desenvolvimento econômico de um país, bem como afirmava que a deterioração dos termos de troca entre a agricultura e a indústria aumentava cada vez mais, consequentemente os países exportadores de produtos primários transferiam um montante cada vez maior de recursos para os países industrializados.

O marco inicial da industrialização brasileira foi o Plano de Metas do Governo JK, tornando irreversível tal processo. Uma das consequências foi a crescente urbanização, onde os trabalhadores rurais deslocaram, em massa, para as cidades, em busca de melhores condições de vida, de melhores empregos, principalmente nas regiões onde despontavam as fábricas. Entretanto, vale ressaltar que o processo de industrialização deu-se de uma maneira desordenada e os gastos excessivos do Governo contribuíram para provocar um desequilíbrio, tanto nas contas internas, quantos nas externas, acelerando o processo inflacionário. A dívida do Brasil cresceu tanto, ao ponto de esgotar o modelo vigente e culminou na queda dos militares. O êxodo rural foi acentuado, além do que a baixa qualificação desses trabalhadores que migraram do Nordeste para o Sudeste, em geral, contribuiu para acentuar o cinturão de pobreza nas grandes cidades. Atualmente, com o processo de globalização e a redução da participação do Estado na economia, o modelo de industrialização tem se processado em outros moldes, distintos da época anteriormente mencionada.

Com relação aos caminhos da agricultura, estes merecem ser observados em dois momentos: o primeiro que vai até meados da década de 60, onde o objetivo era o crescimento da agricultura via expansão da fronteira agrícola; o segundo, a partir da década em questão, quando se observou que não era viável esse crescimento extensivo, passando então a necessidade da adoção de novas tecnologias que promovessem a modernização da agricultura, cujo principal instrumento foi o crédito rural, onde os mais beneficiados foram os grandes produtores rurais. Contudo, ainda prevaleciam as ideias de beneficiar a agricultura para cada vez mais transferir recursos para a indústria.

Em suma, pelo visto anteriormente, pode-se corroborar o pensamento de que a agricultura contribuiu demasiadamente no processo de industrialização brasileira. Entretanto, hoje em dia, a escassez de políticas em favor da agricultura tem empobrecido e descapitalizado, sobretudo, os pequenos produtores (vale observar que tais contribuem com considerável parcela na oferta de alimentos ao País, na geração de empregos, rendas, entre outros benefícios sócio-econômicos). Logo, é por demais importante a adoção de medidas que estimulem a produção agrícola nacional de maneira competitiva e que a agroindústria desponte cada vez mais.

 



Fernando Antônio Agra é Economista pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e professor universitário das faculdades Vianna Júnior, Estácio de Sá e Universo e do curso de Formação Gerencial do Instituto Educacional Machado Sobrinho, sendo todas a instituições em Juiz de Fora - MG


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