Novo perfil de síndico se torna diferencial nos novos condomínios

Para dar consta de conjuntos habitacionais mais complexos e moradores mais exigentes, os administradores estão mais empreendedores e flexíveis

Angeliza Lopes
Repórter
2/02/2018

Sabe aquele perfil de síndico mala, que todo mundo corre para não encontrar nos corredores do prédio, ou os que só aparecem no dia da reunião de condomínio? Pois é, estão com os dias contatos. Há cada dia que passa, os conjuntos habitacionais estão mais complexos e os condôminos exigentes, o que resulta na eleição de síndicos qualificados para a área. Parece simples de longe, mas administrar um conjunto de apartamentos ou de casas é bem complicado! Exige conhecimento nas áreas de administração, legislação, Código Civil que trata da vida em condomínio, manutenção predial, hidráulica, elétrica, além de prevenção e combate a incêndio.

Juiz de Fora possui, atualmente, cerca de 4 mil condomínios, o que nos possibilita contabilizar, pelo menos, o mesmo número de síndicos. Se antes era unânime encontrar administradores moradores ou proprietários, hoje as coisas estão mudando de forma. Desde 2002, o artigo 1.347 do Código Civil abriu brecha para que pessoas não moradoras se tornassem gerenciadores de um condomínio, o que ocasionou a criação dos 'síndicos profissionais'. Por isso, pensando em todas as exigências e criação de um novo mercado profissional, é difícil que os condôminos não cobrem qualificação, visão responsável e empreendedora de seus representantes.

A proprietária-diretora da Lógica Comunicação, Andrea de Castilho Hallack, empresa que publica todos os meses o jornal/revista 'O Síndico', fala que há 15 anos vem acompanhando a evolução do mercado. “Quando começamos o jornal, não existia mulheres como síndicas, hoje a presença feminina é forte. Agora, vemos o crescimento do número de administradores profissionais. Hoje, eles têm mais consciência que as responsabilidades são grandes e os riscos também, pois ação incorreta por parte deles pode acarretar ao síndico consequências civil e criminal”, destaca.

Mesmo com pouco tempo como síndico do Residencial Yuni Previdenciários, Marcos de Lima Schuchter, sabe muito bem como empreender dentro de um espaço privado de gerenciamento para o coletivo. “Fui eleito em assembleia antes da entrega das chaves, em julho de 2017. Uma inovação da própria construtora. Gerencio um conjunto de prédios com 240 apartamentos e, em apenas 90 dias, consegui deixar o condomínio amplamente equipado. Para unir os moradores, organizamos um happy hour com food trucks nas dependências do empreendimento, planejado para durar um dia. Mas, a resposta foi tão positiva, que ampliamos o evento para dois dias”, conta.

Ele entende que os jovens síndicos começaram a enxergar a função como uma profissão, o que é o correto. “Erroneamente, as pessoas vêem o cargo como um trabalho voluntário, mas pelo grau de responsabilidade na área civil e criminal que temos, não deveria ser desta forma”, completa. As formações e experiência de Lima ajudaram na execução de um bom serviço dentro de um amplo empreendimento, que lhe rendeu uma Moção de Aplausos, na Câmara Municipal, pelo modelo de gestão aplicado. “Já tenho carreira pública caminhando para nove anos. Minha intenção inicialmente era ser conselheiro fiscal, por já ter estudado orçamento, questões contábeis, auditoria, mas acabei almejando mais. Criei um plano de gestão e me candidatei, vencendo com 80% dos votos. Também sou licenciado em pedagogia e atuei no ramo de eventos, toda esta expertise uso para gerenciar o Yuni”.

Normalmente, o síndico exerce a administração com a assessoria do subsíndico e do conselho consultivo e fiscal. Mas, no Condomínio San Marino, do bairro Granbery, seus administradores resolveram inovar. Tanto o efetivo quanto o vice exercem a função de síndico. “Antes de começar, vou explicar que fizemos uma experiência. Não dividimos entre síndico e subsíndico. Dividimos as funções e as responsabilidades, com atuação do conselho fiscal, que chamamos de conselho de consultores. Não somos profissionais na função. Decidimos há um ano ocupar o cargo para zelar pelo nosso patrimônio e fazer melhorias com novas ideias”, detalha Carlos Eduardo Dias Bazaga, formado em Administração. Ele gere o prédio, junto com o William Pereira Santos, que tem formação em Segurança do Trabalho.

Nestes 12 meses de ação, a dupla já implementou muito projeto inovador, sempre levando as ideias para votação e aperfeiçoamento dos condôminos. Bazaga diz que eles enxergaram que a maneira antiga de ser síndico, de ter que ficar "vigiando morador", ser chato e geralmente mal visto pelos condôminos é ultrapassada. “Usamos muito a conscientização, o diálogo, avisos. Hoje, os moradores querem melhorias reais, que atendam suas necessidades. Com muita criatividade e parcerias, dá para fazer uma administração moderna e atuante”.

O Condomínio San Marino já implementou várias ações de responsabilidade socioambiental como separação dos resíduos recicláveis, repassados semanalmente para a cooperativa do bairro Olavo Costa, através de um trabalho social do padre Carlos Augusto; parceria com a Associação dos Amigos (ABAN) que recolhe o óleo de soja usado do edifício e os reverte em trabalhos sociais; coletor de pilhas a baterias usadas. Outros projetos oferecem opções de atividade física e lazer infantil, que são as duas confraternizações coletivas anuais voltada para as crianças, no 'Volta as Aulas', em julho, e 'Dia das Crianças', em outubro, além de disponibilizar um personal trainer para aula de treinamento funcional na área verde do prédio.

A intenção dos síndicos é tornar o ambiente agradável e democrático, já que os próprios moradores participam das decisões com novas ideias. “Colocamos na saída da sala do lixo um dispenser de álcool em gel, um corrimão na chegada do condomínio, carrinhos de compras que sobem escadas. Todas ideias de moradores”.

Para trabalhar ativamente em um condomínio, os administradores precisam saber bem quem são seus fornecedores. A demanda por serviços é tanta que a prestação de serviços para conjuntos habitacionais tem se tornado um nicho de mercado importante. Mas, o bom atendimento ainda é um dos diferenciais destacados pelos gerenciadores. “Tem bons fornecedores, mas tem que procurar. Por que tivemos experiências ruins com prestadores de serviços já estabelecidos no município. Aquele prestador menor, que ainda procura seu espaço, tem dado muito mais atenção”, reforça Carlos. Em relação aos fornecedores, Marcos de Lima inovou no Condomínio Yuni Previdenciários ao estabelecer parcerias em troca de publicidade. “Minimiza custo amplia e valoriza patrimônio, elevando as vendas com a publicidade dentro dos muros do condomínio”.

Previsto no Código Civil, a função de síndico pode ser remunerada ou não, alguns recebem em dinheiro pelo serviço, já outros recebem benefícios como isenção da taxa de condomínio. A remuneração ou não vai depender do que foi preestabelecido na Convenção do Condomínio.

Curso síndico profissional

No Brasil, não existe ainda formação específica para síndicos profissionais, o que torna mais complexo atuar na área. Na cidade, a Lógica Comunicação oferece há dois anos um curso de capacitação para empresas, prestadores de serviço que querem se especializar em atendimento a condomínios ou pessoas que desejam atuar ou já atuam como administradores de prédios.

Segundo a proprietária-diretora, Andrea de Castilho Hallack, a formação acontecia com apoio do Sindicato dos Condomínios de Juiz de Fora e Zona da Mata Mineira, que está inativo deste novembro de 2017, após renúncia da diretoria. Uma nova assembleia deve acontecer em fevereiro.

Ela explica ainda que o novo encontro já tem data. Será nos dias 23, 24 e 25 de abril, com aulas ministradas pelo professor de São Paulo, Sergio Cravero. “Mesmo novo, temos uma demanda em Juiz de Fora que vem crescendo! A cobrança do síndico profissional é outra, já que é pago”, reforça, lembrando que a intenção é que a turma tenha de 25 a 30 vagas. As inscrições serão abertas em março e mais informações estarão disponíveis no site Síndico JF.

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