Na pandemia muitas pessoas tiveram que se reinventar no mercado de trabalho e uma das alternativas mais buscadas foram investimentos em microempresas. Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Minas Gerais apontam que estado teve crescimento de 1,1% em 2020, comparado a 2019. Já o encerramento de empresas no setor caiu 11,6% em relação ao mesmo período. Os resultados são com base em dados da Receita Federal.  

De janeiro a dezembro, 338.144 empreendimentos foram registrados no estado, contra 116.082 negócios encerrados. O levantamento considera o somatório de registros de Microempreendedor Individual (MEI), Micro e Pequena Empresa (MPE). Os meses com o maior número de empresas abertas foram janeiro, julho, agosto e setembro.

O resultado positivo é puxado pelo aumento da formalização dos microempreendedores individuais (MEI). Em 2020, foram 279.531 novos MEI no estado, um aumento de 2% em relação a 2019. Já o número de micro e pequenas empresas (MPE) abertas caiu 3% na comparação com 2019.

“As micro e pequenas empresas sentiram mais a crise desencadeada pelo novo coronavírus. A formalização como MEI foi uma alternativa encontrada por muitos empreendedores que precisaram adequar o porte do negócio ou encontrar uma nova fonte de trabalho e renda em meio à pandemia”, explica o gerente da unidade de Inteligência Empresarial do Sebrae Minas, Felipe Brandão

Professora de português da rede estadual de ensino, há 24 anos, Luciana Barbosa complementava a renda com aulas particulares. Com a pandemia, ela perdeu os alunos e teve que se reinventar. A nova profissão veio após adotar um casal de gatos. "Eu e minha filha estávamos querendo um animalzinho de estimação, daí adotamos duas gatas (Luna e Twix). Na verdade eu queria uma só, mas como são mãe e filha - e super grudadas - não resisti. Eu não sabia nada, absolutamente nada sobre gatos. Fui lendo, aprendendo e observando as meninas aqui. Comportamento, alimentação, hábitos, brinquedos. Essas coisas".

Durante este momento de adaptação, Luciana chegou a pensar como faria quando tivesse que viajar. "Gatos são tranquilos, gostam de rotina, do seu lugar, das suas coisas e do cheiro. É muito estressante para eles sair, ouvir barulhos e sentir cheiros diferentes no ambiente. Não tem hotelzinho e não se divertem como cães, rs. Então, achei um curso de cat sitter (babá de gatos), gostei da ideia e vi uma oportunidade de empreender na área, já que em Juiz de Fora o serviço é pouco difundido. Fiz vários cursos com veterinários também para estar sempre por dentro de tudo. Atualmente, estou terminando um curso com uma veterinária em São Paulo, especialista em comportamento felino".

Segundo Luciana, essa nova experiência tem sido muito gratificante. "Estou aprendendo muita coisa nova e totalmente diferente da minha área de formação. As gatas me ensinam muito sobre calma, sobre respeitar o espaço e a vontade delas e também dos outros. Posso dizer, com certeza, que sou outra pessoa depois da chegada delas. Mudaram a minha vida".

Sobre o mercado de trabalho, a professora garante que o movimento ainda é pequeno. "Em grandes centros a demanda é muito maior.  Algumas pessoas vieram conversar comigo logo que criei a @Lugateira_ dizendo que não faziam ideia de que existia babá de gatos.

É uma profissão muito bacana e gostosa, mas como qualquer outra requer responsabilidade e profissionalismo. Os clientes procuram profissionais treinados e habilitados, pois ficamos responsáveis por seus filhotinhos, pela sua casa. Não é simplesmente trocar água e dar comida e limpar caixas de areia. Trabalhamos com observação do comportamento do gato".

Questionada sobre o retorno das atividades, em um momento próximo, ela faz planos de atuar nas duas profissões. "Amo dar aulas e não vou parar de lecionar. Pretendo aliar as duas profissões, até porque como cat sitter tenho uma procura maior nos finais de semana, feriados e férias também. Dá para conciliar tranquilamente as duas. Amo dar aula e amo gatos".

Mudança em família

A mudança de ramo também aconteceu para o casal de noivos, Tainá Santos e Matheus Castro. "Meu noivo trabalhava (e ainda trabalha) na feira livre de Juiz de Fora com frutas. Eu o ajudava algumas vezes, pois atendia como maquiadora e fazia criação de conteúdo digital", diz Tainá.

Desde criança ajudando o pai na feira, Castro conseguiu ter seu próprio ponto há pouco mais de três anos. "Na pandemia, o Matheus sempre falou que queria ter uma loja, mas era algo muito abstrato ainda. Com a pandemia, eu perdi minhas fontes de renda, pois priorizamos meu isolamento já que sou grupo de risco por ter diabetes tipo 1. Fomos vivendo com o mínimo e tendo como renda o auxílio emergencial e um pouco da feira, porque o Matheus trabalhou metade do expediente por um período. Até que um belo dia, ele mexeu com a madeira pela primeira vez com meu avô na oficina da minha família e tomou gosto, cismou que queria fazer as peças que admirávamos na Internet e foi assim que tudo aconteceu e surgiu a Jiboia Decor".

A experiência, conforme Tainá, tem sido incrível. "Amamos o que fazemos e somos muito gratos por tudo que construímos em pouco tempo. Como a oficina fica no nosso quintal conseguimos trabalhar de casa e ter menos riscos com relação à pandemia. Estamos seguindo para onde a loja nos levar, não fazemos questão de voltar às carreiras que tínhamos antes, enquanto tiver trabalho com a loja ela é nossa prioridade e estamos buscando crescer sempre. Fomos muito bem aceitos, nunca pensamos que daria tão certo. Temos clientes recorrentes e sempre recebemos elogios. Isso é muito gratificante".

Tendência

As peças de madeira pinus estão em alta, versáteis e acessíveis. Uma grande aliada para os amantes da decoração. "Quando vimos que dava para fazer tudo que a gente sempre desejou, ter um bom preço, qualidade e trazer para nossa região uma opção, que na maioria das vezes você só encontrava pela Internet, não tivemos dúvidas de que valeria muito a pena tentar.


Em busca de um sonho

A mudança também foi positiva para a jornalista Angeliza Lopes e o web designer Fernando Faria que estão juntos há um ano e no final de dezembro do ano passado resolveram sair de Juiz de Fora e mudaram para a Serra do Brigadeiro, na Zona da Mata. "Já era um sonho que eu estava planejando há cerca de cinco anos. A pandemia só acelerou para colocá-lo em prática. Já não fazia mais sentido ficar em uma área urbana, porque a vida já estava sem gosto, sem sabor e não tinha mais o que fazer. Continuaria um mesmo ciclo de fazer as mesmas coisas e estar sempre envolvido em projetos estressantes. Por mais que eu gostasse do meu trabalho, já não tinha mais sentido. Estava sempre em conflito e receoso", explica Faria.

"Nós dois somos de cidades pequenas, fomos para Juiz de Fora com o intuito de estudar, formar e trabalhar, mas chega um momento que a nossa essência chama a gente de volta. Para algumas pessoas essa correria da vida urbana é tranquila, mas para nós sempre foi um incômodo. Eu tinha uma vida muito atribulada. Ficava o dia todo na rua e só voltava para casa à noite. Com a pandemia, simplesmente parou tudo. Essa correria, que muitas das vezes esconde nossas angústias e conflitos internos, acabou que gritou e veio à sensação de que deveria mudar", relata Angeliza, que fundou e é responsável pelo Portal da Serra do Brigadeiro.

O sonho em comum foi compartilhado desde o início do relacionamento. Sempre conversávamos sobre essa necessidade. A princípio, pensamos em ir para locais turísticos mais próximos de Juiz de Fora, como Matias, Torreões e Serra do Funil. Mas como eu já tinha o Portal da Serra e minha família mora próximo, foi tudo mais fácil. Meu pai nos ajudou muito. Fizemos um planejamento financeiro, reduzimos todos os custos extras e agora vamos iniciar os nossos projetos. O Fernando, vai produzir o que ele gosta, que são peças em madeiras e eu estou fortalecendo os canais de comunicação do Portal, além de parcerias com produtos para criar uma loja online.

Setores mais procurados

De acordo com o Sebrae, o setor de serviços concentrou o maior número de empresas abertas (159.956), seguido pelo comércio (95.219) e indústria (52.922). As atividades com o maior número de registros foram restaurantes e outros estabelecimentos de serviços de alimentação e bebidas, cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza e comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios.

Expectativa de crescimento

Para 2021, a perspectiva é de retomada de crescimento dos pequenos negócios. “Com a chegada da vacina e após parcela significativa da população ser imunizada, a expectativa é de recuperação da economia. Setores como comércio, turismo, lazer e alimentação fora do lar terão um fôlego para retomar suas atividades e recuperar os patamares de crescimento pré-pandemia”, destaca o especialista.

ACESSA.com - Com a pandemia, juiz-foranos se reinventam e criam novas atividades