Ricardo Cristofaro
Arte digital e a pesquisa pela reconstru??o mat?rica

Rep?rter Ana Maria Reis
02/03/2001

O juizforano Ricardo Cristofaro ? um artista "implosivo". Assim considera-se e dessa forma foi definido pelo mestre Arlindo Daibert ainda na d?cada de 80 - "A visceralidade, a auto-express?o, a gestualidade compulsiva, a exuber?ncia crom?tica com que nos bombardearam em todos os lugares parecem n?o estimul?-lo de maneira especial. Por outro lado, h? uma indisfar?ada afinidade com as pesquisas mat?ricas de Burri, Fautrier, T?pies;...", escreveu Daibert em 1986. Desde ent?o, muita coisa mudou. Inclusive, as incurs?es pl?sticas de Cristofaro. Partiu da pintura e desenho e depois embrenhou-se na possibilidade imensa da mat?ria - esculturas, colagens, instala?es, gravuras, objetos e arte digital.

Linguagem: transmuta??o
Ricardo Cristofaro graduou-se em Juiz de Fora no ano de 1987. Mas antes de ingressar na faculdade de Artes, j? era um artista atuante. Segundo Cristofaro, apesar da incipiente mas pr?spera carreira, foi somente atrav?s dos contatos com profissionais e professores, que o jovem artista descobriu a possibilidade de se "viver de arte".

Neste per?odo, participou de in?meros cursos e ateli?s, tendo sido aluno de Arlindo Daibert, Leonino Le?o, Rubem Grilo, Amilcar de Castro, Marco T?lio Rezende, Marcos Coelho Benjamim, Jo?o Grij?, Carlos Fajardo, Lena Bergenstein, Carlos Martins e Jos? Resende.

A transmuta??o ? hoje uma das linguagens que mais agrada o implosivo artista. Ricardo tem se dedicado, desde o mestrado em Artes pela Universidade de Bras?lia (UnB), em 1998, ? arte digital. No endere?o www.artes.ufjf.br, s?o disponibilizados links, que possibilitam a visualiza??o de sua incurs?o eletr?nica. Nesta segunda fase de sua obra, seus mestres foram Geraldo Orthof e Elyser Szturm.

O Colecionador
O Colecionador, um dos links dispon?veis no site do artista, ? uma esp?cie de organiza??o de objetos digitais constru?dos a partir de transmuta?es de malhas tridimensionais (3D) e colhidas de arquivos empresariais, CDs-ROM e Internet.

"O Colecionador ? uma exposi??o n?o s? dos objetos e id?ias, mas do meio, em respeito ? pr?pria interven??o que o meio eletr?nico permite ao artista", define Cristofaro. Reconhecida a mat?ria pl?stica, n?o-s?lida e n?o-palp?vel, ao se tratar de objetos constru?dos por sistemas num?ricos, guardados na mem?ria do computador, o artista faz uso dos recursos digitais e coleciona eletronicamente a id?ia da trasmuta??o po?tica.

Em O Colecionador existe a alus?o simult?nea aos opostos: "? mem?ria e ao esquecimento, ? verdade e ? d?vida". Atrav?s da nova forma dada ao objeto, o artista extratifica o "antiqu?rio" do inconsciente, atrav?s de uma "escava??o psicoarqueol?gica". As imagens s?o mutiladas, insurge a objetiva??o da lembran?a e reconstroe-se a experi?ncia atrav?s de retalhos e associa?es.

O meio utilizado permite este tipo de di?logo j? que um espa?o a congregar tecnologia e humanidade, globaliza??o e individualidade. ? isto que sugere O Colecionador, onde a cria??o e cole??o dos objetos aparece enquanto promessa impl?cita e adjacente de eternidade, como se a restaura??o e presentifica??o digital dos mesmos pudesse ser garantia contra o inevit?vel esquecimento e finitude.

"Colecionar ? uma forma de perpetuar, um modo intimista de manusear, conhecer e comandar o mundo", id?ia esta, a do autor, que vem ao encontro do que prop?e o meio art?stico mais difundido das ?ltimas d?cadas - a tecnologia.

Acroterium
Recentemente, ao acaso, o artista deu uma de fot?grafo. Em sua ?ltima exposi??o, em cartaz no ano passado no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, Ricardo Cristofaro exp?s 64 pe?as em "Acroterium". Foram fotografadas, cortadas e recortadas pinhas dos pr?dios (foto) antigos da cidade (acrot?rios na denomina??o arquitet?nica) e realizado um belo trabalho de recupera??o hist?rica.

Colher este material, teve, a princ?pio, outra finalidade - a de se trabalhar objetos digitais. Com a transmuta??o dessas pe?as, o trabalho de fotografia acabou crescendo e a exposi??o foi o canal para que este empenho n?o fosse engavetado, explica Ricardo sobre o acaso da obra.

Durante um ano e meio o Acroterium foi elaborado. Pegou carona no tema 150 Anos de Juiz de Fora, da ?ltima sele??o da Lei Municipal de Incentivo (Lei Murilo Mendes), a qual custeou o processo final do ensaio.

Previsto para ser lan?ado no 2? semestre deste ano, o projeto seguinte do artista ? a releitura po?tica desta primeira exposi??o onde outros objetos ser?o criados em cima dos acrot?rios j? transmutados.