A atriz fala de planos e dá sua opinião sobre
a cultura teatral de Juiz de Fora
Ana Luisa Damasceno
20/11/03
Enquanto todas as jovens atrizes sonham em ir para a Globo, Larissa
Bracher pagou a multa de rescisão de contrato e largou a emissora mais
poderosa do Brasil para fazer uma novela do SBT. Para ela, a decisão não
poderia ser mais acertada. Mesmo não se considerando - com suas
próprias palavras - mainstream, garante que a temporada que passou na
Argentina, onde gravou "Chiquititas", lhe rendeu boas amizades e
oportunidades profissionais.
Larissa aposta no teatro quando todo mundo só fala de cinema. Tem um noivado estável quando as atrizes enchem as capas de revista para falar dos novos relacionamentos. E, acreditem, já foi estudante de filosofia. A atriz rejeita a aura "cult" e se define como uma "operária da arte", usando uma expressão da mãe, a artista plástica Fani Bracher.
Do pai, o também artista plástico Carlos Bracher, guarda a lembrança de, apoiada por ele, ouvir música clássica desde a infância. Talvez por isso tenha seguido o caminho da arte. Ou talvez já estivesse no sangue mesmo.
Mesmo jovem, a atriz de 27 anos já se arriscou duas vezes na produção de espetáculos teatrais. E conta que o stress vale à pena. "As pessoas à sua volta, às vezes nem sabem, mas você está sem dormir, não conseguiu ler a cena direito...". Larissa Bracher esteve em Juiz de Fora, cidade onde nasceu, e deu uma entrevista para o ACESSA.com, onde fala da vida, da carreira e até da produção teatral local. Veja a íntegra a seguir:
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JF Service - Filha de peixe, peixinho é...
Não tinha jeito mesmo de sair da identidade e característica artística da
sua família...?
Larissa Bracher - Desde cedo meus pais
fizeram questão de trabalhar nossa sensibilidade - minha e da minha irmã
Blima - artística e humana. Tenho lembranças da mais tenra idade em que
papai colocava música clássica para ouvirmos enquanto falava de seus
compositores e época em que foram escritas. E mamãe todas as noites nos lia
as fábulas dos irmãos Grimm, aguçando nossa inventividade. Papai e mamãe
sempre foram meus maiores entusiastas em relação ao que viesse a escolher.
Minhas opções nunca foram uma dificuldade para eles, e sim uma jornada de
companheirismo. Então, de um certo modo, seria difícil, no caso de pais tão
amigos, não ter perseguido uma das coisas que os fazia tão especiais, a
arte, mesmo com suas mazelas e dificuldades.
JF Service - Você sempre "nadou contra a
corrente": saiu da Globo, onde tinha contrato, para fazer uma novela no SBT.
Faz teatro e cinema num país onde a televisão é a maior vitrine do
ator...
Larissa Bracher - Pois é, o que eu mais
queria quando tinha contrato com a Globo era justamente e simplesmente
trabalhar . Fiz uma novela chamada "meu Bem querer" e várias participações
em novelas, "Turma do Didi" e outros programas. Mas estava insatisfeita com
os personagens e as cenas. Quando recebi o convite do SBT (depois de ter
feito um teste entre quase 500 garotas) para morar na Argentina fazendo uma
novela como uma das personagens principais, não tive dúvida, pedi demissão,
paguei a rescisão de contrato e fui de "mala e cuia" para Buenos Aires onde
passei um dos melhores anos da minha vida, conheci os que vieram a ser meus
melhores amigos (Flávia Monteiro, Débora Falabella, Carmo Dalla Vechia,
André Cursino, Kaiky e Stéphany Brito..) e ainda trabalhei muito, graças a
Deus. Foi maravilhoso ter feito Chiquititas. Uma experiência de vida.
JF Service - Essa característica também
se manifestou quando você saiu de "O Exercício"?
Larissa Bracher - Como eu nunca pensei em ser
main stream sempre faço minhas opções de acordo com minha vontade no
momento. Foi ótimo trabalhar com o Lu (Luciano Szafir, ator), também fiz vários amigos naquela
produção, conheci o Brasil inteiro me apresentando nos teatros mais
importantes do país (inclusive o Central que é sem dúvida um dos mais
lindos), mas sigo muito meu coração. Estava querendo voltar a trabalhar com
a mesma equipe de "Os Olhos Verdes do Ciúme", no qual era produtora. O Caio
(Caio de Andrade, autor de "Os Olhos Verdes") me chamou para entrar em uma nova peça que ele
estava escrevendo: "Deserto Iluminado". Tomei minha decisão e fui sem
pestanejar. Aprendi uma coisa nisso tudo:quando se toma uma decisão , não
adianta ficar pensando na opção que você deixou para trás, nem o que teria
sido se você fizesse isso ou aquilo. É preciso dar o sangue para o que você
optou ter valido a pena. E sempre vale!!!
JF Service - Você começou na carreira de
atriz fazendo cursos livres em Ouro Preto. Você acha que ter tido aulas com
gente como Tizuka Yamazaki influenciou na sua maneira de ver a profissão de
atriz?
Larissa Bracher - Meus amigos costumam dizer
que sou a rainha dos workshops. Acho muito válido se reciclar. Acho que
guardo muitas coisas de todos os cursos que fiz, nem que seja uma frase. Já
fiz curso com o Antunes Filho, com O Valter Lima Jr, Carmem Partenostro, e
várias outras pessoas, desconhecidas do grande público, que fizeram com que
eu enxergasse a profissão e o "ser ator" de uma outra forma, ou que
confirmassem minhas teorias.
JF Service - Como é a experiência de
produzir um espetáculo teatral, com "Os olhos verdes do ciúme"?
Larissa Bracher - Maravilhosa e exaustiva. É
muito louco você estar prestes a estrear, estar ensaiando uma cena no palco
e chegar a produtora executiva dizendo, em particular, que acabou de receber
uma ligação de que o patrocínio ainda não chegou, ou que a pauta do teatro
vai se atrasar... Enquanto isso você pede licença ao diretor a ao ator com a
cara mais doce do mundo e com um sorriso nos lábios - como se o mundo não
estivesse desabando naquele momento - fala que só vai dar um
"telefoneminha". Nisso você cruza o teatro, chega no telefone, faz 30
ligações para resolver o problema, se estressa, quase chora, resolve todos
os pepinos mas volta para o palco como se nada tivesse acontecido e volta a
ensaiar. Isso é loucura, atuar e produzir ao mesmo tempo não é brincadeira.
As pessoas à sua volta, às vezes nem sabem, mas você está sem dormir, não
conseguiu ler a cena direito... Tem um momento, na própria produção, que
você tem que optar: ou se é atriz ou produtora. O importante é se cercar de
pessoas competentes para te ajudar.
JF Service - E trazer "Deserto Iluminado"
para sua cidade natal, Juiz de Fora? Como foi?
Larissa Bracher - Maravilhoso e exaustivo.
(risos...) Maravilhoso porque você está numa cidade que é sua, que te
acolhe, onde estão seus amigos, seus parentes. E é exaustivo pelo mesmo
motivo (também desta vez produzi as viagens, uma loucura!). Eu, por exemplo
me cobro muito mais, como atriz, quando estou em casa, quando conheço quase
todos na platéia, quando sei que pessoas queridas estão vendo meu trabalho.
Lembra da parábola do Filho pródigo?? Então, esta é minha sensação em JF e
em Ouro Preto, onde morei minha vida toda.
JF Service - O que é mais legal de fazer,
teatro, cinema ou TV?
Larissa Bracher - Ixi, essa pergunta dá pano
para a manga...Vou ser breve: adoro os três de maneira distinta. A TV requer
agilidade, jogo de cintura, disciplina e muita memória, mas é uma arte que
não é do ator. Aquilo é uma indústria de fazer cenas. O cinema e o teatro
são produtos mais artesanais, mais burilados. Às vezes, você está num
projeto de cinema que ficou 10 anos em uma gaveta por falta de verba,
conseguiu uma grana pouca e faz com o mesmo amor. Toda a equipe vira uma
família e todos se ajudam, para que aquilo dê certo. O teatro, também tem
esse lado artesanal, mais que vai se burilando aos poucos. É ilusão você
pensar que estará pronto no dia da estréia. A construção do personagem vem
com o dia a dia. É onde você tem mais possibilidade de se distanciar de si
mesmo procurando este ser outro, que é o personagem. É a arte do ator, sem
dúvida.
JF Service - Como é o seu relacionamento
com o público?
Larissa Bracher - Ótimo, nunca tive problema
de muito assédio. De vez em quando chega um adolescente, nas peças que faço,
se apresentando como fãs de Chiquititas, e eu acho isso um barato. As
crianças de chiquititas agora cresceram. Tenho a chefe do meu fã-clube, a
Susan Furlanes, de Sorocaba, como uma pessoa muito especial na minha vida.
Hoje ela tem 18 anos e parece que eu fiz parte da vida dela. Muito
excêntrico!
JF Service - Quantas peças de teatro e
filmes você já fez?
Larissa Bracher - Peças de teatro
profissionalmente, considero que fiz cinco: " A ópera dos 3 vinténs", " A
Dama da madrugada", "Os Olhos Verdes do Ciúme", "O Exercício" e "Deserto
Iluminado". Filmes... Longas foram "O Circo das qualidades humanas",
"Tiradentes", "Procuradas" e "Amor perfeito". Curtas eu fiz "Os Filhos de
Nelson" (onde eu ganhei os prêmios de melhor atriz nos festivais de Miami e
Recife) e "Elvis e Madonna" (deste ano). E fui chamada para fazer uma peça e
um filme no ano que vem. Segredo...
JF Service - Num meio onde as "modelos e
atrizes" proliferam, você escolheu o teatro, com peças sérias. Além disso
você é noiva de um músico de uma banda considerada 'cult'. Isso sem falar
que é estudante de filosofia e filha de pintor e artista plástica. Essa aura
'cult' afeta você ou a sua carreira de alguma forma?
Larissa Bracher - A medida que você é criada
em uma situação fica difícil você enxergar de fora. Faço minhas opções de
acordo com o que sou e penso. Eu não me dou essa aura cult. Não me sinto
assim. Me sinto como operária da arte (como diz minha mãe). Marcello, meu
noivo é um artista de primeira linha, é meu companheiro dessa jornada e tem
uma banda maravilhosa chamada Vulgue Tostoi (que inclusive já fez show aí em
JF no Musik), que agora vai lançar um disco em parceria com Jardes Macalé, é
um grande compositor, além de artista plástico e ator.
JF Service - Você já viveu a malvada, a
mulher que perdeu o grande amor e até uma atriz do século passado. De qual
tipo você mais gostou e por quê?
Larissa Bracher - Ah, isso é complicado. Você
pode passar por experiências boas ou ruins nos trabalhos. Ter mais
dificuldades para encontrar este ou aquele personagem. Mas todos são
especiais e te marcam de formas diferentes. Acho que a Fiona de "Os Olhos
Verdes" é meu melhor trabalho de composição.
JF Service - Em "Deserto Iluminado" você
vive uma mulher desesperada para ser mãe. Esse desejo já bateu forte em
você? Você usa isso para compor a personagem?
Larissa Bracher - Tenho pensado muito em ser
mãe. Chega um momento na vida em que este desejo bate mais forte para a
mulheres. Acho que os dilemas do personagem, quando vivenciados, te levam a
questões pessoais sim. A gente aprende com eles.
JF Service - O que mais te chamou a
atenção para essa peça que você está apresentando?
Larissa Bracher - O texto do Caio, e o fato
de Amália - meu personagem, ser desconstruído no tempo. Ela vai de uma cena
que acontece no futuro, para um flashback em questão de minutos.
JF Service - Você sempre trabalha com
globais (Luciano Szafir, Eduardo Moscovis, Leonardo Brício e Paulo
Gorgulho). Mesmo com a exposição, a Globo ainda não te fez nenhum
convite?
Larissa Bracher - Não sei se é assim que a
coisa funciona. Tem gente que corre atrás a vida toda e consegue, ou não. Eu
tenho sido muito relapsa em relação a isto. Quando me chamam para fazer
algum teste lá, o telefone que está no cadastro deles é o de Ouro Preto, de
onde saí há seis anos, para se ter uma idéia. Tenho estado muito feliz com o
que faço, Graças a Deus...
JF Service - Você tem vontade de voltar
para a Globo?
Larissa Bracher - Nunca foi uma vontade,
sempre foi um meio de vida. Vontade de trabalhar. E isso estou fazendo, e
muito, agora.
JF Service - Como é trabalhar de novo com
a mesma turma (Caio de Andrade, Angela Rebello). A cumplicidade ajuda na
hora de atuar?
Larissa Bracher - Sim. Já sabemos os defeitos
e as qualidades de cada um e eles já conhecem, também os meus. Antes de mais
nada, Caio é um ótimo autor, e Ângela uma ótima atriz.
JF Service - Voltando a Juiz de Fora. Você
nasceu aqui mas cresceu em Ouro Preto. Qual o seu relacionamento com a
cidade?
Larissa Bracher - JF sempre foi minha cidade
de avós, sabe aquela coisa gostosa de sensação de férias, Rever os parentes,
brincar na rua, os primeiros namorados?? Então, sou super orgulhosa de ser
juizforana e falo isto em todas as entrevistas que faço. Sempre!!!
JF Service - Essa é a segunda vez que você
se apresenta no Central. O nervosismo da estréia já passou?
Larissa Bracher - Não foi como a primeira
vez, graças a Deus, mas é sempre uma cobrança maior, com certeza.
JF Service - Quais os planos para o
futuro?
Larissa Bracher - Me preparar cada dia mais
para ser uma atriz melhor.
JF Service - O que você leva de mineirice
e de Juiz de Fora no seu trabalho?
Larissa Bracher - Tudo. Sou mineira de
espírito, alma, coração, jeitos, trejeitos. Minas para mim é uma espécie de
religião. Amo Minas e os mineiros. E sinto que o fato de ser mineira me abre
portas por onde vou. Sou muito grata a este Estado, sempre.
JF Service - O cenário teatral de Juiz de
Fora é característico, com peças de teatro sendo apresentadas até em bares e
restaurantes. O que você acha disso?
Larissa Bracher - Ótimo! Acho que toda forma
de aproximar o teatro do público é genial. Aí em JF sempre houve importantes
grupos levando um trabalho sério de comprometimento com a arte. Nunca vi,
mas adoraria assistir a um espetáculo do Teatro de Quintal. Todo mundo fala
maravilhas... Ah, a propósito, o trabalho que o José Alberto Pinho Neves vem desenvolvendo
à frente da Funalfa é genial e deveria ser conhecido por todos. Seria ótimo
que os grupos locais aproveitassem esta gestão e fizessem um projeto para
reequipar o Teatro Central com novo agrupamento de luz e som. Um teatro
daquela categoria merece todo nosso zelo. Contem comigo!
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Nascimento: 17/09/1976 Signo: virgem Altura: 1,71 m Peso: 51,5 kg Cores favoritas: azul e violeta Comida preferida: farofa Sobremesa predileta: chocolate Bebida: água com gás Times do coração: Vasco no Rio e Atlético em Minas |