SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A antropóloga Debora Diniz retornará ao Brasil após um autoexílio iniciado há quatro anos. Seu regresso será motivado por uma pesquisa que investigará a vida de mulheres e crianças afetadas pelo vírus zika ?e que acaba de receber um aporte de cerca de R$ 40 milhões.

Nesta semana, um consórcio de pesquisadoras do qual Diniz faz parte foi agraciado com o Discovery Awards (prêmios-descoberta, em tradução livre), oferecido pela organização beneficente Wellcome Trust. O financiamento é considerado um dos maiores do mundo para a área da saúde e da biomedicina.

A pesquisa, que será realizada simultaneamente em territórios como Brasil, Reino Unido, Serra Leoa e Hong Kong, analisará o que ocorre com uma população depois que é declarado o fim de uma emergência global, como foi com o ebola.

No caso brasileiro, serão acompanhadas pessoas que convivem com sequelas do vírus zika e famílias cuidadoras de crianças que se contaminaram.

"Vou voltar para ouvir em primeira mão como estão essas mulheres e fazer o que eu sei melhor fazer, que é ser parte de um processo de transformação social pela pesquisa científica, como uma forma de testemunho e de cuidado", afirma Diniz à reportagem.

"Isso, para mim, tem um simbolismo muito especial de que o meu lugar é aí [no Brasil]. E o meu lugar é junto não só de mim mesmo, mas de todas as pessoas que estão em luta por defesa de direitos", diz ainda.

Professora da UnB (Universidade de Brasília) e atualmente pesquisadora visitante da Universidade Brown, em Rhode Island, nos Estados Unidos, Debora Diniz é uma das mais premiadas pesquisadoras brasileiras nas áreas de gênero e direitos reprodutivos.

Foi por defender que o aborto deve ser tratado como um problema de saúde pública que, em 2018, passou a receber ameaças de morte e teve que deixar o Brasil.

Ao celebrar a premiação pelo Wellcome Trust, ela destaca que não é comum um financiamento dessa magnitude para o campo das ciências sociais e para uma linha de pesquisa como essa para a área da saúde

"Essa é uma história que tem que ser contada não apenas porque o zika continua circulando, mas porque depois do fim tem uma história a ser contada pelas mulheres, pelas famílias afetadas e pelas crianças. Eu diria que é um dever de memória", afirma ela.

A ideia é que o estudo explore os impactos que ocorrem no desenho de políticas públicas quando se é declarado o fim de uma epidemia e de uma pandemia. Os resultados devem orientar a formulação de respostas para novas emergências de saúde.

"O fim não significa o desaparecimento de necessidades específicas de proteção àquela população, ao contrário. O fim é uma linguagem, por exemplo, da Organização Mundial de Saúde", explica a antropóloga.


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