SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Psicóloga e educadora social, mãe de quatro filhos, cuidadora dos pais doentes, esportista, voluntária com moradores de rua: Sheila Pacífico de Moura tinha uma energia que parecia inesgotável ?e usava boa parte dela para ajudar o próximo.

Era, segundo colegas, a "alma" do posto de atendimento humanizado a imigrantes do aeroporto de Guarulhos, no qual trabalhou por 12 anos, desde o início do serviço. Lá, atendia estrangeiros retidos na zona restrita, vítimas de tráfico humano e refugiados que chegavam ao Brasil em situação vulnerável, lutando para que recebessem um tratamento digno.

"Muitas vezes fora do seu horário de trabalho, fazia mais do que era possível para entrar em contato com suas famílias, entrevistar pessoas e garantir acolhimento, alimentação e cuidado em cenários desesperadores", descreve uma nota em sua homenagem divulgada pela Defensoria Pública da União, uma das muitas instituições que a psicóloga acionava para garantir os direitos dos imigrantes.

Uma amostra da paixão de Sheila por seu trabalho pôde ser acompanhada por esta repórter, durante uma apuração sobre famílias afegãs que dormiam nos bancos do aeroporto.

"Ao mesmo tempo em que era doce para caramba, quando via uma injustiça ela comprava a briga", conta seu irmão Calixto de Moura. "Ela não parava. Era uma supermãe, estudava francês, corria, distribuía comida para moradores de rua. Abraçava tudo."

Nascida em Lorena (no interior de São Paulo), Sheila adotou a primeira filha, Maria Paula, por quem se apaixonou ao visitar um abrigo. Depois engravidou de Ana Tereza, Sophia e João.

Mesmo após ter sido afastada do atendimento no aeroporto ?num episódio que estava tirando seu sono?, a psicóloga continuou dedicada à causa dos imigrantes e estava criando um coletivo com a amiga Márcia Nascimento.

"Era o melhor ser humano do mundo", diz Márcia. "A dor do outro era a dor da Sheila. Enquanto não resolvesse um caso, não desligava. E tinha a gargalhada mais sonora do mundo."

Quando marcavam de se encontrar, Márcia parava o carro em um convento para esperá-la. "Ela sempre se atrasava, mas chegava rindo, conversando." No dia 5 de agosto, a amiga não apareceu. Sheila sofreu um AVC e morreu três dias depois, aos 49 anos.

Márcia diz que não consegue acreditar. "Sinto como se ainda estivesse naquele convento, embaixo da árvore, esperando a Sheila chegar."


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