SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Vice-presidente da Bolsa americana de tecnologia Nasdaq, Bob McCooey prevê que entre 6 e 12 empresas brasileiras venham a fazer a abertura de capital (IPO, na sigla em inglês) nos Estados Unidos ao longo de 2023.
Ele reconhece, contudo, que o momento ainda não é o ideal para a listagem de novas ações devido à alta de juros em curso pelo Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), que tem aumentado a volatilidade no mercado de tecnologia.
O executivo diz também que, independentemente de quem vencer as eleições no país, o mais importante é que o governo estimule o desenvolvimento de novos negócios e o surgimento de empreendedores que criem empresas com potencial de crescer e possam considerar uma abertura de capital no futuro.
"Desde que o suporte continue para os empreendedores e para que novos negócios se desenvolvam, não importa quem vença a eleição."
PERGUNTA - Como tem sido a conversa com empresas brasileiras interessadas em fazer o IPO na Nasdaq?
BOB MCCOOEY - Tem sido muito interessante. Estamos alcançando um estágio em que as empresas brasileiras estão com um perfil mais próximo ao que temos na Nasdaq, com empreendedores criando negócios inovadores, disruptivos. São companhias de tecnologia, fintechs, áreas nas quais a Nasdaq é muito forte. Temos observado uma evolução muito expressiva. Até 2017, não havia nenhuma empresa brasileira listada na Nasdaq, e agora já temos uma série de empresas brasileiras com ações negociadas. Inclusive nesta semana tivemos a listagem da Semantix, que tem um negócio fantástico de inteligência artificial desenvolvido no Brasil. É o típico perfil de companhia que queremos que se torne parte do ecossistema da Nasdaq.
P.- Com base nas conversas que o sr. mantem com as empresas brasileiras, quantas devem fazer o IPO na Nasdaq nos próximos anos?
BM- Há um mercado forte no país por meio da B3, mas terão companhias que irão optar por fazer a listagem fora do mercado local, e, quando essas empresas tomarem essa iniciativa por conta própria, acreditamos firmemente que a Nasdaq é a melhor parceria para elas. Minha expectativa é que, conforme tenhamos uma recuperação do mercado, entre 6 e 12 empresas brasileiras façam o IPO nos Estados Unidos no próximo ano.
P.- Empresas brasileiras de quais setores devem fazer o IPO na Nasdaq?
BM- Empresas de tecnologia de uma forma geral. Fintechs, companhias de tecnologia do setor de educação, como a Arco e a Afya, e também vimos recentemente duas empresas de private equity fazendo a abertura de capital na Nasdaq, a Vinci e o Pátria. As pessoas geralmente pensam na Nasdaq primeiramente como um mercado de tecnologia, mas somos um mercado com um nível bastante elevado de diversificação dos negócios. Temos uma atuação muito forte também no setor de saúde e de biotecnologia. E mesmo no setor de consumo, com empresas com atuação global como a Starbucks.
P.- Qual a percepção dos investidores globais sobre as empresas brasileiras?
BM- Acho que eles veem empreendedores fantásticos, construindo negócios incríveis no Brasil. Eles conseguem diferenciar empreendedores que estão construindo seus negócios em Jacarta, em Seul, no Vale do Silício ou em São Paulo. Se for um bom negócio, os investidores vão querer estar envolvidos, seja investindo nessas empresas quando elas ainda estão em um estágio inicial como empresa de capital fechado, ou quando elas se tornam públicas por meio da abertura de capital na Bolsa, a depender do perfil de atuação de cada investidor. Há um grande ecossistema de empresas de tecnologia que estão sendo incubadas e estão crescendo no Brasil, continuamos muito animados e não tenho dúvidas de que os investidores globais também estão animados.
P.- Qual a sua visão sobre o mercado brasileiro neste momento?
BM- O Brasil ainda está no início de uma longa fase de crescimento, mas, ao mesmo tempo, já está bem à frente de uma série de outros países desenvolvendo um ecossistema de empreendedorismo e tecnologia para dar suporte a todas essas grandes companhias que estão surgindo. Há empreendedores que estão tendo êxito em crescer seu negócio, e que passam a investir em novos negócios, criando um ciclo positivo para o surgimento de novos atores nesse mercado. É um fenômeno que ocorre há 40, 50 anos no Vale do Silício, e é algo que parece que está ocorrendo da mesma forma em São Paulo.
P.- As incertezas sobre as eleições no país e a economia na região em 2023 podem incentivar as empresas a abrirem o capital no exterior?
BM- Acho difícil comentar sobre a situação política do país, não conheço o suficiente para isso. Dependendo das pessoas com quem converso, algumas acham que o Lula vai voltar à Presidência, outras acham que o Bolsonaro é quem vai ganhar. Desde que o suporte continue para os empreendedores e para que novos negócios se desenvolvam, não importa quem vença a eleição. Contanto que o eleito não atrapalhe essa evolução que começou a acontecer ao longo dos últimos anos no país, a região continuará sendo um ótimo lugar para o surgimento de novos negócios.
P.- Por que as empresas brasileiras devem considerar fazer o IPO na Nasdaq, em vez de se listar na B3 ou em outras Bolsas americanas, como a Nyse (Bolsa de Nova York)?
BM- Se a escolha da empresa for por fazer a listagem fora do país, entendemos que a Nasdaq seja a melhor opção. Isso por conta das outras empresas negociadas conosco que serão associadas a ela, as empresas listadas na Nasdaq definiram a economia global ao longo dos últimos 25 anos. Além disso, oferecemos uma melhor liquidez para as empresas que optam por fazer seu IPO na Nasdaq, damos apoio às empresas que querem se tornar públicas por meio da área de relações com investidores, e cobramos taxas menores do que nossos concorrentes.
P.- Temos visto um aumento da volatilidade para ações de tecnologia com a alta de juros pelo Federal Reserve. Esse processo tende a inibir novas aberturas de capital de empresas brasileiras na Nasdaq?
BM- O cenário atual reduz o ritmo de todos os IPOs de forma mais ampla, não é apenas em relação ao Brasil. É algo que afeta os IPOs de empresas de Israel, do sudeste asiático, da Europa, dos Estados Unidos, e atrasa esse processo, mas não o elimina por completo. O mercado está difícil neste momento, estamos esperando que ele fique mais estável, mais receptivo para os IPOs, e, quando isso acontecer, sei que as empresas brasileiras que já estão preparadas vão tirar um bom proveito do apetite dos investidores. Mas é preciso que o mercado esteja aberto para recebê-las.
P.- Quando podemos esperar uma mudança no humor do mercado? Quando o Fed encerrar o processo de alta dos juros?
BM- Todos nós gostaríamos de saber quando é que isso irá ocorrer. Tivemos notícias nesta sexta-feira (5) indicando um mercado de trabalho forte nos Estados Unidos, o que tende a gerar uma força vendedora no mercado e aumenta a pressão em cima do Fed. Vamos ter que esperar e acompanhar a evolução do cenário. Há uma série de empresas ao redor do mundo que estão esperando o mercado reabrir e se tornar mais receptivo para fazer seus IPOs e, enquanto isso, elas têm de seguir fazendo seu trabalho. Será preciso termos um ou dois IPOs bem-sucedidos para trazer de volta a confiança para que as empresas retomem seus planos de abrir o capital.
O mercado esteve em um momento muito positivo desde meados de 2020 até o início deste ano, mas infelizmente o mercado não sobe sempre. Sei que é muito frustrante para as companhias que se preparam para isso, mas elas precisam continuar fazendo seu trabalho e, em algum momento, o mercado vai se recuperar.
RAIO-X
Bob McCooey, 55
É vice-presidente da Nasdaq, responsável por liderar o desenvolvimento de negócios para novas listagens na América Latina e na região da Ásia-Pacífico. Há 16 anos na Nasdaq, ocupou vários cargos nas áreas de novas listagens e mercado de capitais da empresa. Antes de ingressar na Nasdaq, McCooey fundou e atuou como CEO da corretora The Griswold Company. De 2003 a 2006, também foi membro da diretoria da Nyse (New York Stock Exchange), a Bolsa de Valores de Nova York.
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