SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) - A Prefeitura de Salvador decidiu recuar da proposta de mudar o circuito principal do Carnaval em 2023 e vai manter a festa no próximo ano no trecho entre a Barra e Ondina, região turística da cidade.

A decisão foi anunciada nesta sexta-feira (19) pelo prefeito Bruno Reis (União Brasil), que disse ter analisado um documento do Conselho do Carnaval com detalhes sobre uma possível alteração do circuito, que migraria para a orla no trecho entre os bairros da Boca do Rio e Patamares.

"Analisei com a equipe da prefeitura com todo cuidado e brevidade que o tema necessita. Decisão tomada: o circuito da Barra-Ondina está mantido para o Carnaval 2023! Vamos fazer o maior Carnaval de todos os tempos", informou o prefeito em uma rede social.

A proposta previa a criação de um novo circuito entre em um trecho com cerca de cinco quilômetros entre a Boca do Rio e Patamares, trecho da orla de Salvador que teria maior espaço para os foliões. A região da Barra permaneceria com blocos menores, que desfilam acompanhados de bandas de fanfarra e percussão, sem trios elétricos.

A possível saída do Carnaval da Barra, um dos principais cartões postais da cidade, gerou controvérsias entre moradores, artistas, dirigentes de blocos e empresários.

No Conselho do Carnaval, havia um consenso de que não seria viável a mudança já no próximo ano. Isso porque empresas que atuam na festa já estão com contratos firmados e turistas já têm reserva em hotéis ou alugaram apartamentos no entorno do circuito Barra-Ondina.

A ideia de mudar o circuito partiu da Prefeitura de Salvador, que pretende requalificar a área entre a Boca do Rio e Patamares, com a construção de um novo calçadão e áreas de lazer. A obra, contudo, ainda está em fase de licitação.

Presidente do Conselho do Carnaval, o empresário Joaquim Nery disse à reportagem em julho que a mudança não estava no radar dos empresários, que chegaram a discutir nos últimos a anos a criação de mais um circuito, sem acabar com o da Barra.

"De fato, a Barra tem alguns problemas estruturais, ficou uma área relativamente pequena para o público que tem. Mas essa mudança não é uma demanda do setor carnavalesco", disse.

A saída do Carnaval da Barra também gerou reações entre artistas. Dono de blocos de Carnaval em Salvador, o cantor Bell Marques disse considerar precipitada qualquer mudança para 2023, ano em que o Carnaval vai voltar em Salvador depois de um hiato de dois anos sem festa.

"Precisamos saber se vamos levar essa mesma energia porque o público ir é uma coisa, levar a energia e ter liga é outra. Se alguém está pensando que é só botar um trio elétrico e tudo vira Carnaval, está com um pensamento equivocado", afirmou o cantor, que participa da festa há mais de 40 anos.

Ele ainda afirmou não ter sido consultado sobre o projeto, disse que teria contribuições a dar e defendeu que sejam realizados eventos-teste no período de pré-Carnaval antes de qualquer mudança definitiva.

A região da Boca do Rio já abrigou um pré-Carnaval conhecido como Farol Folia no início dos anos 2000. A festa passou a ser organizada após a proibição da participação de trios elétricos na Lavagem do Bonfim. A experiência, contudo, durou apenas um ano.

A Associação de Moradores da Barra defende a saída dos trios elétricos da região há pelo menos cinco anos e argumenta que a festa causa problemas de mobilidade, poluição e violência na região.

Outro grupo de moradores e empresários organizaram o movimento "SOS Carnaval Salvador" para tentar impedir a saída do Carnaval do bairro.

Além do Barra-Ondina o Carnaval de Salvador ainda tem outros dois circuitos principais: um no Campo Grande e outro no Pelourinho, ambos na região central da cidade.


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