BARRETOS, SP (FOLHAPRESS) - Última quinta (18): 30 peões iniciaram a final do circuito da PBR (Professional Bull Riders) na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, interrompida por dois anos devido à pandemia. Só oito conseguiram ficar oito segundos montados nos touros, tempo exigido para que a montaria seja válida e permita ao peão pontuar.
O que poderia ser um fato isolado é algo que tem ocorrido com frequência nos rodeios profissionais no país. Fruto de melhoramento genético, os touros estão cada vez mais difíceis de serem montados.
Se, no passado, os touros eram grandes e pesados, hoje são mais baixos, trocaram gordura por músculo e estão mais ágeis. E também mais agressivos.
Isso se reflete no desempenho nas arenas, tornando as montarias mais imprevisíveis por dificultarem o trabalho dos peões, e também na valorização financeira dos animais.
"Anos atrás os bois eram pesados, mas não tinham muita genética. Hoje estão grandes porque a alimentação é melhor, se exercitam e há a genética. São grandes, mas têm pouca perna, são mais rápidos, ágeis, mais explosivos", disse o tropeiro Guto Paglione, que há 30 anos trabalha com animais para rodeio na companhia que leva seu nome e que tem 20 touros selecionados para a Festa do Peão de Barretos.
Em 2019, a venda do touro Reza a Lenda por R$ 520 mil foi recorde no setor, mas hoje há animais com valor de mercado que já supera R$ 1 milhão.
"Já ofereceram R$ 1,3 milhão e o proprietário não quis vender. Quando custou R$ 520 mil já era uma coisa absurda, mas por causa da raridade. Se tivesse dez, não custaria isso", conta Adriano Moraes, diretor da PBR Brasil, tricampeão mundial de montarias em touro e embaixador da festa barretense deste ano.
A genética para alcançar o touro pulador ideal começou a ser desenvolvida no Brasil há cerca de duas décadas, mais de 30 anos após os EUA começarem a investir na busca para os rodeios, e os resultados começaram a aparecer com mais intensidade nos últimos anos.
Cada animal fruto de fertilização in vitro pesa em média de 800 quilos a 900 quilos e tem um custo mensal de manutenção --sem contar veterinários, zootecnistas e tratadores-- que chega a R$ 1.000.
O cruzamento direcionado para performance nas arenas já é a regra nos rodeios dos EUA. Aqui, a base é um animal da raça nelore (zebu) cruzado com holandês ou simental, por exemplo.
"Todos os animais que se apresentam na PBR americana são de genética. Ninguém lá nem experimenta mais [touros comuns], é como se fosse outra espécie. Acredito que aqui muito em breve será assim", disse Moraes.
Tropeiro, ex-competidor nos EUA e atualmente comentarista de rodeio, André Metzker disse que a valorização dos animais tem sido grande, com uma filha de touro de pulo bom sendo vendida num leilão que realizou por R$ 33 mil, quase dez vezes mais em relação a outrora.
"Houve uma valorização enorme com a origem comprovada de genética."
Comentarista de rodeio, Emilio Carlos do Santos, o Cacá, ex-presidente de Os Independentes, resumiu bem um touro que participou de montaria na Festa do Peão. "Peso de elefante, agilidade de macaco", disse, sobre um touro que derrubou um peão.
O PEÃO QUE LUTE
Com esse desenvolvimento dos touros, o papel que cabe aos peões, contam os envolvidos, é investir em treinamento técnico e físico. "Eles têm de ser cada vez mais leves, com reflexo mais aguçado e, claro, com a técnica mais apurada", disse Moraes.
Para Paglione, desvendar a tática do touro é primordial para os competidores. "Animal é como um jogador de futebol. Ele tem o dom de fazer determinada coisa, como pular para um lado específico. Ele se condiciona a agir assim e cabe ao peão ter a informação."
Metzker afirmou que os peões estão ficando mais técnicos e buscando também amparo de profissionais como personal trainer e nutricionistas.
Mas os touros ainda levam vantagem com a aceleração do desempenho nas arenas.
Em uma competição com bom desempenho dos peões, em média eles conseguem parar em pouco mais de 50% das montarias, índice que tem sido desafiado nas últimas provas graças ao avanço dos animais.
CRÍTICAS DE ASSOCIAÇÕES PROTETORAS
Questionada por associações de proteção animal, que apontam maus-tratos nas provas de montarias nos rodeios, a Festa do Peão de Barretos iniciou nos últimos anos a divulgação de informações que qualifica como "verdades e mentiras" sobre o rodeio.
As entidades afirmam que o sedém (cinta presa ao animal) e a espora machucam os animais e que há muitas lesões nos touros.
Barretos alega que o sedém é de algodão e não é apertado o suficiente para causar lesão ou dor, servindo como estímulo para que o animal pule. Ainda segundo a festa, a taxa de lesões é baixíssima e as esporas não são pontiagudas.
A Festa do Peão de Barretos acontecerá até o dia 28 com mais de cem shows distribuídos por cinco palcos.
A arena de rodeios, além da etapa final da PBR, encerrada neste domingo (21), abrigará também as finais da LNR (Liga Nacional de Rodeio) de 22 a 24 e dia 27, e a 28ª edição do Barretos International Rodeo, de 25 a 28.
Os ingressos custam de R$ 30 a R$ 370. Em camarotes open bar, o preço antecipado custa até R$ 3.490.
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