SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pesquisadores chineses detectaram um novo henipavirus -o Langya henipavirus (LayV)- em exames de vigilância de rotina em pacientes febris. Após o primeiro caso, outros 35 pacientes, nas províncias de Shandong e Henan, foram identificados com infecções pelo novo vírus, segundo uma correspondência publicada na revista científica NEJM (New England Journal of Medicine), no começo deste mês.

Se você está começando a ficar preocupado com o surgimento de um novo vírus e dezenas de casos identificados, pode se acalmar. Trata-se de um "novo" ligado à novidade e não a uma questão temporal. O primeiro caso de infecção pelo LayV foi documentado antes de 2019, ou seja, antes mesmo da pandemia de Covid-19. Já os últimos relatados são de 2021.

A situação com o LayV, então, não é nada próxima ao que o mundo viu com a atual pandemia do Sars-CoV-2, que, em poucos meses, estava espalhada pelo mundo.

"Nada para tirar nem um minuto de sono", afirmou o virologista Maurício Lacerda, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto. "Não não é nada preocupante."

Entre todos os pacientes apresentados no estudo, 26 estavam infectados somente com o LayV. Febre estava presente em toda essa parcela com infecção exclusiva. Mais da metade (54%) tinha fadiga e exatamente metade apresentava tosse e perda de apetite. Outros sintomas comuns foram mialgia (46%), náusea (38%), dor de cabeça (35%) e vômito (35%).

É provável que a origem da febre das pessoas fosse a infecção pelo vírus, aponta o estudo.

Os pesquisadores conseguiram encontrar o vírus também em cabras e em cachorros. Na vida selvagem, o LayV foi achado especialmente em musaranhos (um pequeno mamífero), que poderiam, dizem os cientistas, ser o reservatório natural do novo vírus.

E aqui vem uma parte importante: não foram observados sinais de transmissão entre humanos. Segundo os pesquisadores, não havia histórico de contato ou pontos de exposição comum entre os pacientes com o vírus. Os cientistas ainda fizeram rastreamento de contatos de nove pacientes e não encontraram transmissão dentro do grupo -pequeno, deve-se dizer.

As informações obtidas em cerca de dois anos de observações sobre o vírus apontam para infecções humanas esporádicas, dizem os autores.

Segundo Nogueira, nos últimos anos ocorreram a descoberta de diversos novos vírus graças a novas ferramentas de identificação.

De toda forma, claro que um novo vírus descoberto no país que teve o registro dos primeiros casos de Covid pode causar uma certa sensação de incômodo nas pessoas. Nogueira alerta, porém, sobre a importância da vigilância de vírus feita na China.

"O Brasil faz muito pouco esse tipo de investigação. Você acha que nós não temos coisas semelhantes ocorrendo no Brasil? Claro que nós temos. A China está procurando vírus novos, procurando entender o que acontece na biodiversidade deles, nos doentes deles, na população. Serve de alerta porque o Brasil deixou de fazer isso", diz o pesquisador brasileiro.

O olhar sobre a natureza é importante exatamente pelo risco dos chamados spillover de zoonoses, ou seja, quando um vírus que ocorre em animais consegue pular para outra espécie, como seres humanos -desmatamentos podem ajudar nesse transbordamento. Essa é a origem mais provável para a pandemia de Covid e para os casos de LayV detectados.

Esses casos de LayV também podem chamar a atenção da comunidade científica pelo vírus pertencer aos henipavirus. Dentro desse grupo estão os bastante letais vírus nipah e hendra --cujos reservatórios naturais são, comumente, morcegos.

Os surtos de ambos, até hoje, foram localizados, até mesmo pela sua agressividade e forma de transmissão, diz Nogueira.

Não há registro de transmissão entre humanos do vírus hendra. No caso do nipah, há registro de transmissão entre humanos. "Existe uma atenção muito grande na comunidade para esses vírus", diz o cientista brasileiro, que ressalta que não o caso em questão não é motivo de preocupação.


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