Há alguns dias, conversando com a Delimar Scoralick, uma corretora de imóveis amiga minha, ela me fez uma pergunta intrigante, que não soube responder na hora... e continuo sem saber.
Assim, resolvi compartilhá-la aqui com vocês para ver se conseguem me ajudar.
Mas, antes de entrar na questão propriamente dita, queria contextualizar a conversa compartilhando algumas imagens de propagandas antigas (extraídas de www.wefashiontrends.com):
E o que essas imagens têm a ver com arquitetura?
Voltando ao início do texto, a pergunta da corretora foi:
- Quando você faz projetos de casas, qual espaço é feito pensando na mulher?
E continuou:
- Quando vamos vender imóveis para os clientes, falamos do “cantinho do guerreiro" (espaço gourmet) para encantar ao esposo. E, para a esposa, mostramos que a cozinha é ampla, ou que o piso é fácil de limpar…
E fiquei pensando que ao apresentar os projetos de arquitetura as conversas não são muito diferentes: espaço gourmet e até mesmo uma sala de TV/Videogame privativa endereçada aos homens e, para encantar às mulheres: cozinha funcional e próxima à área de serviço para facilitar o dia a dia; piscina à vista da cozinha para facilitar tomar conta das crianças; garagem perto da despensa para facilitar a chegada das compras de mercado.
Historicamente a arquitetura manifesta, em seus ambientes, a forma de uso dos espaços que, por sua vez, é fruto das percepções e costumes culturais.
Durante o período colonial, por exemplo, para se chegar ao quarto das meninas (pequenos cômodos sem janelas, as alcovas), precisava-se passar por dentro do quarto dos pais. Assim, esses ambientes eram projetados para facilitar o controle dos pais sobre as filhas. E a arquitetura auxiliava e perpetuava esse controle.
Se provavelmente aquelas propagandas não causassem estranheza na época, e as alcovas também fossem vistas com naturalidade, hoje em dia, seria impensável para um bom projeto de arquitetura propor algo parecido.
Mas vemos com certa naturalidade o “cantinho do guerreiro” ser proposto para os homens e a funcionalidade da cozinha ser proposta para as mulheres tanto na venda do imóvel quanto no desenvolvimento do projeto.
É certo que é virtuoso um projeto que pensa na funcionalidade, facilidade de uso e manutenção da casa. Na integração de ambientes para aumentar a segurança e cuidado com as crianças.
Mas será que sem querer não estamos perpetuando um comportamento social que já está na hora de ser superado?
Área de serviço ao lado da cozinha faz sentido se pensamos em facilitar o trabalho de uma empregada doméstica, ou do modelo da maioria das famílias onde a mulher faz o primeiro turno de trabalho em suas funções profissionais e o segundo como “dona de casa”.
Mas isso poderia ser diferente?
Sim. Projetamos uma casa para um casal onde ela assumia a cozinha e ele a área de serviço. E o pedido refletia isso: a área de serviço deveria ficar próxima dos quartos e não da cozinha, pois as roupas de cama, banho e corpo saiam direto dos quartos e banheiros para serem lavadas ali.
Cada projeto é único, mas temos visto que, de um modo geral, “vendemos” a ideia do lazer para o homem e da funcionalidade da limpeza para a mulher.
Daí volto à pergunta da corretora:
- O que é projetado pensando na mulher?
Continuo sem resposta e gostaria muito que as mulheres que chegaram até aqui respondessem aí embaixo:
- Que espaço na casa gostaria que fosse projetado para você?
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