SANTOS, SP (FOLHAPRESS) - A Marinha adiou a realização de exercícios de tiros na Ilha da Sapata, a segunda maior do arquipélago de Alcatrazes, paraíso ecológico próximo a São Sebastião, no litoral norte de São Paulo.
O evento estava programado para os dias 16 e 17 de agosto, mas acabou suspenso após repercussão nas redes sociais e mobilização de ativistas. Procurada, a Marinha não confirmou os motivos para o adiamento da atividade.
Uma das iniciativas foi um abaixo-assinado que criticava a realização da prática durante o período reprodutivo de inúmeras espécies de aves, principalmente as fragatas, que poderiam sofrer prejuízos com o impacto sonoro dos explosivos. O documento recebeu pouco mais de 24 mil assinaturas online.
"O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) orientou a Marinha do Brasil, por meio de ofício, pelo adiamento do exercício de tiro marcado para os dias 16 e 17 de agosto. Em resposta ao ICMBio, a Marinha do Brasil adiou a atividade agendada na região", disse em nota o órgão vinculado ao Ministério do Meio Ambiente.
O ICMBio já havia oficiado a Marinha no último dia 5 de agosto sobre a impossibilidade de realização do exercício. Segundo eles, a última vez que o evento aconteceu neste mês foi em 2008.
"Nas aves, segundo levantamento do Cemave (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres), perturbações no ninhal em época reprodutiva podem causar até 75% de perda de ninhegos e ovos das fragatas, por causa do comportamento de sabotagem dos machos não pareados quando os ninhos ficam desprotegidos, após uma revoada brusca dos pais", explicou na ocasião, também em nota.
Desde 2013, após 33 anos de reivindicações de ambientalistas e um período de "cessar fogo" determinado pela Justiça, a Marinha deixou de utilizar o Saco do Funil, a ilha principal do arquipélago. .
Três anos depois, o local se transformou em um Refúgio de Vida Silvestre, unidade de conservação do ICMBio. A mudança não abrigou a Ilha da Sapata, a segunda maior.
Mesmo assim, há um termo de compromisso vigente para que a prática ocorra somente entre os meses de novembro e abril, monitorada por observadores.
Empresas turísticas do litoral norte, credenciadas pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), passaram a realizar passeios embarcados para o avistamento de aves marinhas como fragatas, gaivotas, trinta réis, atobás, entre outras.
"Os barulhos criam estresses para as aves, que são sensíveis. Filhotes podem cair dos ninhos e há, também, um volume considerável de baleias por conta da migração. Acredito que houve um sério erro de comunicação, pois nunca haviam tentando infringir o termo", disse Júlio Cardoso, integrante do conselho do Refúgio e diretor do Baleia à Vista, projeto que monitora a bordo baleias pelo litoral.
Não há, segundo ele, garantias de que os tiros não afetariam a migração das baleias. Há mais de 70 avistadas na região só em 2022.
"As baleias se comunicam por sons e estão em intenso processo reprodutivo. Sons projetados fora da água, em um primeiro momento, não atrapalham, mas é de suma importância medirem com hidrofones para saber o real impacto das explosões no mar", explica.
A queda de braço entre ambientalistas e as atividades de tiro realizadas pela Marinha é antiga.
Os ativistas dizem que os tiros também podem atingir animais em trânsito pelas ilhas. Donos de empresas de turismo náutico também reclamam por conta do fechamento de unidades de conservação durante as atividades.
Vereadores de São Sebastião também se mobilizaram para evitar a prática,.
Ao todo, são mais de 1.300 espécies de fauna e flora catalogadas. O local abriga, também, a maior diversidade de peixes do país, com espécies únicas das ilhas do arquipélago sequer catalogadas.
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