BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A possibilidade de o presidente Jair Bolsonaro (PL) transformar as festividades do 7 de Setembro em novos atos golpistas é vista com preocupação por aliados, que temem que novos ataques às urnas eletrônicas consolidem a rejeição ao mandatário e desencadeiem uma nova reação de setores econômicos.

A apreensão se ampliou após Bolsonaro anunciar que irá ao Rio de Janeiro no feriado da Independência e que o desfile militar, que ocorre tradicionalmente pela manhã na avenida Presidente Vargas, neste ano poderia ser à tarde na avenida Atlântica, na orla de Copacabana -local em que geralmente ocorrem manifestações favoráveis ao presidente.

"Sei que vocês [paulistas] queriam [que o ato fosse] aqui [em SP]. Queremos inovar no Rio. Pela primeira vez, as nossa Forças Armadas e a as forças auxiliares estarão desfilando na praia de Copacabana", anunciou Bolsonaro, durante a convenção que lançou o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) candidato ao governo de São Paulo.

Em edital publicado no Diário Oficial do Município de quinta-feira (4), a Prefeitura do Rio contrariou os planos do presidente e manteve o desfile na região central.

No sábado (6), Bolsonaro reafirmou que participaria do ato em Copacabana no 7 de Setembro, mas, dessa vez, não citou a participação das Forças Armadas.

"Estarei 10h em Brasília, num grande desfile militar, e às 16h em Copacabana, no Rio de Janeiro. Mas estarei ligado aqui. Terei uma satisfação muito grande caso tenha oportunidade de falar num telão com vocês que participarão desse movimento", afirmou a apoiadores após participar de motociata no Recife.

A avaliação entre aliados do mandatário é que usar o Bicentenário da Independência para tentar repetir os ataques contra ministros do STF e para espalhar teorias da conspiração sobre o sistema eletrônico de votação pode ser um novo tiro no pé.

Eles citam como exemplo a reunião realizada com embaixadores no Palácio da Alvorada, em 18 de julho, que inaugurou uma sucessão de notícias ruins para o Planalto: manifestações contrárias da cúpula do Judiciário, de servidores de diversos órgãos e até mesmo de governos estrangeiros.

Além do mais, foi em resposta ao que Bolsonaro disse aos embaixadores, afirmam aliados, que importante parcela do empresariado e da sociedade civil aderiu à carta em defesa do Estado de Direito, organizada pela Faculdade de Direito da USP e que já tem mais de 760 mil assinaturas.

Entre os signatários estão os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, copresidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco, e Candido Bracher, ex-presidente da instituição financeira e hoje também integrante de seu conselho.

O grupo também organizou um ato no próximo dia 11 para lançar o manifesto na USP.

Se no 7 de Setembro Bolsonaro repetir a receita golpista oferecida aos diplomatas estrangeiros, aliados alertam que pode não haver tempo hábil de reverter a possível rejeição ou as consequências de uma nova crise institucional que o episódio tem potencial de gerar.

Entre os envolvidos no projeto de reeleição de Bolsonaro, uma parcela avalia que o discurso golpista não traz votos para o mandatário, que está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.

De acordo com o Datafolha, Bolsonaro pontua 29%, ante 47% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo interlocutores no Planalto, o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa, foi escalado para ter uma conversa mais detalhada com Bolsonaro sobre o tema.

O ex-ministro da Defesa, dizem assessores, pode até desconfiar do sistema eleitoral, mas não tem demonstrado interesse em incendiar a relação com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e o STF.

Aliados, contudo, reconhecem que é impossível ter previsibilidade com o chefe do Executivo. E que há auxiliares próximos de Bolsonaro que gostam de reforçar seu comportamento de ataques a magistrados e às instituições, principalmente aqueles que compõem a ala ideológica.

A convocação para o 7 de Setembro no Rio repetiu situações vivenciadas por pessoas próximas a Bolsonaro em ocasiões anteriores: sem a participação ou articulação dos responsáveis por tocar a campanha do presidente. Os próprios militares foram pegos de surpresa e correm contra o relógio para atender à determinação de Bolsonaro a cerca de um mês do feriado.

Em tese, as festividades do feriado nacional deveriam ser eventos de Estado, desprovidos de conotação partidária.

Mas Bolsonaro usou a mesma data no ano passado para realizar manifestações de teor golpista em Brasília e em São Paulo. Em discurso na avenida Paulista, em São Paulo, o presidente exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República.

Aliados dizem que o cenário ideal para Bolsonaro é que o feriado neste ano seja marcado por grandes comícios em favor do presidente pelo país. Evitar que o público presente faça ataques às urnas ou entoe cantos contra o Supremo, no entanto, é tarefa praticamente impossível, uma vez que essas pautas são caras ao bolsonarismo e ao próprio presidente. Dessa forma, aliados defendem que pelo menos Bolsonaro evite essas temáticas.

O presidente chamou seus apoiadores para irem às ruas na convenção do PL que oficializou sua candidatura e a de Braga Netto. "Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de Setembro, vá às ruas pela última vez. Vamos às ruas pela última vez", disse, sob gritos de "mito".

Além disso, aproveitou sua fala na convenção para a plateia de bolsonaristas para atacar os ministros do STF, sem mencionar diretamente os seus alvos favoritos, Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.

"Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o Poder Executivo e o Legislativo. Todos têm que jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Isso interessa a todos nós", afirmou, em referência aos magistrados.

Em outros momentos, apoiadores do presidente vaiaram os ministros do STF e gritaram "Supremo é o povo".

Apesar do teor do discurso, aliados do presidente ficaram aliviados, na convenção, com o fato de ele não ter citado as urnas eletrônicas ou ter lançado novos questionamentos ao sistema eleitoral.


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