BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) - O incêndio desta quarta (31) no prédio central do Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista) em Rio Claro, no interior de São Paulo, destruiu equipamentos e um acervo científico utilizado desde os anos 50 para pesquisa e ensino.
Entre as principais perdas está um exemplar conservado em etanol do anfíbio Holoaden bradei, cujo nome popular é sapinho-manicure.
A espécie era abundante na natureza até a década de 1970, mas desapareceu por razões desconhecidas, segundo o professor de zoologia dos vertebrados da Unesp em Rio Claro, Célio Haddad. "Aparentemente foi vitimada por alguma doença involuntariamente propagada pelo ser humano", diz o especialista.
Ainda não há confirmação de que a espécie tenha sido extinta. O sapinho-manicure, porém, foi visto pela última vez na natureza em 1979, segundo o portal Invivo, da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz).
Outra perda foi uma coleção de obras importadas de Nápoles, na Itália, com fotos e informações sobre animais marinhos. "Era uma coleção zoológica primorosa, envolvendo principalmente animais marinhos mediterrâneos, desde invertebrados, como esponjas, águas vivas e moluscos, a peixes", conta Haddad.
"Os estudantes conseguiam visualizar com facilidade as características dos seres vivos. A perda foi imensa e não conseguiremos repor um material similar nem no médio prazo", lamenta o professor, que deu aula no prédio na noite anterior à do incêndio.
Haddad diz que foram destruídos também esqueletos, conchas, insetos, exemplares empalhados de aves e mamíferos, espécimes de peixes, anfíbios e répteis conservados em etanol reunidos ao longo dos últimos 40 anos.
Ao menos parte do material já pertencia ao Instituto de Geociências da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, criado em Rio Claro em 1958. Transformado em Instituto de Biociências, a escola passou a integrar a Unesp em 1976, ano em que a universidade foi criada.
Entre equipamentos, dezenas de microscópios foram destruídos, segundo o professor, que dá aulas na escola há 34 anos. "Estou desolado e nem sequer sei como farei para continuar ensinando a parte prática. É possível que eu me aposente depois desse episódio. É muito desestimulante ser professor e pesquisador num país que não valoriza o conhecimento", diz Haddad.
O professor afirma acreditar que o incêndio teve início nas instalações elétricas do prédio.
A direção da unidade universitária tinha conhecimento da necessidade de reformas nas instalações da escola em Rio Claro, segundo nota divulgada pela instituição. O texto diz que o processo licitatório para as obras estava sendo preparado.
"A reforma no predio central do IB (Instituto de Biociências) de Rio Claro, com troca das redes eletrica e hidraulica, estava prevista para ocorrer em 2023 e era uma das principais metas da unidade universitaria", afirma a nota.
A Unesp diz ainda que os prejuízos materiais e científicos estão sendo dimensionados e que as causas do incêndio estão sendo apuradas. As aulas no prédio estão suspensas.
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