O vaqueiro Soropita ama Doralda. Ama de um jeito que é capaz de montar a cavalo, sair de uma comunidade chamada Ão, em um grotão mineiro em que vive, para ouvir capítulos de radionovela no distrito de Andrequicé, na cidade de Três Marias (MG), onde conseguia captar a transmissão. Ão é uma comunidade fictícia criada pela genialidade de João Guimarães Rosa, no conto Dão-lalalão, do livro Noites do Sertão, publicado pela primeira vez no ano de 1956.Claudio Paixão contextualiza que contar histórias brasileiras também significou uma ação estratégica para a região, uma vez que emissoras estrangeiras faziam o papel de comunicação no interior. A primeira radionovela produzida especificamente pelos profissionais da Rádio Nacional da Amazônia foi A História do Dito Gaioleiro (escrita em 1979 e levada ao ar em 1980). “Embora seja uma produção infantil, o que a gente percebe nessa radionovela é o interesse dela em passar lições sobre o cuidado com o meio ambiente e de não deixar os pássaros presos em gaiolas, com discussões sobre ética e cidadania”.
Depois vieram as radionovelas para adultos, como Dois Corações, que foi produzida a partir da sugestão de um ouvinte. O pesquisador cita que tiveram ainda novelas que retratam como trabalhadores foram atraídos para o garimpo, deixando a família pra trás. Histórias que eram exclusivas para a Amazônia. “Se a gente pensar no Brasil mais profundo, entendemos como o rádio desempenha um papel muito importante. As radionovelas são frutos da relação que a emissora construiu com os ouvintes”.
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