“Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1.822
Pedro,
O Brasil está como um vulcão”.
Mais direta, impossível. Era mais do que uma correspondência de amor. O início da carta de Maria Leopoldina da Áustria, então com 25 anos de idade, para o marido, o imperador D.Pedro I, manifestava angústia e um chamado para uma transformação do Brasil. Na verdade, uma separação (de Portugal).
Constrangimentos e sagacidade
A pesquisadora Mary Del Priore entende que há influência das relações pessoais e familiares de Leopoldina no contexto político. A esposa do imperador foi constrangida pela exposição frequente pública da amante, Domitila de Castro, a Marquesa De Santos, em compromissos da família que governava o Brasil.
“A Leopoldina, que está no papel, representou uma criatura muito sofredora e extremamente vilipendiada e humilhada pelo marido. Mas teve uma atuação muito importante em todo o processo ”, afirma Mary Del Priore.
A pesquisadora contextualiza que, até a Revolução Francesa (1789), a sexualidade dos príncipes e dos reis era algo associado à virilidade de quem ocuparia o trono. “O rei seria considerado poderoso se ele tivesse muitas amantes e filhos Depois, no final do século 18, e no início do século 19, com todos os ideais iluministas e republicanos, ter uma amante significaria que o homem era fraco”.
O escritor Clóvis Bulcão entende que as relações extraconjugais do marido vão ser o caminho da "desgraça" dela.