Projeto de área que desabou em SP foi alterado irregularmente, diz prefeitura

Por STELLA BORGES

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - A Prefeitura de Itapecerica da Serra, cidade da Grande São Paulo, informou nesta quarta-feira (21) que interditou o terreno da empresa Multiteiner, onde ocorreu um desabamento que deixou nove mortos e 31 feridos na manhã de terça (20). Segundo a administração municipal, o projeto aprovado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) foi irregularmente alterado.

Segundo a secretaria municipal de Planejamento e Meio Ambiente, o projeto anteriormente aprovado pela Cetesb foi irregularmente alterado, e sua regularização junto aos órgãos públicos estava em trâmite. O arquiteto Marcelo Mota, que assessora a secretaria, afirmou que um outro proprietário pediu, em 2008, a aprovação do projeto para a Cetesb. No entanto, o imóvel foi negociado com a Multiteiner, que fez alterações ao longo do tempo.

Em pronunciamento a jornalistas na tarde de hoje, o prefeito da cidade, Francisco Nakano (PL), e técnicos explicaram que, por estar inserido em uma área de proteção e recuperação de mananciais, a regularização do imóvel deveria ser feita na Cetesb antes da obtenção da licença municipal.

Segundo Mota, a finalidade do local também foi alterada de comercial para industrial. Questionado se é possível dizer que a obra estava irregular, ele respondeu que, "de certa forma sim, porque a gente exigiu a regularização". "Ele executou de forma irregular aquilo que ele executou. Ele não alterou só o prédio como a finalidade do prédio."

A reportagem procurou a Cetesb a respeito do caso e aguarda retorno. A reportagem também tenta contato com representantes da Multiteiner. O espaço está aberto para manifestação.

O que aconteceu?

O acidente matou ao menos nove pessoas, que assistiam a uma palestra de dois candidatos das eleições deste ano: Jones Donizette (Solidariedade), que disputa uma vaga na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo), e Ely Santos (Republicanos), que tenta ser deputada federal.

Eles tinham acabado de discursar para os funcionários quando o local desabou. Ambos ficaram feridos, mas estão bem.

Cerca de 60 pessoas estavam no local no momento do desabamento. O prefeito disse que os nomes das vítimas não seriam divulgados em respeito às famílias.

Prefeitura decretou luto. O prefeito decretou luto de três dias na cidade após o desabamento. Médico socorrista, ele ajudou no atendimento às vítimas no local.

"Recebi uma ligação e, quando tomei conhecimento, fui direto para lá. Trabalhei como resgatista e fui fazer atendimento como médico. Fizemos de tudo, todo o grupo, para salvar todas as vidas", disse.

O que diz a polícia?

Em nota, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) informou que foram solicitados exames junto ao IC (Instituto de Criminalística) e ao IML (Instituto Médico Legal).

"O caso segue em investigação na Delegacia de Itapecerica da Serra, que apura todas as circunstâncias para a elucidação dos fatos. Testemunhas serão ouvidas e imagens do local estão sendo analisadas pela equipe da unidade para auxiliar nas investigações."

Sobrevivente viu parede rachar. A empregada doméstica Vera Lucia do Nascimento, 48, contou ao site UOL que estava no trabalho quando recebeu uma ligação avisando que seu filho, Kleber Erlei do Nascimento, 34, havia sofrido um acidente no trabalho.

Vera Lucia relatou que, após a palestra, as pessoas se aglomeraram para comer quando o filho viu a parede rachar e a área desabar.

Mesmo machucado na perna esquerda, Kleber conseguiu se arrastar dali, mas a parte inferior do local estava cheia de ferros. Um dele perfurou o braço do funcionário.

O funcionário fraturou a perna e o braço direito e precisou passar por uma cirurgia, na perna, para colocar pinos. Ele ficará internado no Hospital Geral da cidade, sem previsão de alta.