SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Jairo Severiano, historiador, produtor e um dos maiores pesquisadores de música popular brasileira, viveu longe dos holofotes e da fama.
Após a morte da mãe, de quem cuidou até os últimos dias, ele morou com a irmã. Solteiro e sem filhos, com a partida dela há alguns anos, viveu somente com uma cuidadora.
Cearense de Fortaleza, passou parte da infância e adolescência em Fortaleza, Natal e Recife. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1950, já funcionário concursado do Banco do Brasil.
Jairo começou a gostar de música ainda criança. Na época, acompanhava as transmissões de uma rádio no Ceará, sentado à janela da própria emissora.
"Ele me contou que, mais crescido, ouvia os programas de auditório da rádio Nacional e ficava fascinado. Quando veio ao Rio, quis assisti-los e teve uma grande decepção. Não era nada daquilo que imaginava", relata Rodrigo Faour, jornalista e escritor.
"Ele também me falou que o pai era uma pessoa muito simplória e não ligava para rádio, ao contrário de Jairo, que ouvia rádio na casa de vizinhos e amigos, porque não tinha em casa. Anos depois teve dinheiro e comprou o primeiro aparelho", acrescenta.
A partir daí, Jairo começou a pesquisar e colecionar discos, recortes e matérias sobre música. Em 1970, decidiu catalogar os discos em 78 rpm (rotações por minuto) feitos no Brasil entre 1902 e 1964. O material, editado pela Funarte, deu origem ao livro "Discografia Brasileira em 78 rpm" (1982), de sua autoria. Também assinaram a publicação Miguel ngelo de Azevedo (Nirez), Gracio Barbalho e Alcino Santos.
Entre seus importantes trabalhos, consta a obra "Yes, Nós Temos Braguinha" (1987), biografia do compositor, cantor e produtor Carlos Alberto Ferreira Braga (1907-2006, conhecido como João de Barro e Braguinha).
Jairo também produziu álbuns que entraram para a história da MPB, como os dois volumes da "Canção no Tempo - 85 anos de Músicas Brasileiras" (1997 e 1998), com Zuza Homem de Mello.
"Eles pegaram as músicas relevantes dessa fase e foram atrás das histórias delas. Jairo não se identificava com a música feita a partir de 86. Depois, resolveu fazer o próprio livro de história, 'Uma História da Música Popular Brasileira - das Origens à Modernidade' (2008)", afirma o jornalista.
Também foi Jairo quem assinou a produção de três álbuns duplos, de Dorival Caymmi (1914-2018), Tom Jobim (1927-1994) e outro com a obra de Ary Barroso (1903-1964), com a participação de vários intérpretes. Os trabalhos datam de 1985, 1987 e 1992, respectivamente.
Jairo foi marcado pela generosidade. Ele estava sempre disponível e disposto para ajudar e compartilhar sua bagagem cultural com pesquisadores, cantores e com quem o procurasse.
"O Jairo fez uma escola para nós, da nova geração. Ele tinha o preciosismo da pesquisa. Esse preciosismo ele me passou, de lidar com a pesquisa de forma séria. Curiosamente, apesar de não ser jornalista, ele escrevia muito bem. Tinha um poder de síntese fantástico. Isso era uma marca dele", diz Rodrigo.
Jairo morreu dia 27 de agosto, aos 95 anos. A sua morte foi descoberta e divulgada pelo Rodrigo Faour no dia 21 de setembro.
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