BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O advogado Marcos Pollon, 41, será um dos representantes do PL do Mato Grosso do Sul na Câmara dos Deputados a partir do próximo ano. Ele ganhou notoriedade ao conduzir o Proarmas, que se autointitula um movimento pela busca do "direito fundamental" da legítima defesa.

Maior grupo armamentista do país, o Proarmas atua, principalmente, em favor dos CACs (caçadores, atiradores e colecionadores).

Para Pollon, que obteve 103.111 votos, um policial que prende um atirador no trajeto entre o local de guarda do acervo da arma e o de treinamento comete um crime.

"Quem prende um CAC nessa condição está prendendo em abuso de autoridade. Quem tá cometendo crime é o policial", afirmou à Folha.

Decreto do governo Bolsonaro especificou que os CACs têm permissão de carregar armamento independente da rota e do horário.

A Folha mostrou que atiradores têm aproveitado as brechas para andarem armados mesmo quando não estão a caminho do local de prática.

A PRF flagrou, por exemplo, um atirador com uma pistola e anfetamina em quantidade para consumo, que admitiu não estar indo a um clube de tiro. Um adolescente foi apreendido sob a suspeita de atirar em três colegas dentro de uma escola estadual com arma de CAC.

Pollon é aliado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, que já foi às redes para criticar a atuação da PRF na abordagem a CAC.

Folha - Dos 88 candidatos apoiados pelo Proarmas, 38 venceram as eleições ou foram para o 2° turno. Qual sua avaliação?

Marcos Pollon - Excelente, demonstrou a força da pauta e sedimentou de uma vez por todas que o cidadão brasileiro quer ter direito de acesso à legítima defesa. Em 2005, nós elegemos o referendo [maioria da população respondeu que o comércio de armas de fogo não deveria ser proibido no Brasil]; em 2018, elegemos o presidente com essa pauta e, agora, elegemos uma bancada.

Folha - O senhor vai conseguir conciliar as funções de deputado e presidente do Proarmas?

Marcos Pollon - As eleições provaram que o Proarmas está bem solidificado. Eu consigo delegar bastante. Além disso, os coordenadores estaduais têm autonomia, trabalham muito bem.

Folha - Qual será sua pauta prioritária no Congresso?

Marcos Pollon - A pauta primordial é a defesa da vida. A gente não gosta de armas pelo que elas são, a gente gosta pelo que elas defendem. Só existe um jeito de parar um homem mau armado: é ter um homem bom armado, e as armas fazem parte disso.

O senhor defende a revisão do Estatuto do Desarmamento?

Marcos Pollon - Sim.

Folha - Qual tipo de projeto pretende apresentar em relação às armas? É liberar porte?

Marcos Pollon - O Brasil hoje tem uma das legislações mais rigorosas do mundo, então liberar é uma palavra forte, a gente quer racionalizar. A gente quer critérios objetivos de porte e posse. E não ficar a critério do funcionário público que diz quem vai ter direito a se defender e quem não vai ter. Se eu consigo tirar uma CNH para dirigir uma carreta carregada de combustível porque ter acesso a armas é quase que mítico?

Folha - O senhor se refere à comprovação da efetiva necessidade, como ocorre nos processos da Polícia Federal?

Marcos Pollon - É cortar coisas desse tipo ou então especificar o que é a efetiva necessidade. Eu conversei praticamente com todos os superintendentes da Polícia Federal, nenhum conseguiu dar uma definição certa do que é a efetiva necessidade, é um critério abstrato.

Folha - O que o senhor acha do processo de aquisição de armas da PF e do Exército? E a fiscalização do Exército?

Marcos Pollon - Muito moroso e subjetivo. Eu acho [fiscalização] extremamente eficaz e vou trabalhar arduamente para que o Exército tenha mais recursos, mais pessoal, mais tecnologia para melhorar mais. Além de tentar dar mais agilidade ao procedimento de aquisição. Se você tiver sofrendo uma ameaça não tem tempo hábil para adquirir uma arma.

Folha - Quais outros temas o senhor quer trabalhar?

Marcos Pollon - Eu advogo desde 2003 no agronegócio, conheço os gargalos, posso ajudar nisso, na infraestrutura porque meu estado precisa para se desenvolver. Nós temos também projetos na saúde, na educação. Segurança Pública tem que ser olhada com bons olhos, o policial tem que ser prestigiado e protegido.

Folha - O senhor pretende fazer parte de alguma frente ou pretende criar uma própria?

Marcos Pollon - Eu pretendo agregar, não se faz nada sozinho. Eu não tenho a menor pretensão de ter esse protagonismo todo na Câmara. Eu quero resultado, que as pautas andem.

Folha - Alguns especialistas em segurança pública associam o aumento do acesso às armas ao crescimento de armas sendo desviadas ao mercado ilegal. Qual sua visão?

Marcos Pollon - Eu acho que eles são mentirosos e atuam com mau-caratismo. Os números oficiais de homicídio do Brasil tiveram queda histórica. Então, aquela narrativa de que para cada 1% de armas legais existem 2% a mais de homicídios é mentira. Associar arma lícita ao crime é mentira, estatisticamente não têm impacto no crime.

Folha - A gente está vendo muitos problemas com armas nas mãos dos CACs. Arma indo para o PCC, briga de CAC no trânsito, adolescente com arma de CAC.

Marcos Pollon - Você me deu três exemplos.

A Folha publicou matéria de arma legal sendo apreendida com CAC em rodovias porque ele não estava indo para o treino. Primeiro que não existe o estabelecimento de rota nos decretos, se ele tem CRAF [Certificado de Registro de Arma de Fogo], CR [certificado de registro] e GT [guia de tráfego] tem o direito de transportar a arma. Quem prende um CAC nessa condição está prendendo em abuso de autoridade. Quem tá cometendo crime é o policial. E essa história de que conseguiu demonstrar que ele não estava indo treinar, isso é impossível, é muito abstrato.

Folha - Em um dos casos ele estava em uma loja.

Marcos Pollon - Se eu estiver com uma arma aqui e vou treinar num clube em Mato Grosso do Sul, eu posso parar para comer, para comprar uma lente de contato. Eu tenho direito de andar com a arma do meu acervo até o local de treino e estar com ela enquanto estiver em deslocamento. Outro ponto é que temos quase 1 milhão de CACs, estatisticamente tudo isso que acontece de errado não impacta na estatística. Esse tipo de coisa acontece por causa da índole ruim da pessoa. Os órgãos de controle estão aí para tirá-la de circulação. O que muda isso é ter penas mais severas, fiscalização mais dura.

Folha - Não considera essa regra muito subjetiva e favorável aos CACs?

Marcos Pollon - Você está indo treinar e está com esse armamento, você precisa defender esse armamento. Qual o problema? É feita para isso.

Folha - O senhor disse em um vídeo que negociava cargos nos gabinetes com os candidatos apoiados pelo Proarmas. Vai ter um representante em cada gabinete?

Marcos Pollon - Quase todos os deputados que nós apoiamos dentro do time deles já tem um pessoal nosso. Então não vai ser preciso pedir. Até porque eles precisam de um respaldo técnico, a gente quer que priorize a pauta.

O senhor é uma pessoa que está sempre ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL). Como chegou na família Bolsonaro? Eu sou aluno do Olavo de Carvalho desde 2009, conheci o presidente em 2010. Quando descobri que existia um deputado com coragem de falar o que ele falava, eu vim conhecer. Em 2014 conheci o Eduardo e, por conta da identidade de pauta, nos aproximamos. A gente se tornou amigo.

Folha - O senhor está se articulando para a campanha de Bolsonaro?

Marcos Pollon - É fundamental a reeleição do presidente, mais importante do que qualquer outra coisa. Bolsonaro tem se mostrado o único líder preocupado com a liberdade. A reeleição interfere na continuidade das nossas pautas e no desenvolvimento do país.

RAIO-X

Marcos Pollon, 41 - Advogado e professor universitário sul-mato-grossense. Nasceu em Dourados em 1981 e hoje é conhecido pela sua principal bandeira de defesa, a revogação do Estatuto do Desarmamento sancionado em 2003, o que o levou a fundar o Proarmas em 2005.


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