APARECIDA, SP (FOLHAPRESS) - A cabeleireira Elizete Aparecida Pereira Lemos, 52, via quase do chão as pessoas abrirem passagem enquanto percorria de joelhos aproximadamente 600 metros entre a Passarela da Fé e a basílica. Ela repetia o ritual que faz há cerca de duas décadas todo dia 12 de outubro no Santuário Nacional de Aparecida (a 180 km de São Paulo). Só que desta vez mais fiéis estavam no seu caminho, na comparação com os dois últimos anos, quando havia restrições decorrentes da pandemia.

Moradora de Campinas, Elizete, que tem Aparecida no nome, começou a fazer o percurso de joelhos quando descobriu um tumor na cabeça. "De repente, ele sumiu e desde então venho aqui agradecer", disse ela, que tinha uma proteção nos dois joelhos e estava sozinha.

Parar subir os degraus da visitação da imagem da santa, encontrada há 305 anos por três pescadores, ela precisou de encarar uma enorme fila, que chegou a levar 40 minutos na manhã desta quarta (12), dia da celebração da Padroeira do Brasil.

Os organizadores devem divulgar o total de público apenas nesta quinta (13), porém há a certeza de que havia muito mais pessoas que os cerca de 70 mil fiéis do ano passado, mas ainda menos que os 160 mil de 2019, antes da Covid-19.

Além das filas, os fiéis que foram a Aparecida nesta quarta-feira enfrentaram congestionamento nos 40 quilômetros próximos à cidade na rodovia Presidente Dutra, de quem partiu de São Paulo, provocado por excesso de veículos, acidentes e caminhões que andavam em baixa velocidade em homenagem à santa.

A viagem entre a capital paulista e Aparecida, que normalmente leva em torno de duas horas, exigiu uma a mais nesta quarta, no meio da manhã.

Sebastião Jeremias, 57, saiu de carro com a família da vizinha Taubaté ante das 8h e só conseguiu ver parte da missa. "A Dutra estava com muito trânsito e foi muito difícil estacionar", disse ele, que teve de ficar do lado de fora.

A Polícia Rodoviária Federal estima que 50 mil peregrinos caminharam pela Dutra desde sábado (8) e muitos ainda chegaram durante a tarde. A autônoma Patrícia dos Santos Lopes, 43, não conseguia esconder a cara de cansaço por volta do meio-dia, quando visitava a sala dos milagres. Com um cajado na mão, ela havia acabado de chegar.

"Só estou aqui porque ele me esperou", afirmou, sobre o amigo Erivaldo Lopes de Aquino, 50. "Fui a última", disse sobre uma romaria que saiu da zona norte da cidade de São Paulo no sábado. Sem um motivo específico, ela fez a caminhada pela primeira vez para agradecer a família.

Perto dos dois, o consultor comercial Guilherme Machado, 30, estava em uma fila para entregar uma cruz, de 30 quilos, na Sala dos Milagres. É a quinta vez que o jovem afirma fazer a peregrinação, sendo que três delas com uma cruz, como forma de agradecer por ter deixado o vício das drogas.

"Antes eu fazia uma coisa ruim para mim, mas agora faço uma boa para os outros", afirmou, sobre o exemplo de fé com a caminhada desde Guarulhos, na Grande São Paulo.

E teve gente que madrugou só para ver a missa bem de pertinho. Devota, Teresinha Sousa Teixeira, 68, chorou quando a imagem de Nossa Senhora Aparecida passou pertinho dela para a celebração das 9h, a principal das sete que seriam realizadas ao longo desta quarta.

Para ver a imagem de perto, Teresinha entrou precisou enfrentar uma multidão na basílica, superlotada e com longas filas do lado de fora.

"É uma emoção muito forte. Desta vez vim aqui para agradecer", afirmou a moradora de Goiânia. Ela disse que nas últimas três décadas só não foi a Aparecida quatro vezes: quando seu marido e seu filho morreram e nos dois últimos anos, por causa da crise sanitária.

Para assistir à celebração da grade em frente ao altar central, Teresinha entrou na basílica às 5h, foi abrindo caminho e não saiu mais.

Em sua homilia na missa das 9h, dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, citou duas vezes a pandemia, referiu-se às pessoas que se curaram da doença e para dizer que ela havia sido um dos dragões vencidos por Maria.

E foi a Covid-19 que levou Jéssica Santos, 38, moradora na zona norte da cidade de São Paulo, a esquecer as regras que durante dois anos impediam as pessoas de ficarem próximas umas das outras, ainda mais sem máscara, como estavam quase todos na basílica nesta quarta. "Meu marido ficou duas semanas internado. Rezei muito para ele sarar", afirmou.

O bancário José Eduardo Gonzaga, 28, olhava em silêncio a chama que havia acendido na Sala das Velas. Com uma camisa branca do Corinthians, ele confessou que tinha pedido para a santa ajudar o seu time, na noite desta quarta, no primeiro duelo da final da Copa do Brasil, contra o Flamengo.

"É Timão no coração e fé na santa", afirmou o torcedor, ao deixar o local. "Mas é bom torcer por um milagre também."


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