SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Após ouvir testemunhas e rés sobre os supostos casos de tortura e maus-tratos ocorridos na escola de ensino infantil Colmeia Mágica, na zona leste de São Paulo, a Justiça deve decidir, até o início do próximo mês se condena ou absolve as proprietárias e uma funcionária da instituição.
O Ministério Público paulista denunciou as três sob suspeita de maus-tratos, tortura e associação criminosa, após relatos de que crianças estavam sendo amarradas com lençóis. A suspeita veio à tona em março deste ano.
Entre quinta (13) e esta sexta-feira (14), foram ouvidas 12 testemunhas, tanto de acusação como de defesa, e interrogadas a diretora Roberta Regina Rossi Serme Coutinho da Silva, sua irmã, Fernanda Carolina Rossi Serme, e a funcionára Solange Hernandez.
O advogado das irmãs Serme, André Dias, afirmou à Folha, após a audiência desta sexta, que vai se manifestar sobre o caso somente depois da decisão da Justiça. Ambas permanecem presas. O defensor de Solange, Leonardo Luiz Fioroni, também disse que seguirá a mesma estratégia. Sua cliente responde ao processo em liberdade.
Ao todo, já ocorreram quatro audiências, durante as quais, de acordo com o Tribunal de Justiça de São Paulo, foram ouvidas 19 testemunhas. Em nota divulgada nesta sexta, o tribunal afirmou que as partes poderão apresentar suas alegações finais em cinco dias corridos.
A assistente de acusação Ana Carolina Badaró, que representa uma das nove vítimas do processo, afirmou nesta sexta que, após ouvir as testemunhas e as rés, manteve a convicção de culpa das acusadas.
"Vamos pedir a condenação máxima, nos termos da denúncia. Como o processo corre em segredo [de Justiça], não posso dizer o que as rés falaram, mas todas negaram, nenhuma confessou. Isso não combina com o que as vítimas e testemunhas falaram, por isso estamos convictos pela condenação", afirmou.
A diretora da instituição, Roberta Serme, foi interrogada na quinta-feira. Fernanda e a funcionária da creche foram interrogadas nesta sexta.
De acordo com o Ministério Público, elas são suspeitas de manter ao menos nove crianças em situação degradante. O caso ganhou repercussão após o compartilhamento de vídeos, feitos com celular, em que crianças aparecem amarradas em carrinhos dentro de um banheiro da escola e chorando.
Na ocasião das prisões das irmãs, a defesa disse acreditar que alguém forjou a situação para prejudicar as acusadas. Elas também negaram, em depoimentos anteriores, conhecimento sobre as cenas de tortura contra crianças. A defesa declarou que o colégio busca descobrir quem fez as gravações e quem colocou as crianças naquela situação.
Segundo a Promotoria, funcionários e ex-funcionários da Colmeia Mágica afirmam que as crianças eram colocadas em bebês-conforto, amarradas com lençóis, quando choravam com insistência.
Além disso, de acordo com os relatos, cobertores eram colocados sobre as cabeças das crianças para abafar o choro. Conforme os funcionários, a prática acontecia a pedido da administração da creche.
Quando os vídeos passaram a circular na internet, o pai de uma das crianças, agente de trânsito de 25 anos, afirmou à reportagem que havia notado uma mudança de comportamento no filho.
O homem afirmou que o menino, então com 11 meses, ficava agitado quando era coberto com algum lençol em casa. O agente disse que só começou a ficar de fato desconfiado ao ver policiais cumprindo um mandado de busca e apreensão no local.
No dia seguinte, a direção convocou os pais para uma reunião e afirmou que as imagens de maus-tratos teriam sido feitas por alguém que queria "prejudicar a instituição", segundo o pai da criança --a reportagem não revela seu nome para preservar a identidade da criança. A defesa da escola confirmou a reunião.
A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou à Folha, por meio de nota enviada nesta sexta, que a Polícia Civil investiga, por meio de um inquérito policial, o suposto envolvimento de outros funcionários da escola infantil nos casos de maus-tratos, além de avaliar denúncias de outras famílias de crianças matriculadas na creche.
Os trabalhos da Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas, da 8ª Delegacia Seccional (São Mateus), começaram por solicitação da Promotoria.
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