CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - O combate ao desperdício de alimentos e a diminuição da fome no Brasil podem ser acelerados pela população. Bem informados, consumidores são capazes de mobilizar empresas e cobrar iniciativas governamentais que tornem a produção, a distribuição e a venda mais sustentáveis e eficientes.

É o que defenderam especialistas durante o seminário Futuro da Alimentação, promovido pela Folha nesta terça-feira (11). O evento foi patrocinado pela JBS, dona de marcas como Friboi, Swift, Seara e Doriana.

O acesso a bons alimentos é um dos desafios enfrentados pela população. Segundo Gustavo Porpino, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), as pessoas passaram a buscar uma dieta mais saudável durante a pandemia.

A renda, no entanto, é o fator que determina a qualidade da dieta, tornando esse desejo inacessível para a maioria.

O pesquisador defende que o consumo sustentável passe pelo combate ao desperdício desde a produção, onde começam as perdas.

Atualmente, a cada processo da cadeia, uma porcentagem de comida é desperdiçada. Segundo estimativa da FAO (agência da ONU para alimentação e agricultura), cerca de um terço de todo o alimento produzido no mundo vai para o lixo.

Por isso, setores de produção, estoque, manuseio e venda devem estar conectados a frentes de pesquisa e inovação para o desenvolvimento de soluções que deem novos rumos aos produtos que seriam descartados.

Um exemplo é o aplicativo B4waste, que promove a venda de alimentos próximos ao vencimento por preços atrativos, contribuindo para a diminuição do desperdício. Segundo Luciano Kleiman, co-fundador e CEO da empresa, mais de 400 toneladas já foram vendidas desde o início do projeto, em março de 2021.

O principal público-alvo são moradores de comunidades vizinhas às lojas e supermercados parceiros.

"Cada produto que eu consumo e deixa de ser jogado fora previne as emissões de gases e faz bem para o planeta", afirma Kleiman. Ele destaca que o componente econômico traz um incentivo a mais.

Já no âmbito individual, são necessárias ações que reduzam o desperdício e aumentem o aproveitamento.

Pesquisa divulgada em 2018 pela Embrapa, com apoio da FGV (Fundação Getulio Vargas), estima que cada brasileiro desperdiça, em média, 41,6 kg de alimento por ano.

Ainda segundo a FAO, o descarte de alimentos é responsável por 10% das emissões globais de gases do efeito estufa no mundo. "Se fosse um país, estaria atrás apenas dos Estados Unidos e da China", compara Bruna Tiussu, gerente de comunicação do Instituto Akatu, organização sem fins lucrativos voltada à conscientização social para o consumo responsável.

Para ela, a população pode contribuir para a diminuição de emissões a partir de mudanças de hábitos.

Consumidores podem pressionar empresas e exigir processos de produção mais sustentáveis, além de cobrar o desenvolvimento de políticas públicas que regulem todos os processos.

"?Faz sentido uma pessoa mudar os hábitos enquanto as empresas e governos fazem menos do que deveriam??. Sim. A gente precisa pensar que no coletivo somos 200 milhões [de brasileiros]. Se todo mundo mudar pequenos hábitos, podemos gerar um impacto positivo", afirma Bruna.

Essa pressão pode resultar em novos projetos e iniciativas. Uma sugestão de Kleiman é que companhias distribuam alimentos próximos ao vencimento para grupos vulneráveis quando não conseguirem repassar a venda. Com isso, contribuiriam para a diminuição da fome e do descarte, por exemplo.

Ações como essa devem ser acompanhadas de uma nova relação com o alimento, defende o CEO. "Cultuamos o consumo de produtos no estilo da maçã da Branca de Neve: o alimento perfeito, longe da data de validade."

Segundo ele, todos os produtos vivem processos de maturação graduais e devem ser avaliados a partir de outros critérios, além do prazo de validade, para que sejam mais bem aproveitados.

Para Mauricio Bauer, diretor de sustentabilidade corporativa da JBS, a crise climática, em conjunto com o maior acesso à informação e às novas formas de consumo, tem conduzido o mercado para um novo momento, "em que o consumidor não terá que escolher na prateleira o alimento que é sustentável, porque todos serão".

Apesar de positiva, essa mudança tem sido mais lenta do que o necessário, diz Bruna.


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