SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Corregedoria da Polícia Militar instaurou um inquérito policial para investigar a conduta de policiais militares que abordaram o fisiculturista Reinaldo Armando Vettilo Júnior, 39, morto após a ação dos agentes, no último dia 29, na zona sul de São Paulo. A abertura da investigação foi confirmada nesta quarta-feira (2) pela SSP (Secretaria da Segurança Pública).

Apesar de os PMs usarem câmeras corporais, até o momento, nenhuma imagem foi enviada ao DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), que as solicitou ainda no dia da ocorrência. A corporação também não disse se os policiais foram afastados das ruas, ou sobre qualquer outra medida eventualmente tomada contra eles.

A SSP declarou, em nota enviada ainda nesta quarta, que o departamento de homicídios analisa imagens de câmeras de segurança do condomínio onde o caso ocorreu. A pasta reforçou que a Polícia Civil "solicitou as filmagens gravadas pelas câmeras dos uniformes da equipe envolvida na ocorrência", mas sem dar detalhes de quando o material será enviado ao DHPP.

Familiares relataram à reportagem, dois dias após a morte de Júnior, que ele foi imobilizado e sufocado pelos agentes após discutir com a companheira dele. Quatro disparos de taser -arma de choque utilizada pela polícia- teriam sido efetuados, fazendo a vítima desmaiar.

Imagens feitas com celular também mostram um dos PMs colocando o joelho sobre o pescoço do fisiculturista, enquanto outro policial fica em pé sobre a perna direita dele.

Os registros mostram cinco PMs imobilizando Júnior. Em um deles, é possível ouvir o homem gritando enquanto um dos policiais diz para ele parar de fazer força. O fisiculturista não parece reagir. O mesmo policial coloca o joelho no pescoço dele.

Em outro vídeo (veja abaixo), um dos agentes aparece em cima de Júnior enquanto a imobilização pelo pescoço é mantida. São dadas várias ordens para que o homem fique calmo. O fisiculturista já parece não mais responder.

Na ocasião Reinaldo Vettilho, pai de Júnior, afirmou que, ao ver os agentes da Polícia Militar, o filho logo se rendeu. A versão é contestada pela corporação, segundo a qual Júnior resistiu.

Após desmaiar, Júnior foi socorrido e encaminhado para o Hospital Campo Limpo, também na zona sul de São Paulo, mas não resistiu aos traumas. Segundo a família, um médico que atendeu o fisiculturista apontou sufocamento como a causa preliminar da morte.

A SSP afirmou, nesta quarta, que tanto a Corregedoria da PM como o DHPP investigam os fatos e "todas as circunstâncias havidas no local para cabal esclarecimento, não desprezando qualquer informação ou dados que possam contribuir para elucidação das questões de ordem penal ou administrativa".

A pasta acrescentou ainda que o inquérito policial, instaurado pela Corregedoria, pode ser concluído em até 40 dias.

Nesta terça (1º), a PM afirmou que as técnicas de imobilização adotadas pelos policiais contra Júnior são padrão e não foram letais, de acordo com nota encaminhada à reportagem.

Segundo a corporação, "o indivíduo investiu contra os policiais, resistindo às ordens legais, sendo contido de acordo com os procedimentos operacionais padrão, com recursos de técnicas não letais, inclusive, com o uso de arma de incapacitação neuromuscular, tudo para garantir a integridade física do indivíduo, dos demais moradores e da equipe policial".

"Após imobilizar o indivíduo, os policiais acionaram a unidade de resgate do Corpo de Bombeiros, que o socorreu ao PS do Campo Limpo, onde, por razões a serem esclarecidas, ele entrou em óbito. Os fatos foram registrados no DHPP, onde foi aberto um inquérito. A Polícia Militar está apurando todas as circunstâncias do fato", completou.

Rafael Alcadipani, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, disse que a ação policial deve ser averiguada como um todo e que a técnica utilizada de pressionar o pescoço do fisiculturista com o joelho não seria condizente com as instruções da PM, ao menos desde o caso George Floyd.

"O que diz o protocolo é que a força adequada deve ser utilizada para conter a ameaça. Utilizar o joelho no pescoço, até onde eu sei, está proibido. Você não pode dar um mata-leão. Não pode impedir que a pessoa respire. Então, a técnica utilizada, no mínimo, não é a mais correta", afirmou Alcadipani.


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