CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) - Um laudo elaborado pelo Departamento de Química da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto, divulgado nesta quinta-feira (3) apontou a presença de heptano, um solvente de propriedade neurotóxica, em amostras de ar coletadas em Pontal (a 315 km de SP).

Foi na cidade, que fica na região de Ribeirão, que há um mês uma mulher morreu e cerca de 95 ficaram intoxicadas por uma nuvem de gás cuja origem ainda não foi esclarecida.

"Essas amostras de ar foram coletadas em Pontal alguns dias após o acontecimento e nós encontramos o heptano, que é um solvente muito usado na indústria. É estranho ter essa substância presente no ar. A polícia vai precisar apontar a origem desse material", explica Bruno Brandão, doutorando em toxicologia pela USP e que participou das análises.

Chamada de "névoa visível" pela Cetesb (companhia ambiental do estado), a substância alcançou um perímetro de cerca de 100 metros quadrados na noite de 4 de outubro, tendo se dissipado após uma hora. Moradores de cinco bairros sentiram falta de ar, ardência na garganta, dor no peito, mal-estar e vômito.

Alessandra Alves da Silva, 38, estava em casa quando começou a passar mal e já chegou ao hospital sem vida. A cortadora de cana preparava o jantar para o sobrinho quando o gás tóxico começou.

A Polícia Civil informa que o caso segue em investigação. A Cetesb diz que laudo posterior ao incidente não apontou novo risco.

O Departamento de Química recebeu cerca de 20 amostras de vísceras de galinhas que morreram logo após o vazamento. "Não encontramos nenhuma substância ou marcador de exposição à substância que justificasse a morte dessas galinhas", diz o pesquisador.

De acordo com Brandão, não é possível apontar o solvente como o responsável pelas intoxicações e morte. Ele explica que o heptano afeta o sistema nervoso, enquanto os moradores de Pontal tiveram mais problemas no trato respiratório.

"O heptano pode até causar, mas não é comum. O que tem na literatura são esses efeitos no sistema nervoso central", diz, citando tonturas, vômito, sono e cansaço como efeitos comuns da substância.

"Esse laudo é só uma peça de um quebra-cabeça. A polícia vai precisar pegar os outros laudos, inclusive do IML (Instituto Médico Legal), para tentar chegar na causa", explica Brandão.

O doutorando lembra que o laudo de outro laboratório da USP em materiais como cadeados e outros metais corroídos e encontrou hipoclorito de sódio, usado para limpeza e desinfecção.

"Pode ser que vários materiais tenham reagido e criado essa nuvem tóxica, mas é bem difícil saber. Será preciso juntar todas as peças", afirma o pesquisador.

A SSP (Secretaria da Segurança Pública paulista) diz que o caso segue em investigação pela Delegacia de Pontal.

"Na última terça-feira, (1º), a autoridade policial recebeu a constatação de uma substância no ar ambiente e aguarda os laudos do IC (Instituto de Criminalística) e do IML (toxicológico) para esclarecimento dos fatos", afirma a pasta.

A Cetesb aponta que as vistorias realizadas em empresas, casas e redes de esgotos de Pontal entre 4 e 11 de outubro mostraram que não havia risco iminente de geração de gases ou vapores tóxicos na rua Alexandre Andrucioli na estrada municipal da Vargem Rica, vias foram o epicentro da ocorrência.


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