SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Polícia Civil de São Paulo investiga se uma ossada, encontrada enterrada no quintal de uma casa em Ilha Comprida, no litoral paulista, é da jovem Agata Gonzaga Peixoto Ferreira, 17, desaparecida desde agosto do ano passado.
O principal suspeito pelo sumiço da garota é o próprio pai, Gutenberg Peixoto Alves de Souza, que foi indiciado sob suspeita de homicídio e ocultação de cadáver. Ele está foragido desde o último dia 12, quando a Justiça expediu um mandado de prisão temporária, de cinco dias, contra ele.
As investigações indicam que Agata desapareceu após conviver por cerca de três meses com Souza, em 2021.
Somente em 26 de outubro deste ano, Leo Wagner Ribeiro Souza, tio da jovem, registrou um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento. Ele diz que a demora foi em decorrência "de histórias" contadas pelo suspeito à família.
À polícia o tio da jovem afirmou que o pai de Agata disse que ela havia se mudado para a casa da mãe, em Itanhaém (a 106 km de SP). A mãe de Agata foi procurada e desmentiu a informação, "o que causou estranheza".
Ao ser contrariado, o pai da jovem contou outra versão, de que ela havia se mudado para Sorocaba, com um rapaz. Após isso, ela não teria mais dado notícias, nem usado redes sociais.
Agata não teria nem procurado a madrinha, a corretora de imóveis Marivalda Alves de Mendonça, 51, quem considerava sua segunda mãe.
A madrinha afirmou à Folha que Agata foi abandonada pela mãe quando tinha dois meses de idade. Ela conviveu com o pai, até por volta dos três anos, quando foi recolhida pela Conselho Tutelar, por maus-tratos. Por isso, segundo ela, a guarda da jovem foi entregue à avó materna, que convidou a corretora para ser madrinha.
Marivalda comprou uma casa para avó e neta, em Ilha Comprida, onde ambas moraram por cerca de sete anos, no bairro Balneário Cláudia Mara. A rotina delas era tranquila, segundo a corretora de imóveis, até que Gutenberg retornou à vida delas, adoentado. "Por causa disso, ele acabou sendo acolhido e, por uns seis meses, parecia ter se recuperado", diz.
Quando melhorou, segundo o relato da madrinha, ele começou a se relacionar com uma ajudante geral de 40 anos e foi ganhando, aos poucos, a confiança da filha.
Quando Agata estava com 15 anos, a avó materna enfartou e se mudou para o Maranhão. Por isso, a jovem começou a morar com o pai e a então madrasta. "Em um ano, mais ou menos, eles se mudaram umas três vezes, até chegarem à casa onde ela sumiu [balneário Britânia]", afirmou a madrinha da vítima.
No novo endereço, Agata passou a morar como o pai e a madrasta, que rompeu com Gutenberg em maio do ano passado. Ela afirmou ter visto a jovem, pela última vez, cerca de três meses depois, na rua.
Pedindo para não ter o nome publicado, a madrasta afirmou à reportagem que a jovem teria dito a ela que foi vítima de um suposto abuso sexual, por parte do pai.
O pai de Agata informou a Marivalda que a jovem havia se mudado para Sorocaba, onde estaria se relacionando com um rapaz e esperando um filho dele. "Ele mandou um áudio falando que a criança tinha nascido e que estava ajudando a filha. Ele fez a gente acreditar que Agata tinha fugido e mantido contato só com ele."
Quando Marivalda constatou que o pai da jovem havia inventado mais de uma versão para o desaparecimento, resolveu procurar a polícia.
Após registrar um boletim de ocorrência, em 26 de outubro, familiares descobriram que Gutenberg estava em Itanhaém. Uma campana foi feita para prendê-lo, mas o suspeito conseguiu fugir. "Com a fuga, a polícia decidiu vasculhar a casa onde minha sobrinha tinha morado com ele", explicou Marivalda.
No último dia 11, com a ajuda de uma retroescavadeira, o solo do quintal foi escavado e uma ossada humana encontrada no local. Foram localizados piercings, idênticos aos usados por Agata.
O delegado Carlos Eiras, titular da Delegacia Sede de Ilha Comprida, afirmou que a ossada foi submetida a exames que foram encaminhado para análises complementares no IML (Instito Médico Legal) da capital paulista. Mesmo foragido, o pai de Agata foi indiciado por homicídio e ocultação de cadáver.
O policial acrescentou que vai solicitar à Justiça para que a prisão temporária do investigado seja convertida em preventiva, por tempo indeterminado.
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