SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Ativistas e grupos antirracistas ocuparam algumas vias de São Paulo neste domingo (20) para realizar a 19ª Marcha da Consciência Negra. Neste ano, a celebração da data foi espremida pelo início da Copa do Mundo e pelo segundo dia de provas do Enem.

Às 10h, os participantes começaram a se concentrar no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo), na avenida Paulista. Com o ato, a via ficou bloqueada no sentido Consolação.

Do local, o grupo iniciou uma caminhada em direção ao Theatro Municipal, no centro. Os organizadores afirmaram que 5.000 pessoas participaram da marcha ?a Polícia Militar não faz estimativa de público.

Sob o tema "Por um Brasil e uma São Paulo com democracia e sem racismo" a marcha homenageou os mortos pelo racismo. Muitos dos presentes comemoraram também a derrota do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas urnas.

Durante o ato, Simone Nascimento, 30, do Movimento Negro Unificado, afirmou à Folha que um país com futuro e esperança se constrói combatendo o racismo. Ela disse que os últimos anos foram muito duros para a população negra.

"Estamos homenageando nossos mortos, não só dá pandemia do coronavírus, mas pela violência racista dos últimos anos, como a Marielle Franco, o Moa do Katendê e o Genivaldo, no carro da PRF. Eles foram o simbolismo de como o Brasil virou para a extrema direita e muito latente contra a população negra", disse Nascimento.

"Falamos de direitos transversais, como, por exemplo, o fim da emenda constitucional 95 [que instituiu o teto de gastos] como garantia dos direitos à educação e saúde para a população negra e todo o Brasil; a necessidade de derrubar a reforma trabalhista para que os mais velhos tenham direito à aposentadoria e os mais novos, ao emprego; a importância de garantir teto para a população negra", afirmou.

"Entendemos que a luta é constante e que com o racismo não há democracia. É preciso acabar com o racismo em todas as áreas".

Para Lígia Aggio Branco, ligada ao Comitê de Combate ao Racismo da zona oeste, a luta antirracista pertence a todos os povos.

"Nós precisamos ir para as ruas justamente para fazer frente às mobilizações da extrema direita. A luta antirracista é de todos, dos negros e dos brancos. O racismo precisa ser punido. Que a população negra tenha voz e autonomia para produzir e implementar as políticas públicas necessárias ao combate ao racismo", afirma.

João Gabriel Moura Campos, do Comitê Popular da Ieda, do Butantã, acha que este tipo de mobilização é importante e deveria ocorrer mais vezes no ano.

"O racismo é um problema que temos que enfrentar cotidianamente. É uma estrutura que mantém as arbitrariedades do poder", afirmou.

Acompanhados por uma batucada, os participantes da marcha espalharam frases de ordem como "Pisa ligeiro, pisa ligeiro. Quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro", "Não ao racismo" e "Só fazendo revolução para acabar com qualquer tipo de opressão", entre outras.

A maior parte dos manifestantes não usaram máscaras de proteção contra a Covid-19.

Por volta das 13h30, a chuva dispersou o público, já na descida da rua da Consolação.

O fato de a marcha coincidir com o início da Copa e com o Enem não desanimou os organizadores do evento.

"Nós não nos preocupamos com isso e também gostamos da Copa do Mundo. Os nossos adolescentes entrarão na universidade e darão muito orgulho através das cotas raciais. Estamos fazendo a marcha de manhã e ela também trata do racismo no futebol. O Dia da Consciência Negra está no calendário escolar desde 2003 e o governo federal desrespeitou marcando o Enem hoje, porque privou os jovens de viverem a data", disse Nascimento.


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