SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Não podemos falar de racismo e deixar de lado a saúde mental do afetado, o povo negro", diz a psicóloga Maria Lúcia da Silva, 73, uma das coordenadoras do Instituto AMMA Psique e Negritude, que fica no Sumaré, na zona oeste paulistana.
Fundado em 1995, o instituto desenvolve estratégias para identificação e desconstrução do racismo e seus efeitos psicossociais por meio de formação e prática clínica, ou seja, a educação antirracista de profissionais da psicoterapia.
Em manifesto, o AMMA afirma que o racismo, além de violar direitos sociais, prejudica a saúde psíquica das pessoas afetadas por ele, podendo fazê-las desenvolver sintomas psicossomáticos, inibições e uma autoimagem distorcida.
"Mais do que tudo, é um espaço para troca de saberes e produção de conhecimento", afirma o coordenador-executivo do AMMA, Márcio Farias, 36.
A ideia de um núcleo de pensamento psicorracial foi moldada por quatro mulheres negras que vivenciaram a ascensão do movimento negro brasileiro a partir dos anos 1970. Deste período, surgiram grupos como a Sociedade de Intercâmbio Brasil-África, o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras e o Movimento Negro Unificado.
Unidas por uma pauta única, a emancipação e o empoderamento racial, em plena ditadura militar as organizações expuseram nas ruas o preconceito racial e social, a diferença salarial e, também, demandas específicas das mulheres, como o sexismo.
A psicóloga Maria Lúcia da Silva, uma das quatro fundadoras, diz que, naquela época, o Brasil vivia um período árido, sustentado na recusa do país em aceitar ser racista e no persistente mito da democracia racial.
"Essa recusa, que a gente pode pensar que ainda hoje perdura, foi e ainda é um dos principais fatores do adoecimento psíquico da população negra. O AMMA foi criado para denunciar e combater isso", afirma ela.
A perspectiva das fundadoras era pôr em debate os efeitos psicossociais do racismo e reiterar que ele adoece e causa sofrimento psicológico. Discussão que, segundo elas, ainda não estava em pauta.
Os primeiros anos do grupo foram voltados a falar sobre o problema e elaborar uma maneira de enfrentá-lo. "Queríamos identificar as marcas reais e simbólicas da violência racista, com isso formulando uma forma de combatê-la", diz Silva.
Do processo de discussão, nasceu a abordagem utilizada pelo instituto, chamada de teórico-vivencial. A teoria propõe transformar as relações raciais por meio de vivências e informação. Segundo ela, o indivíduo deve observar a si mesmo e se situar no ambiente em que vive para reconhecer o racismo e combatê-lo.
A abordagem criada pelo AMMA foi patenteada para um projeto de cooperação entre Brasil e Grã-Bretanha para combate à discriminação racial em instituições governamentais, motivo de orgulho para os formuladores.
Agora, o instituto embarca em novos desafios: a transição geracional e a expansão da sua atuação para a área da pesquisa, afirma Jussara Dias, 65, membro da velha-guarda fundadora do espaço.
"A missão permanece a mesma, dedicando-se, além da política e da formação, à pesquisa. Queremos ser conhecidos como referência em pesquisa e formação na área de psicologia e relações raciais", afirma ela.
Cléria Prestes, 47, que coordena os cursos oferecidos pelo instituto, destaca ainda a importância de incluir a população branca no aprimoramento de uma consciência coletiva antirracista.
"As pessoas brancas participam e devem participar. Em nossos cursos, sempre temos alunos e professores brancos, e a troca é sempre bem-vinda. O AMMA é um espaço para ampliar o cuidado da população negra, mas também para levar reflexão aos brancos", diz Prestes.
Instituto AMMA Psiquê e Negritude
Endereço: av. Doutor Arnaldo, 2.083 - Sumaré, São Paulo
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