SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Duas professoras e dois alunos, vítimas dos ataques em duas escolas de Aracruz (ES), na última sexta-feira (25), continuam internados em estado grave em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva). Uma quinta vítima também permanece no hospital, mas seu quadro é considerado estável.

Quatro pessoas morreram com os tiros disparados por um adolescente de 16 anos, sendo três professoras e uma aluna.

Segundo boletim divulgado na manhã deste domingo (27) pela Secretaria da Saúde do Espírito Santo, duas mulheres, de 45 e 52 anos, que tiveram de ser operadas, estão internadas em estado grave na UTI do Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neve, em Serra (ES).

A Secretaria de Educação do Espírito Santo confirmou por meio de assessoria de imprensa que elas são professoras. As mulheres foram levadas de helicóptero para o hospital de Serra, cidade a cerca de 60 km de Aracruz.

No sábado, a professora Flávia Amboss Merçon Leonardo, 36, morreu no mesmo hospital. A docente de sociologia na escola estadual Primo Bitti estava internada em estado gravíssimo.

Flávia era ativista do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens) e, em abril, defendeu sua tese de doutorado em antropologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) sobre as consequências do desastre ambiental de Mariana para moradores do litoral capixaba.

De acordo com o boletim médico, também estão em estado grave um menino de 11 anos, que passou por cirurgia, e uma adolescente de 14 anos, que também precisou de procedimento cirúrgico e está intubada. Os dois estudantes estão no Hospital Estadual Nossa Senhora da Glória, em Vitória.

Uma quinta pessoa ferida, uma professora de 58 anos, está internada no Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas, na capital Vitória. Ela passou por cirurgia e seu estado era considerado estável, segundo a Secretaria da Saúde.

Outras duas mulheres, de 37 e 40 anos, estão internadas na enfermaria do Hospital e Maternidade São Camilo, em Aracruz. Segundo boletim divulgado na tarde de sábado, elas estão na enfermaria com quadro estável.

COMO FORAM OS ATAQUES

As outras três mortes nos ataques a tiros em duas escolas, uma pública e uma particular, foram na sexta.

Um ex-aluno de 16 anos, transferido em junho da escola estadual e filho de policial militar, foi apreendido como suspeito de cometer o crime. Materiais com a suástica, símbolo nazista, foram recolhidos em sua casa.

Os ataques foram registrados nas escolas Primo Bitti, pública, e Centro Educacional Praia de Coqueiral, particular, próximas uma da outra, no município de 104 mil habitantes no interior capixaba.

A ação começou pela escola pública, onde duas pessoas morreram e outras nove foram atingidas por disparos, de acordo com o secretário da Segurança Pública e da Defesa Social do Espírito Santo, Marcio Celante.

O atirador entrou no local por volta das 9h, após arrombar um cadeado. A ação ocorreu dentro da sala dos professores. As docentes Cybelle Passos Bezerra Lara, 45, e Maria da Penha Pereira, 48, morreram.

Depois do ataque inicial, ele se deslocou de carro para o Centro Educacional Praia de Coqueiral, que é particular e fica na mesma avenida, a cerca de um quilômetro de distância. No local, o adolescente fez mais três vítimas, todas estudantes. Uma delas, Selena Sagrillo Zuccolotto, 12, morreu.

O suspeito de cometer o crime foi apreendido por volta das 15h30, na própria cidade. De acordo com o governador Renato Casagrande (PSB), ele que estudou na Primo Bitti até junho, quando foi transferido a pedido da família.

O estudante teria utilizado duas armas do pai para cometer os ataques, sendo uma pistola semiautomática e um revólver, segundo a Polícia Civil. O carro usado para o deslocamento até as duas escolas também era do pai.

"Ele planejou essa ação durante dois anos, mas não falou qual foi o motivo [...] Ele estava em estado de choque, mas tranquilo, e não conseguimos observar se ele mostrava arrependimento", disse o superintendente da regional norte da Polícia Civil do Espírito Santo, João Francisco Filho.

O adolescente foi levado ao Iases (Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo), em Cariacica, na região metropolitana de Vitória.

A polícia investiga se o adolescente teve ajuda no planejamento ou se foi incentivado a cometer o crime. Para isso, será solicitado o acesso ao celular, que já foi apreendido, e a computadores utilizados por ele. A intenção é saber se ele participa de alguma rede ou fórum na internet que promova extremismo e discurso de ódio, e se houve troca de informações sobre o ataque com antecedência.

Outra linha de investigação vai analisar a facilidade de acesso que ele teve às duas armas de fogo e outros materiais usados nos atentados. As armas, um pistola automática Glock e um revólver calibre 38, são de uso funcional e particular do pai do adolescente, um policial militar.

Para ir de uma escola a outra, distantes em um quilômetro, ele dirigiu o carro do pai. A polícia vai apurar se o policial sabia que o filho tinha interesse nas armas e como o jovem aprendeu a usá-las

A Prefeitura de Aracruz decertou luto oficial até este domingo por causa dos ataques às duas escolas.


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