SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) - O programa de doutorado da Unifap (Universidade Federal do Amapá) desligou uma professora bolsonarista que chamou de "esquerdistas" e deixou de orientar alunos de Farmácia após descobrir que eles não apoiavam o presidente Jair Bolsonaro (PL), que perdeu a eleição no 2º turno para Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A professora, identificada como Sheylla Susan Almeida, foi desligada em uma reunião extraordinária da coordenação estadual do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia (Rede Bionorte) realizada no dia 9 de novembro. Na avaliação da coordenação, ela praticou discriminação e assédio contra os estudantes.
A docente havia comunicado no dia 2 de novembro a decisão unilateral aos doutorandos de não orientá-los mais e fez isso através de um grupo de WhatsApp. Nas mensagens, obtidas na época pela reportagem, a professora dizia que "não quer esquerdistas no laboratório" de Farmácia.
"Procurem outro professor para orientar vocês. Amanhã estarei entregando a carta de desistência da orientação de vocês. Não quero esquerdistas no laboratório. Portanto, sigam a vida de vocês, e que Deus os abençoe", escreveu a docente.
A professora direcionou a mensagem a dois alunos, mas pediu que sua posição fosse compartilhada com outros estudantes que fossem petistas. "Se tiver mais algum esquerdista, que faça o favor de pedir desligamento. Ou estão comigo ou contra mim."
Uma das alunas dispensadas foi Débora Arraes, 35. Ela também é professora da UEAP (Universidade do Estado do Amapá), e realiza pesquisa de doutorado na Unifap.
Ela afirma que a orientadora é "declaradamente negacionista" mas que, até então, "nunca havia demonstrado comportamento semelhante" com seus alunos.
"Fui informada de que eu estava sendo desligada pelo fato de eu ter votado no Lula. Ela nunca havia demonstrado posicionamento semelhante por questões políticas. Nas redes sociais, ela é declaradamente negacionista, mas eu, como aluna e também professora, entendo que são posições que não deveriam ser consideradas numa relação entre orientador e orientando", comentou Débora à reportagem.
A aluna acredita que a professora tenha tomado a medida após ver suas publicações de apoio a Lula nas redes sociais.
"Fiz algumas postagens nas minhas redes sociais, não compartilhei no grupo nem com ela, mas mesmo assim, acredito que em razão dessa foto postada por mim, a professora tomou esse posicionamento", afirmou a discente.
BOLSONARISTA, PROFESSORA RECEBEU BOLSA NOS GOVERNOS DO PT
Nas redes sociais, a professora costuma publicar mensagens de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, além de atacar as universidades públicas e medidas adotadas contra a pandemia de Covid, a exemplo do lockdown e vacinas.
Em uma das publicações, de 26 de janeiro, a professora compartilhou uma postagem na qual diz que as máscaras, lockdown e vacinação "não resolveram". "E se você questionar o fracasso de todas as medidas que garantiram trazer a sua liberdade de volta: negacionista".
As vacinas contra a Covid-19 são testadas e aprovadas por órgãos de saúde em várias partes do mundo, a exemplo da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Em 2021, pouco tempo depois da primeira aplicação do imunizante, diversos países já apresentaram quedas no número de mortes.
Nas redes, a professora ataca as universidades nos governos do PT, mas no currículo Lattes, informa que recebeu bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para cursar o doutorado, entre 2003 a 2008, na UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva. Ela está na Unifap desde 2011.
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