SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Panes nos semáforos da cidade de São Paulo continuam ocorrendo três meses após a prefeitura ter passado a manutenção e a modernização do parque semafórico à iniciativa privada, quando a administração municipal incluiu um aditivo de R$ 1,8 bilhão à PPP (Parceria Público-Privada) da Iluminação Pública.

Feito sem licitação, o aditivo de contrato com a empresa Iluminação Paulistana S/A, que envolve os semáforos, valerá pelos próximos 17 anos.

Em 1º de setembro, um dia após assinar o aditivo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que havia, em média, 170 ocorrências por dia de semáforos com pane na cidade e que esse volume precisaria ser zerado em até 90 dias, com diminuição gradual diária das falhas.

Passados os três meses da assinatura do aditivo bilionário, a promessa não é o que o motorista vê nas ruas e avenidas paulistanas.

Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), às 7h da última terça-feira (29), a cidade tinha 97 cruzamentos com falhas em semáforos.

Destes, afirma a empresa da prefeitura, 15 foram alvo de furtos ou vandalismo. Ou seja, quase 80% dos semáforos estavam em pane por quebra ou outros problemas, como falta de energia.

A concessionária Ilumina SP diz que desde o início do contrato já fez mais de 13,5 mil reparos.

"Muitas dessas manutenções ocorreram repetidas vezes nos mesmos locais, seja por conta da prática de furto de cabos, seja pela desatualização tecnológica que deixa o parque semafórico da cidade mais sujeito às consequências das chuvas", afirma.

A Regula SP, agência que trata da concessão, diz que houve queda na quantidade de semáforos inoperantes. "Somente no primeiro mês [setembro], foi de 37,3%. E essa redução, após quase três meses, é de aproximadamente 40%", afirma.

De acordo com a agência, a média diária de semáforos em manutenção antes da concessão era superior a 2%. "Atualmente, é de 1%. Na terça, o percentual era de 1,6%."

Na época da assinatura do contrato, Nunes disse que a partir dos 90 dias, prazo que terminou nesta quarta (30) e que ele chamou de "período de ataque", a empresa responsável pela PPP teria entre duas horas e 12 horas para atender a reclamações e reabilitar panes.

A expectativa, porém, está longe de ser uma realidade. Pelo menos para moradores e comerciantes da Bela Vista, na região central. O semáforo no cruzamento das ruas Manoel Dutra e Santo Antônio, por exemplo, ficou ao menos 20 dias no amarelo piscante.

A comerciante Luíza Costa, 41, que trabalha no restaurante da família neste cruzamento, disse ter ligado para o 156, da prefeitura, na quinta passada (24). Porém, o equipamento só foi consertado na manhã de terça (29), dia seguinte após a reportagem questionar a CET sobre o problema.

Nas quase três semanas em que o equipamento esteve quebrado, Costa afirma ter visto funcionários da CET fotografarem o semáforo três vezes. Ele também presenciou um acidente envolvendo uma bicicleta elétrica que seguia pela Manoel Dutra e uma moto que avançou pela Santo Antonio. "Mas pelo que falam, foram várias batidas."

O técnico em refrigeração Humberto Carlos Teixeira, 26, que geralmente almoça em um outro restaurante do cruzamento, reclamava na manhã de segunda (28) com motoristas que não respeitavam a faixa de pedestres.

"Isso aqui está ruim faz tempo. Quem precisa atravessar a rua corre muito risco de ser atropelado", disse o pedestre.

Ciro Biderman, diretor do FGV Cidades e professor do curso de mestrado e doutorado em administração pública e governo da Fundação Getulio Vargas, explica que no exterior empresas, como a contratada pela prefeitura paulistana, têm poucas horas para realizar a manutenção.

"Parece que não se sabe ao certo quantos equipamentos estão com problemas em tempo real e, por isso, não há como avisar a empresa rapidamente", diz o especialista, favorável à terceirização na manutenção do serviço, desde que a CET continue com a inteligência da operação e que se faça a renovação no parque semafórico da capital.

Questionada, a Ilumina SP afirma que o tempo para reparo varia de acordo com a origem do problema.

Os casos com solução mais rápida, diz, exigem apenas a reinicialização do controlador, com o restabelecimento da comunicação entre o aparelho e a central de controle.

Já os de problemas provocados pelo furto de cabos, justifica, têm o prazo de atendimento adicionado ao tempo de trabalho da equipe no local.

"Esse tipo de ocorrência, que registra quase 20 chamados por dia, é atendida por várias equipes e às vezes consome mais de 12 horas de trabalho para a instalação de nova fiação e reposição das peças danificadas na ação", afirma.

Na época da concessão, Nunes disse que em três anos todos os semáforos da região de rodízio serão trocados por modelos mais inteligentes, capazes de dar mais fluidez ao trânsito.

A Regula SP diz que vencida a primeira etapa, em outubro, foi iniciado o período de operação assistida, de 90 dias, quando a CET passou a acompanhar as atividades da concessionária e auxiliar na construção de fluxos e indicadores, além da orientação técnica para definição das tecnologias que serão empregadas no processo de modernização do parque semafórico.

Após o processo de operação assistida, explica a gestão Nunes, a concessionária assumirá de forma plena a operação de substituição, manutenção e modernização dos semáforos da cidade e prestará contas por meio dos indicadores e índices.

"Ainda neste ano, a Ilumina SP deverá começar a modernizar os equipamentos", afirma o órgão de regulação. "O projeto é integrar os semáforos a uma central. Em três anos, esse sistema deverá ser implantado em toda a zona do rodízio municipal."

A concessionária diz que os problemas serão minimizados à medida que for realizada a troca dos controladores semafóricos. E que nas próximas semanas serão iniciados os testes, em programas piloto, para avaliação dos controladores importados pela empresa.

"A substituição do sistema é uma atividade complexa, que vai impactar no tráfego na cidade pelas próximas décadas."

VANDALISMO

Levantamento da CET sobre as ocorrências de furto e vandalismo ao sistema semafórico da cidade mostra que, no período entre janeiro e setembro de 2022, foram registradas 5.069 ocorrências desse tipo de crime.

"Trata-se de um aumento de quase 40% em relação ao mesmo período de 2021, quando foram contabilizadas 3.686 ocorrências", afirma a companhia. "Também no período de janeiro a setembro, foram reinstalados 309 quilômetros de fiação elétrica nos equipamentos alvo de danos."

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública diz que a Polícia Civil realiza operações constantes em ferros velhos e demais locais de venda de metais para combater os roubos, furtos e receptação de fios.

Segundo a pasta, desde janeiro deste ano, 26 suspeitos foram presos pelo crime e 42.154 quilos de cabos e fios de cobre, apreendidos.

Os casos de furtos de fios e cabos apresentaram queda de 16,8% em setembro, em comparação ao mesmo mês do ano passado, afirma a secretaria. A diminuição, diz, ocorreu com o início da segunda fase da Operação Sinal Verde, em 31 de agosto. "Desde então, a Polícia Militar passou a realizar pontos de estacionamentos nos locais de maior incidência criminal."


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